quinta-feira, 25 de julho de 2024
Um salto dourado para a glória olímpica
Um
salto de 17,67m em direção à glória olímpica, o mesmo será dizer ao ouro, e que
valeu a Nélson Évora um lugar (eterno) no Olimpo dos Deuses do Desporto.
Estávamos em 2008, e Pequim recebia os Jogos da XXIX Olimpíada, para os quais a
delegação portuguesa partia com algumas aspirações na conquista de medalhas.
Uma das principais esperanças recaia em Nélson Évora, que um ano antes nos Mundiais
de Osaka sagrou-se campeão do Mundo de triplo salto, com a marca de 17,74m,
além de outro 1.º lugar na Taça da Europa desta disciplina do atletismo.
Nascido a 20 de abril de 1984, em Abidjan (Costa do Marfim), Nélson Évora era
filho de um cabo-verdiano e de uma marfinense, tendo com apenas 5 anos de idade
vindo viver para Portugal, para Odivelas, mais em concreto. Em 2002, já
com 18 anos, naturalizou-se português. Até Pequim colecionou inúmeros títulos
(nacionais e internacionais), estabeleceu recordes, mas o ouro olímpico foi o
ponto alto da sua carreira, naquela que foi a sua segunda participação em Jogos
Olímpicos. Em 2004 tinha estado em Atenas, e com apenas 20 anos teve uma
participação discreta no triplo salto, não tendo ido além do 40.º lugar na
classificação final. Atenas serviu de aprendizagem a Nélson, que 4 anos
volvidos era já um nome sonante do triplo salto internacional, e foi com esse
rótulo que chegou à capital da China. 21 de agosto de 2008 é assim um dia
histórico para o desporto nacional. Nélson Évora alcança a final do triplo
salto. Entra da melhor forma no concurso, alcançando a marca dos 17,31m, apenas
suplantada pelo seu maior concorrente nesta corrida ao ouro, o britânico
Phillips Idowu, que saltou 17,51m. O terceiro salto do português foi nulo, e o
britânico aproveitou para elevar a fasquia, isto é, melhorar o registo, para os
17,62m. Idowu começou a vibrar no Estádio Olímpico, ao persentir que o ouro
estava cada vez mais perto, uma atitude que de certa forma espicaçou Évora, que
olhando para a bancada na direção do seu amigo e treinador, João Granço, pareceu
dizer que “isto ainda não acabou”. E eis como que a abençoar o quarto ensaio do
atleta português, a chuva voltava a cair sobre Pequim nesse dia, um cenário que
em jeito de premonição já tinha sido traçado pelo treinador João Granço, que
antes de entrar no estádio virou-se para o seu pupilo e disse com convicção:
«Hoje está a chover, mas vais ser campeão olímpico». Dito e feito. Nélson Évora
projeta o corpo para a marca dos 17,67m, suplantando assim o registo do atleta
britânico e passa para a liderança do concurso final de triplo salto. Idowu voltou à pista
para tentar recolocar-se na liderança, mas já sem a força anímica com que iniciou
a final não consegue ir além dos 17,26m e dos 16,41m nos seus dois últimos
ensaios. Significou isto que a medalha de ouro era de Nélson Évora e de
Portugal, país que 12 anos depois voltava a conquistar o ouro olímpico, depois
de Fernanda Ribeiro o ter arrecadado em Atlanta 96. Curiosamente, tanto
Fernanda Ribeiro como Nélson Évora foram os porta-estandarte da deleção
portuguesa nos Jogos Olímpicos de 1996 e de 2008, e ambos trouxeram para casa o ouro.
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