«Senhoras nos Jogos (Olímpicos)? Nem pensar. Seria algo inestético e indecoroso!» A frase pertence a Pierre de Coubertin, o homem que fez renascer as Olimpíadas na Era Moderna, e que fez lei (olímpica) a ideia de que a participação do sexo feminino nos Jogos era descabida e proibida! «Para elas a graça, as sombrinhas, o lar, o encanto dos filhos,... jamais o desporto. Uma olimpíada feminina não seria prática, nem interessante, nem estética, nem coerente, seria indecorosa!», deixava bem claro o Barão de Coubertin. E se as palavras não chegavam, os atos comprovaram a mentalidade de Pierre em bloquear os caminhos das renascidas Olimpíadas às senhoras, já que logo na primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, realizados em 1896, na cidade de Atenas, uma mulher, de nome Melpomema, apresentou-se na linha partida para a maratona. Uma mulher no meio de homens! Rapidamente, e por ordem do barão, a dita senhora foi escorraçada debaixo de uma chuva de insultos, levando mais tarde Pierre de Coubertin a reforçar a sua ideia de vetar os Jogos Olímpicos ao sexo feminino dizendo que «Nos Jogos as mulheres só têm uma nobre missão: a de coroarem os vencedores com uma grinalda». Mas nem todos - no universo desportivo daqueles longínquos dias - partilhavam dos ideais de Coubertin. Nas Olimpíadas seguintes, em Paris (1900), o barão foi colocado de parte pela organização do certame, isto é, pelo governo francês, a quem o Comité Olímpico Internacional delegou - por incapacidade económica - a tarefa de erguer a segunda edição dos Jogos. Governo esse que fez do evento desportivo um mero e quase despercebido apontamento paralelo à Exposição Universal que naquele ano deu ainda mais brilho à Cidade Luz (Paris). Pois bem, com Pierre de Coubertin fora do controle das operações a organização abriu a porta dos Jogos às senhoras! 21 mulheres entraram assim para a história, para desespero do barão!
Esta é uma pequena sinopse dos primórdios do Olimpismo da Era Moderna, onde o desporto era um espaço permitido frequentar apenas aos homens, graças à sua virilidade e força. Uma regra, ou ideia, que - felizmente - foi sendo destruída a pouco e pouco ao longo dos anos que se seguiram, sendo que em algumas nações mais fechadas à liberdade de expressão física - digamos assim - feminina demorou um pouco mais. Em Portugal, por exemplo, seria preciso esperar cerca de 50 anos - após a primeira participação feminina nas Olimpíadas - para vermos portuguesas a competir no grande palco olímpico. Tal aparição deu-se em 1952, em Helsínquia, cidade que recebeu Dália Cunha, Natália Cunha, e Laura Amorim, as três primeiras deusas olímpicas da história de Portugal.
Elas integraram uma comitiva de 79 atletas que a bordo do navio Serpa Pinto representaram as cores de Portugal nas Olimpíadas de Helsínquia. Eram ginastas de créditos firmados a nível nacional, talhadas para a modalidade desde tenra idade, sobretudo as irmãs Dália e Natália Cunha, cativadas para a prática desportiva pelo progenitor, um desportista fanático que jogava râguebi, praticava natação, fazia atletismo, e ainda tinha tempo para praticar tiro. As manas Cunha - Natália era mais velha que Dália um ano - cresceram e também elas tornaram-se viciadas na prática desportiva. Desde o atletismo, passando pelo tiro, e acabando na ginástica, só para citar algumas modalidades em que competiam, as manas - nascidas em Lisboa - tornaram-se figuras de cartaz do masculino cenário desportivo português daquele tempo. Seria precisamente a ginástica a modalidade que as tornaria imortais, já que a par de Laura Amorim, apresentaram a mulher lusitana ao planeta do desporto internacional. Contudo, na capital finlandesa a concorrência foi feroz, como comprovam as modestas classificações obtidas. Dália, com 23 anos de idade na época, foi a melhor das três damas lusas, ao conquistar um 108º lugar na classificação final. A sua irmã não conseguiu ir além do 133º posto, sendo que Laura Amorim seria 124ª classificada.
Para Dália Cunha a aventura olímpica teria um novo capítulo, oito anos mais tarde, em Roma, onde voltaria a ficar abaixo (foi 109ª) das 100 melhores ginastas do torneio olímpico de 1960.
A par da ginástica as irmãs Cunha colocaram os seus dotes desportivos ao serviço do atletismo, sendo que a meio da década de 40 integraram a equipa feminina de atletismo do Sporting, onde conquistaram diversos títulos regionais e nacionais em diversas variantes.
Dália ainda deu cartas no ciclismo, na patinagem, e nas corridas de automóveis!
Legenda das fotografias:
1-Elenco feminino da comitiva de Portugal na partida para os Jogos Olímpicos de 1952
2-Dália Cunha, que a par da sua irmã, Natália, praticou ginástica no Ginásio Clube Português
3-Equipa de atletismo feminina do Sporting na temporada de 45/46, onde podemos ver as irmãs Cunha em destaque (Da esquerda para a direita Natália é a primeira e Dália é a terceira, enquanto no meio está Hedi de Sá)
Esta é uma pequena sinopse dos primórdios do Olimpismo da Era Moderna, onde o desporto era um espaço permitido frequentar apenas aos homens, graças à sua virilidade e força. Uma regra, ou ideia, que - felizmente - foi sendo destruída a pouco e pouco ao longo dos anos que se seguiram, sendo que em algumas nações mais fechadas à liberdade de expressão física - digamos assim - feminina demorou um pouco mais. Em Portugal, por exemplo, seria preciso esperar cerca de 50 anos - após a primeira participação feminina nas Olimpíadas - para vermos portuguesas a competir no grande palco olímpico. Tal aparição deu-se em 1952, em Helsínquia, cidade que recebeu Dália Cunha, Natália Cunha, e Laura Amorim, as três primeiras deusas olímpicas da história de Portugal.
Elas integraram uma comitiva de 79 atletas que a bordo do navio Serpa Pinto representaram as cores de Portugal nas Olimpíadas de Helsínquia. Eram ginastas de créditos firmados a nível nacional, talhadas para a modalidade desde tenra idade, sobretudo as irmãs Dália e Natália Cunha, cativadas para a prática desportiva pelo progenitor, um desportista fanático que jogava râguebi, praticava natação, fazia atletismo, e ainda tinha tempo para praticar tiro. As manas Cunha - Natália era mais velha que Dália um ano - cresceram e também elas tornaram-se viciadas na prática desportiva. Desde o atletismo, passando pelo tiro, e acabando na ginástica, só para citar algumas modalidades em que competiam, as manas - nascidas em Lisboa - tornaram-se figuras de cartaz do masculino cenário desportivo português daquele tempo. Seria precisamente a ginástica a modalidade que as tornaria imortais, já que a par de Laura Amorim, apresentaram a mulher lusitana ao planeta do desporto internacional. Contudo, na capital finlandesa a concorrência foi feroz, como comprovam as modestas classificações obtidas. Dália, com 23 anos de idade na época, foi a melhor das três damas lusas, ao conquistar um 108º lugar na classificação final. A sua irmã não conseguiu ir além do 133º posto, sendo que Laura Amorim seria 124ª classificada.
Para Dália Cunha a aventura olímpica teria um novo capítulo, oito anos mais tarde, em Roma, onde voltaria a ficar abaixo (foi 109ª) das 100 melhores ginastas do torneio olímpico de 1960.
A par da ginástica as irmãs Cunha colocaram os seus dotes desportivos ao serviço do atletismo, sendo que a meio da década de 40 integraram a equipa feminina de atletismo do Sporting, onde conquistaram diversos títulos regionais e nacionais em diversas variantes.
Dália ainda deu cartas no ciclismo, na patinagem, e nas corridas de automóveis!
Legenda das fotografias:
1-Elenco feminino da comitiva de Portugal na partida para os Jogos Olímpicos de 1952
2-Dália Cunha, que a par da sua irmã, Natália, praticou ginástica no Ginásio Clube Português
3-Equipa de atletismo feminina do Sporting na temporada de 45/46, onde podemos ver as irmãs Cunha em destaque (Da esquerda para a direita Natália é a primeira e Dália é a terceira, enquanto no meio está Hedi de Sá)
Nenhum comentário:
Postar um comentário