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segunda-feira, 14 de abril de 2025

A rainha (Ticha Penicheiro) do basquetebol português subiu (há 20 anos) ao trono da WNBA


2025 marca igualmente o 20.º aniversário de um dos capítulos mais belos do basquetebol nacional, escrito por uma das suas mais virtuosas figuras, neste caso, Ticha Penicheiro. Nascida numa terra onde o basket é encarado com paixão, a Figueira da Foz, Patrícia "Ticha" Nunes Penicheiro foi um elemento preponderante na conquista da competição mais importante planetária do basquetebol feminino por parte da equipa dos Sacramento Monarchs em 2005. Falamos da WNBA (a NBA feminina). Ticha, foi nessa temporada a rainha das assistências da liga norte-americana e foi das mãos dela (num lance livre a 9 segundo do final) que surgiu o ponto decisivo para as Monarchs derrotarem por 62-59 as Connecticut Sun no jogo quatro da final disputada à melhor de cinco partidas e que carimbou o título. Foi a primeira vez que a equipa californiana, um dos oito conjuntos originais da Liga norte-americana desde o seu início em 1997, venceu a maior competição do basquetebol feminino do planeta. No regresso a Portugal após esta conquista, Ticha Penicheiro foi alvo de inúmeras homenagens, destacando-se a medalha de Honra e Mérito Desportivo atribuída pelo Governo português, que lhe foi entregue na sua terra natal pelas mãos do então secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino Dias. Já em 2021, ano em que a WNBA comemorava o seu quarto de século de existência, Ticha foi considerada uma das 25 melhores jogadoras dos 25 anos de história da WNBA (nota: a portuguesa é a única jogadora europeia presente nesta lista), sendo que dois anos antes havia sido integrada no Hall of Fame da competição. Além do título em 2005, a jogadora (nascida a 18 de setembro de 1974) somou vários títulos nacionais na Europa, nomeadamente em França, na Rússia e na Polónia, países onde atuou.

terça-feira, 8 de abril de 2025

Há 20 anos Tiago Monteiro tornava-se no primeiro português a subir ao pódio da Fórmula 1


Considerá-lo o melhor português de todos os tempos pode ser uma opinião muito subjetiva, mas olhar para ele como o luso mais bem-sucedido no circo da Fórmula 1 é um facto inquestionável. A constatação deste mesmo facto deu-se há precisamente 20 anos no decorrer da 47.ª edição do Campeonato do Mundo de Fórmula 1. A temporada de 2005 do Grande Circo ficaria marcada pela estreia do quarto piloto português a competir no patamar mais alto do automobilismo internacional. Depois de Nicha Cabral, de Pedro Matos Chaves e de Pedro Lamy, era agora a vez de Tiago Monteiro guiar um bólide de Fórmula 1. Nascido a 24 de julho de 1976, no Porto, Tiago começou a competir nas quatro rodas ao volante do Porsche Carrera do seu pai, galgando posteriormente degraus na escadaria do automobilismo internacional, ao competir na Fórmula 3000, na Fórmula 3, nas 24 horas de Le Mans, ou na World Series da Nissan. Até que em 2005 chega à Fórmula 1 (F1) pela mão da escudaria Jordan Toyota onde viria a escrever história não só no automobilismo nacional como internacional. Comecemos pela histórica e até hoje inigualável marca nacional. Estávamos a 19 de junho de 2005. Corria-se a 8.ª prova do Mundial de Fórmula 1 desse ano. O mítico circuito de Indianápolis era palco do Grande Prémio dos Estados Unidos da América (EUA) e poucos pensariam que o estreante piloto português pudesse naquele dia entrar na história da modalidade ao pontuar. Nas corridas anteriores, Tiago Monteiro o melhor que tinha conseguido fazer foram dois 10.º lugares, nos grandes prémios do Barém e do Canadá. Porém, uma grande peripécia ensombrou o Grande Prémio (GP) dos EUA e que acabaria por estar na base para o sucesso do piloto português naquele dia. Na altura, havia dois fornecedores de pneus, a Michelin e a Bridgestone, sendo que os da primeira marca não aguentaram a força exercida na sua zona lateral quando passavam pela parte oval do circuito norte-americano. Este problema deu origem a inúmeros acidentes durante as sessões de treinos em todas as equipas que usavam pneus Michelin, nomeadamente a Renault, a BAR Honda, a Williams, a McLaren, a Sauber, a Red Bull e a Toyota. As várias reuniões entre estas escuderias e a referida marca de pneus não deram em nada, e seria a própria Michelin a aconselhar as equipas a não competir no GP por falta de condições de segurança. Conclusão: apenas seis carros – todos eles equipados com pneus Bridgestone – alinharam no GP dos EUA em representação das escudarias Ferrari, Jordan e Minardi. 

O que para muitos foi um verdadeiro escândalo, para outros, como Tiago Monteiro, foi uma oportunidade de ouro para pontuar e quiçá chegar ao último lugar do pódio. Sim, porque na teoria os dois primeiros lugares do pódio dificilmente escapariam aos Ferraris de Michael Schumacher e de Rubens Barrichello. Para além de Tiago Monteiro, esta caricata corrida foi disputada ainda pelo indiano Narain Karthikeyan (colega de equipa do piloto luso), pelo holandês Christian Albers e pelo austríaco Patrick Friesacher, ambos da Minardi. Largando da 17.ª posição, Tiago Monteiro logo se posicionou atrás de Michael Schumacher, com Rubens Barrichello na liderança. Com o decorrer da corrida, o alemão trocou de posição com o seu colega de equipa, acabando por cortar a meta em primeiro, seguido do piloto brasileiro. Tiago Monteiro manteve até final o 3.º posto, o que não só lhe garantiu os primeiros pontos na F1 mas acima de tudo um histórico pódio, algo que nenhum outro português havia conseguido até então. Recorde-se que Pedro Lamy tinha sido o primeiro piloto português a pontuar num GP de F1, o que havia acontecido em 1995, no GP da Austrália, em que foi 6.º classificado. Tiago Monteiro fez mais do que isso, mesmo em circunstâncias bizarras. 

A estrela do português iria brilhar ainda mais nesta temporada, ao tornar-se no melhor piloto estreante de sempre na F1 com três recordes batidos: o facto de ter terminado 18 das 19 corridas realizadas, o facto de se ter tornado no piloto com mais quilómetros percorridos numa só temporada (5521 km), e o facto de ter triplicado o máximo de seis provas consecutivas terminadas por um rockie (estreante). Nessa mesma temporada, Tiago Monteiro iria ainda pontuar em mais uma ocasião, ao concluir o GP da Bélgica no 8.º lugar.

Vídeo: Notícia televisiva do feito de Tiago Monteiro

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Da Nigéria chegou o homem mais rápido da história de Portugal que em 2004 para aqui trouxe a prata olímpica

Foi a defender a sua terra natal (a Nigéria) que com apenas 17 anos viveu a sua primeira experiência olímpica, em 1996, quando em Atlanta se quedou pelas eliminatórias das provas de 200m e 4X100m. Mas seria com as cores do nosso país que em 2004 atingiu a imortalidade olímpica. Francis Obikwelu, um nome que reluz a letras de prata na história do desporto lusitano, e prata porque foi essa a "cor" da medalha que ele conquistou nos Jogos Olímpicos de Atenas, na prova dos 100m, ficando para a história como o homem mais rápido do atletismo português de todos os tempos. Obikwelu nasceu em Onitsha, na Nigéria, em 22 de novembro de 1978, e com 15 anos de idade veio pela primeira vez ao nosso país, a fim de participar no Mundial de juniores, que decorreu em Lisboa. Então, e tal como outros atletas africanos, opta por ficar a viver em Portugal, de forma ilegal, tendo vivido tempos difíceis, chegando mesmo a ter de trabalhar na construção civil no Algarve. É aqui que conhece algumas pessoas que percebendo o seu talento o encaminham para o Belenenses, clube onde evoluiu como atleta, sendo que em 1996 se sagra campeão mundial júnior nos 100 e 200m, além de que vai pela primeira vez, como já vimos, aos Jogos Olímpicos. Um ano mais tarde transfere-se para o Sporting, e vence a medalha de bronze dos 200m nos Mundiais de pista coberta, além de que com as cores da sua Nigéria ganha a medalha de prata dos 4x100m nos Campeonatos do Mundo de Atletismo, que se disputaram em Atenas. Outros títulos e outras medalhas se seguiram nos anos seguintes, até que em 2001 obtém a nacionalidade portuguesa, depois de uma rutura com os responsáveis pelo atletismo nigeriano, pelo facto de Francis se sentir de certa forma abandonado por estes. Um ano antes, em 2000, ajuda o seu clube a vencer a Taça dos Clubes Campeões Europeus de atletismo, ao contribuir com três vitórias (100m, 200m e 4x100m). No novo milénio bate uma série de recordes nacionais de velocidade, com realce para o que obteve em 2004, em Paris, quando correu os 200m em 20,12s. Mas o recorde mais saboroso que iria bater nesse ano seria no maior palco desportivo planetário, os Jogos Olímpicos. Em Atenas, e numa das finais olímpicas mais emocionantes – e mais rápidas, com apenas 4 centésimos de segundo a separar o 1.º do 4.º classificado – da história, Francis conquistou a medalha prata nos 100m, com um tempo de 9,86 segundos, apenas superado pelo norte-americano Justin Gatlin, que fez menos um centésimo (9,85s). Este tempo obtido pelo luso-nigeriano é ainda hoje o recorde da Europa nos 100m – uma das mais prestigiadas provas dos Jogos Olímpicos.  

terça-feira, 30 de julho de 2024

Bronze (inesperado) na casa de partida das Olimpíadas

No berço (Atenas) dos Jogos Olímpicos, Portugal conquistou em 2004 três medalhas. Em termos mais precisos, a delegação lusa presente na capital grega arrecadou duas medalhas de prata (por intermédio de Francis Obikwelu – no atletismo – e de Sérgio Paulinho– no ciclismo) e uma de bronze. É esta última que hoje iremos recordar em breves linhas e que foi conquistada por um dos melhores atletas da sua geração, Rui Silva. Nascido em Santarém a 3 de agosto de 1977, o corredor teve a sua estreia olímpica em Sydney, no ano 2000, onde não foi muito feliz a julgar pelo modesto 13.º e penúltimo lugar na prova dos 1500m em atletismo. Este resultado aquém do esperado não esmoreceu o atleta, que um ano depois se sagrava campeão do Mundo nos 1500m em pista coberta, numa competição realizada em Lisboa. Porém, o azar perseguiu o atleta nos anos seguintes, e antes de Atenas teve uma hérnia inguinal que lhe trouxe muitos problemas na preparação para os Jogos, pelo que o objetivo de uma medalha poderia passar por ser encarado de forma excessivamente otimista. No entanto, Rui Silva partiu para os Jogos de 2004 disposto a fazer um pouco melhor do que em Sydney, e a crença, e acima do tudo, o esforço em atingir essa meta ficaram bem patentes nas primeiras eliminatórias e na meia final dos 1500m, em que o atleta conseguiu gerir da melhor maneira o esforço e a sua condição física e dessa forma atingir a final. E no momento decisivo da prova dos 1500m o português fez uma prova espetacular. Estrategicamente começou a corrida ocupando os últimos lugares. Esperou pela última volta para atacar com toda a sua força, arrancando de forma fulgurante no ataque aos lugares da frente, passando pelo espanhol Reyes Estevez e por vários atletas africanos que à partida eram tidos como favoritos à conquista das medalhas. Da legião africana presente nesta final apenas o queniano Bernard Lagat e o marroquino Hicham El Guerrouj não se deixaram ultrapassar por Rui Silva. Os últimos 400m da corrida foram assombrosos para o luso, que acabaria por cortar a meta em 3.º lugar com um tempo de 3:34.18. O queniano Bernard Lagat terminou em segundo lugar com um registo de 3:34.30, ao passo que a medalha de ouro seria conquistada pelo marroquino El Guerrouj, com a marca de 3:34,19. Mas o foco da nação portuguesa estava, naturalmente, em Rui Silva, que conquistava a medalha de bronze, naquele que foi um dos pontos mais altos da sua laureada carreira, onde figuram, por exemplo, as medalhas de ouro dos 1500m nos campeonatos europeus de pista coberta em 1998 (Valência), 2002 (Viena) e Turim (2009).

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Um salto dourado para a glória olímpica

Um salto de 17,67m em direção à glória olímpica, o mesmo será dizer ao ouro, e que valeu a Nélson Évora um lugar (eterno) no Olimpo dos Deuses do Desporto. Estávamos em 2008, e Pequim recebia os Jogos da XXIX Olimpíada, para os quais a delegação portuguesa partia com algumas aspirações na conquista de medalhas. Uma das principais esperanças recaia em Nélson Évora, que um ano antes nos Mundiais de Osaka sagrou-se campeão do Mundo de triplo salto, com a marca de 17,74m, além de outro 1.º lugar na Taça da Europa desta disciplina do atletismo. Nascido a 20 de abril de 1984, em Abidjan (Costa do Marfim), Nélson Évora era filho de um cabo-verdiano e de uma marfinense, tendo com apenas 5 anos de idade vindo viver para Portugal, para Odivelas, mais em concreto. Em 2002, já com 18 anos, naturalizou-se português. Até Pequim colecionou inúmeros títulos (nacionais e internacionais), estabeleceu recordes, mas o ouro olímpico foi o ponto alto da sua carreira, naquela que foi a sua segunda participação em Jogos Olímpicos. Em 2004 tinha estado em Atenas, e com apenas 20 anos teve uma participação discreta no triplo salto, não tendo ido além do 40.º lugar na classificação final. Atenas serviu de aprendizagem a Nélson, que 4 anos volvidos era já um nome sonante do triplo salto internacional, e foi com esse rótulo que chegou à capital da China. 21 de agosto de 2008 é assim um dia histórico para o desporto nacional. Nélson Évora alcança a final do triplo salto. Entra da melhor forma no concurso, alcançando a marca dos 17,31m, apenas suplantada pelo seu maior concorrente nesta corrida ao ouro, o britânico Phillips Idowu, que saltou 17,51m. O terceiro salto do português foi nulo, e o britânico aproveitou para elevar a fasquia, isto é, melhorar o registo, para os 17,62m. Idowu começou a vibrar no Estádio Olímpico, ao persentir que o ouro estava cada vez mais perto, uma atitude que de certa forma espicaçou Évora, que olhando para a bancada na direção do seu amigo e treinador, João Granço, pareceu dizer que “isto ainda não acabou”. E eis como que a abençoar o quarto ensaio do atleta português, a chuva voltava a cair sobre Pequim nesse dia, um cenário que em jeito de premonição já tinha sido traçado pelo treinador João Granço, que antes de entrar no estádio virou-se para o seu pupilo e disse com convicção: «Hoje está a chover, mas vais ser campeão olímpico». Dito e feito. Nélson Évora projeta o corpo para a marca dos 17,67m, suplantando assim o registo do atleta britânico e passa para a liderança do concurso final de triplo salto. Idowu voltou à pista para tentar recolocar-se na liderança, mas já sem a força anímica com que iniciou a final não consegue ir além dos 17,26m e dos 16,41m nos seus dois últimos ensaios. Significou isto que a medalha de ouro era de Nélson Évora e de Portugal, país que 12 anos depois voltava a conquistar o ouro olímpico, depois de Fernanda Ribeiro o ter arrecadado em Atlanta 96. Curiosamente, tanto Fernanda Ribeiro como Nélson Évora foram os porta-estandarte da deleção portuguesa nos Jogos Olímpicos de 1996 e de 2008, e ambos trouxeram para casa o ouro.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

A prata olímpica conquistada para Portugal pela filha do Velho Lau

“Filho de peixe sabe nadar”, uma expressão popular que pode ser aplicada nesta memória olímpica, que alude à conquista da medalha de prata no triatlo por parte de Vanessa Fernandes, filha de um grande campeão das duas rodas (vulgo, ciclismo), de seu nome Venceslau Fernandes. Nascida a 14 de setembro de 1985, em Vila Nova de Gaia, a filha do Velho Lau – como era conhecido este ciclista luso dos anos 70 e 80 –  viveu o seu momento de glória enquanto triatleta nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, quando trouxe para Portugal uma medalha de prata. Puxando um pouco a fita atrás, é de recordar Vanessa Fernandes iniciou a prática de natação aos 6 anos de idade, sendo que aos 13 inicia a prática de atletismo no FC Porto, ao passo que um ano depois junta a estas duas modalidades o ciclismo e dá início ao seu trajeto de glória no triatlo (modalidade que agrega natação, ciclismo e atletismo). A primeira grande conquista acontece já no novo milénio, em 2001, quando se sagra vice-campeã da Europa de juniores em duatlo (atletismo e ciclismo), para no ano seguinte arrecadar duas medalhas de bronze nos Europeus de juniores de duatlo e de triatlo. O nome de Vanessa Fernandes começou a ser falado de forma mais regular nos quatro cantos do país, e não só, em 2003, altura em que é campeã da Europa de juniores de triatlo. Passa de promessa a certeza da modalidade. Em 2004, vence novamente o Campeonato da Europa de triatlo, desta feita na categoria Elite, numa prova realizada em Valência; e no escalão de sub-23, em competição realizada na Hungria. É neste ano de 2004 que tem a sua primeira aparição olímpica, nos Jogos de Atenas, onde alcança um 8.º lugar na prova de triatlo. Até aos Jogos seguintes, dali a quatro anos em Pequim, soma inúmeras vitórias nacionais e internacionais (com destaque para uma série de 12 vitórias consecutivas em etapas da Taça do Mundo de triatlo), sendo por esta altura considerada a melhor atleta do circuito mundial da modalidade. Em 2007 é campeã mundial de triatlo (em Hamburgo) e de duatlo (em Gyor). É, pois, com um elevado estatuto que chega a Pequim, em 2008, para a sua segunda Olimpíada, partindo como uma das principais favoritas à conquista do ouro olímpico. A prova feminina de triatlo realizou-se numa manhã escaldante, numa localidade situada a 30 km de Pequim. Vanessa usava o dorsal número 54, e de pronto atira-se à água com uma vontade férrea de conquistar uma medalha para Portugal. Na prova de natação, que teve um percurso de 1,5 km, a portuguesa teve um forte arranque, colando-se de pronto ao grupo da frente. Termina este primeiro teste na 11.ª posição, e de pronto pega na bicicleta para dar início à prova de ciclismo, que tinha um percurso de 40 km. Tal como na natação, o arranque de Vanessa Fernandes foi forte, chegando mesmo a estar na liderança da corrida, fazendo a transição para a prova de atletismo no 9.º lugar da classificação geral. Na corrida de 10 km, a portuguesa correu a um ritmo alto, atacando as atletas que seguiam à sua frente, e com passada largas começou a distanciar-se de “uma atrás de outra”. Com a meta à vista, Vanessa Fernandes ganhou uma energia renovada e chegou ao fim no 2.º lugar, com o tempo de 1h59m34s, sendo apenas superada pela australiana Emma Snowsill, a campeão olímpica, com um registo de 1h58m27s. Cansada, mas feliz, era assim que a vice-campeã olímpica - e por consequência medalha de prata - Vanessa Fernandes se apresentou no pódio, sublinhando à comunicação social que tinha mostrado (um pouco) aquilo que valia. «O pódio era o meu objetivo, mas sei que valho mais do que fiz nesta prova. Sei que foi um feito grande», disse. E foi, de facto, como mais tarde comprovou a sua chegada a Portugal, em que na companhia do seu pai foi recebida em apoteose por milhares de portugueses no Aeroporto de Lisboa. 

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Primeira medalha olímpica do judo nacional festejada com uns passinhos de dança

No preciso dia em que arranca mais uma edição daquele que é tido como o maior evento desportivo do Mundo, os Jogos Olímpicos, o nosso Museu vai continuar a recordar os momentos de glória dos atletas lusos no palco olímpico. E hoje viajamos até Sydney, que em 2000 acolheu a XXVII Olimpíada. Portugal guarda boas memórias de Sydney, já que dali trouxe duas medalhas, uma no atletismo, por intermédio de Fernanda Ribeiro, e outra no judo, pela mão de Nuno Delgado. Ambas de bronze. É da de judo que hoje vamos falar. Em 2000 pela primeira vez o judo português subia a um pódio olímpico. Nuno Delgado (nascido em Lisboa, a 27 de agosto de 1976) foi o herói nacional ao vencer a medalha de bronze na categoria de -81kg depois de ter derrotado o uruguaio Álvaro Paseyro por "ippon". Para sempre na memória ficam os festejos do luso, com pulos e passos de dança a sua medalha, naquela que foi a sua estreia nos Jogos Olímpicos. O judoca que então representava o Sport Algés e Dafundo, com 24 anos, venceu quatro combates consecutivos, mas perdeu na meia final com o sul-coreano In-chu Cho por decisão do júri. Nuno Delgado iniciou a sua caminhada de glória com um triunfo sobre o monegasco Vatricant ("ippon" em 28s) e continuou com vitórias perante o italiano Lepre (decisão unânime dos juízes), o australiano Kelly ("ippon" em 3m19s) e o iraniano Sarikhani ("ippon" em 4m32s). Nas meias-finais, a derrota (por "yuko") frente ao coreano Choi afastou-o das medalhas de ouro e de prata, mas o bronze acabou por ser garantido com o triunfo sobre o uruguaio Paseyro ("ippon" em 3m56s). Nuno dedicou o seu triunfo ao judo nacional, explicando que a estratégia de ataque contínuo no combate para o bronze foi planeada antes de entrar no tapete e assumiu com desportivismo a derrota na meia-final: «O coreano já me tinha batido nos Mundiais, por isso estava ansioso por voltar a encontrá-lo. Só que ele esteve melhor e foi taticamente muito bom, tenho de lhe dar os parabéns. Eu vim aqui para ganhar os combates todos, mas há que assentar os pés no chão e aceitar que houve um adversário que me bateu e foi justo». Dos seis judocas portugueses presentes em Sydney, Nuno Delgado foi o único estreante nos Jogos Olímpicos, mas na bagagem levava para a Austrália o título de campeão europeu, conquistado no ano anterior. No pós Sydney foi ainda vice-campeão europeu em 2003, sendo que em 2004 ele foi o atleta escolhido como porta-estandarte da delegação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Atenas. Vinte anos mais tarde, e ainda sobre a mítica medalha olímpica conquistada em Sydney, Nuno Delgado disse que aquelas foram "emoções fortes, momentos de satisfação. De alguma maneira, sinto uma enorme satisfação por ter contribuído para o caminho que a modalidade trilhou, pois evoluiu e cresceu, ganhou muitas medalhas nas grandes competições. É um prazer e orgulho fazer parte dessa história».


Vídeo: Reportagem da RTP que mostra o momento de glória olímpica de Nuno Delgado

quinta-feira, 8 de julho de 2021

No berço das Olimpíadas Sérgio Paulinho sprintou para a prata

Foi em Atenas que em 1896 se escreveu o primeiro capítulo da história dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Mais de um século depois a capital grega foi novamente escolhida para sediar aquele que é indiscutivelmente um dos maiores acontecimentos do globo. Olimpíadas estas de boa memória para o desporto português já que um pouco contra os prognósticos o herói que iremos recordar nas próximas linhas conquistou mais uma medalha para o nosso medalheiro olímpico. Estávamos a 14 de agosto de 2004, apenas o segundo dia da XXVIII Olimpíada, e nas ruas de Atenas arrancava a prova de estrada em ciclismo. A equipa portuguesa, selecionada por José Poeira, era composta por quatro ciclistas, nomeadamente Cândido Barbosa, Nuno Ribeiro, Gonçalo Amorim e Sérgio Paulinho. Para tentar chegar a uma medalha o quarteto luso tinha pela frente um duro obstáculo 17 voltas ao circuito de 13,2 quilómetros desenhado no centro de Atenas, num total de 224 quilómetros. O dia era de muito calor, e o ciclista português em que estavam depositadas as maiores esperanças para atingir um bom resultado acaba por desistir. Pois é, Cândido Barbosa, conhecido como o "Foguete de Rebordosa", cedeu ao desgaste e acabou por sucumbir. Mas a grande surpresa acabaria por chegar por intermédio de um dos improváveis (candidatos a um bom resultado) atletas da seleção lusitana, Sérgio Paulinho, de apenas 24 anos, que no seu ainda curto currículo carregava a coroa de ser o então atual campeão nacional de contra-relógio e contar igualmente com um par de vitórias na Volta a Portugal. Ninguém esperava que o então inexperiente ciclista pudesse chegar tão longe como chegou naquela tórrida tarde de 4 de agosto. A três voltas do fim da corrida Paulinho - que defendia na época as cores LA Alumínios - começa a mostrar-se, ao chegar-se à frente para fazer companhia ao italiano Paolo Bettini, duas vezes campeão do mundo. Com os favoritos espanhóis já fora da discussão pelas medalhas, as duas últimas voltas foram decisivas. 15 anos mais tarde, numa entrevista ao Observador, Sérgio Paulinho lembra-se das últimas duas voltas, «que foram muito rápidas. Só eu consegui seguir o ataque do Bettini, e depois aguentei-me». Na roda do italiano, o português lembrou ainda que a chegar à meta «já vinha com cãibras, mas ainda assim tentei surpreender aquele que era o melhor do mundo em corridas de um dia. Era difícil batê-lo, mas a esperança era sempre a última a morrer». A poucos metros da meta Bettini sprintou para a medalha de ouro, para apenas um segundo depois Sérgio Paulinho cortar a meta e ser premiado com a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, a primeira para o ciclismo português em Olimpíadas. Paulinho terminou a prova com o tempo de 5h41m45s. No terceiro lugar ficou o belga Axel Merckx, filho do mítico ciclista Eddy Merckx. Para sempre ficará na memória de todos o momento em que Sérgio Paulinho se baixou para receber a medalha de prata e depois recebeu a coroa de folhas de oliveira, histórica manifestação grega para condecorar os vencedores das diversas provas nos primeiros Jogos.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Portugal "nada entre (alguns) (d)os tubarões" do pólo aquático europeu

Mais de meio século depois de ter vivido o seu momento de glória no plano internacional - com a presença nos Jogos Olímpicos de 1952, em Helsínquia, facto este já aqui recordado numa anterior visita ao passado - o pólo aquático português voltou já no novo milénio a figurar no cartaz oficial de uma competição de alto gabarito além fronteiras. Facto ocorrido em meados de 2004, altura em que a seleção portuguesa de seniores masculinos marcou presença em Istambul (Turquia) para participar no Campeonato da Europa "B" de pólo aquático, uma espécie de segundo escalão, a nível europeu, desta modalidade.

Pela razão de que esta foi a primeira presença lusa numa prova deste calibre a própria qualificação para a mesma constituiu desde logo uma das páginas mais brilhantes escritas pelo selecionado principal no nosso país. Fase de qualificação essa que decorreu curiosamente em solo português, mais concretamente em Rio Maior, sendo que ao lado de Portugal apareciam os combinados da Suíça, Moldávia, e República da Irlanda na luta por um dos três mágicos lugares que garantiam o passaporte para a Turquia.

Teoricamente a luta - renhida - pelo terceiro e último lugar de apuramento iria ser protagonizada por portugueses e irlandeses, até porque os moldavos eram claramente de outro campeonato - muito superior -, e assim sendo praticamente insuperáveis, ao passo que os suíços surgiam no patamar imediatamente abaixo do conjunto de leste, pelo que o segundo lugar não lhes deveria fugir. Com toda este panorama o Portugal - República da Irlanda da jornada inaugural da fase de qualificação assumia contornos de uma autêntica final. E assim foi.

Orientados tecnicamente por um dos nomes mais sonantes da história do pólo aquático português, Nuno Lobo, Portugal entrou na competição com um misto de convicção e de... nervosismo. O salgueirista Rui Moreira, um dos melhores intérpretes da modalidade da história, em termos nacionais, claro está, falhou logo nos minutos iniciais uma grande penalidade, aumentando assim os nervos entre o selecionado luso. A partida arrastava-se de uma forma equilibrada, de vencedor incerto, até ao momento em que apareceu o inspirado Hugo Florêncio - jogador do Amadora -, que com dois golos num curto espaço de tempo colocou Portugal em vantagem no marcador, vantagem essa que seria segurada até final, com muita garra, há que dizê-lo. 7-4, histórico resultado final, que praticamente colocava os portugueses no Europeu, até porque era impensável que a frágil Irlanda levasse de vencida quer a Suíça, quer a Moldávia.

Nas 2ª e 3ª jornadas desta fase a teoria confirmou a prática, ou seja, Portugal perdeu ante a Moldávia (2-5) e a Suíça (11-14), últimas duas seleções estas que derrotariam igualmente sem grandes dificuldades a República da Irlanda, e assim sendo a seleção nacional lusa fazia história, a fase final do Campeonato da Europa "B" era uma realidade.

Para a história ficam aqui os nomes dos conquistadores de um feito que na altura passou... completamente despercebido à nação lusitana! Nuno Lobo (selecionador nacional), Nuno Paz (Diretor Técnico), Tiago Costa, Rui Nuno (ambos guarda-redes), Ricardo Vieira, Gonçalo Abrunhosa, Jorge Coelho, Jaime Milheiro, Rui Coelho, Hugo Florêncio, António Grácio, Gilberto Lobo, Rui Moreira, Paulo Russo, Nuno Portela, e Carlos Azevedo.

Inexperiência ditou leis

Entre 3 a 11 de setembro Istambul recebeu então a fase final do certame continental, que pela primeira vez contava com Portugal. País que olha o pólo aquático de uma maneira algo... desinteressada, há que dizê-lo, e como tal há que sublinhar que o feito deste grupo de entusiastas praticantes da modalidade foi verdadeiramente heróico!

Claramente num nível - muito - abaixo de seleções como a França, Bielorrússia, Ucrânia, ou Moldávia, a seleção lusa - cujos atletas eram semi-profissionais - partia para Istambul com a intenção de aprender algo com jogadores de outro nível, jogadores profissionais que vivem e respiram o pólo aquático diariamente, e não como os lusitanos que se apresentavam nesta fase final com quase nenhumas sessões/estágios de preparação (!), face à sua condição de atletas não profissionais.

Portugal foi integrado no Grupo B do torneio, juntamente com Dinamarca, Malta, Polónia, Israel, e a turma da casa, a Turquia. No primeiro encontro, ante os polacos, logo se percebeu que os portugueses iriam ter muitas dificuldades para escapar ao último lugar da competição, conforme traduz a pesada goleada de 1-12 imposta pelo conjunto de leste. Rui Coelho apontou o tento de honra lusitano.
Na ronda seguinte foi a vez da forte seleção de Malta provar a inexperiência portuguesa nestas andanças, ao vencer os selecionados de Nuno Lobo por concludentes 14-4. Portugueses que acusavam nervosismo face a atletas experientes e bem treinados, e Dinamarca e Israel também não sentiram - grandes - dificuldades em vencer a armada lusa. Ante a seleção da casa Portugal deu finalmente um ar de sua graça, e mesmo perdendo a contenda por expressivos 4-12 mostrou qualidade, mostrando que a sua presença entre alguns dos tubarões do pólo aquático europeu não havia sido mera obra do acaso.

Na fase cruzada entre os grupos A e B, para apurar a classificação final, Portugal lutava para fugir ao último lugar. Uma luta onde a sorte abandonou a equipa nacional, em especial no jogo ante a Bélgica, com quem os portugueses empatavam a quatro golos a poucos minutos do final, dispondo de uma oportunidade flagrante para passar para a frente do marcador, mas... mais uma vez o nervosismo e inexperiência ditaram leis, e os belgas acabariam por vencer por 7-4. O derradeiro jogo foi com a Suíça, e uma derrota vendida de forma muito cara por uns curtos 4-5 ditou que Portugal terminasse esta aventura no último lugar de uma competição que seria ganha pela poderosa França.

No entanto esta foi uma experiência memorável para nomes como Nuno Lobo (selecionador), Jorge Martins (treinador), Nuno Paz (Diretor Técnico), Rui Nuno, Tiago Costa, Paulo Russo, Jorge Coelho, Nuno Portela, Rui Moreira, Rui Coelho, Jaime Milheiro, Hugo Florêncio, Ricardo Vieira, Gonçalo Abrunhosa, Carlos Azevedo, e Gilberto Lobo.

Legenda das fotografias:
1-O histórico selecionado português que em Rio Maior conquistou a qualificação para o Europeu "B"
2-Nuno Lobo, histórico jogador/treinador que comandou os lusitanos nesta aventura