EUSÉBIO (Futebol): Ele foi
o primeiro imortal do futebol português. O seu nome é Eusébio da
Silva Ferreira: O Pantera Negra.
Nascido
a 25 de janeiro de 1942 num pobre bairro de Moçambique (na altura uma colónia
portuguesa), mais concretamente em Mafalala, nos arredores da capital Lourenço
Marques (hoje Maputo), Eusébio cedo começou a dar nas vistas na arte de bem
manejar o esférico. Os seus dribles, rápidos e ziguezagueantes, aliados ao seu
poderoso pontapé, desde logo cativaram os amantes do futebol local. Foi ao
serviço do Sporting de Lourenço Marques (na altura filial do Sporting Clube de
Portugal) que Eusébio começou a espalhar o perfume do seu futebol pelos campos
moçambicanos, não sendo de estranhar que começasse a “aguçar o apetite feroz”
dos olheiros dos dois principais clubes da Lisboa. De tal maneira disputado que
se pode mesmo dizer que desencadeou uma “autêntica guerra” entre os dois clubes
lisboetas, que deram tudo por tudo para ter esta pérola africana nas suas
“vitrinas”. Viria a ser o Benfica a vencer esta “guerra” pela disputa do jovem
Eusébio, que depois de se ter comprometido com o emblema da águia teve de viajar
para Lisboa disfarçado sob o nome falso de Ruth para que os dirigentes leoninos
não o descobrissem. Sporting que ainda hoje afirma a pés juntos que Eusébio foi
raptado pelo Benfica, estória esta que o próprio moçambicano trata de
desmentir, dizendo que a sua primeira e única preferência foi sempre o Benfica.
O princípio da aventura
Inscrito
pelo clube da Luz na Federação Portuguesa de Futebol, Eusébio era então
oficialmente jogador do Benfica, e em 23 de maio de 1961 o jovem prodígio fez a
sua estreia oficial com a camisola encarnada num jogo pela equipa de reservas
benfiquistas contra o Atlético. No entanto, cinco dias mais tarde o treinador
encarnado de então, o húngaro Béla Guttmann, oferece a Eusébio a possibilidade
de se sagrar campeão nacional pela primeira vez na sua carreira, dando-lhe
alguns minutos no jogo da consagração do título benfiquista da época 60/61
diante do Belenenses, tendo o clube da Luz vencido por 4-1, e logo com um golo
de Eusébio. O moçambicano contava então com 17 anos de idade.
A estrela Eusébio ofusca a estrela Pelé
Era o
início da grande epopeia de Eusébio ao serviço do Benfica. Ainda no final dessa
época o Benfica (que meses antes se havia sagrado pela primeira vez Campeão
Europeu de Clubes, depois de bater em Berna o Barcelona por 3-2) é convidado a
participar no famoso Torneio Internacional de Paris, que contava ainda com a
participação do Racing de Paris (o clube organizador), dos belgas do
Anderlecht, e da maior e melhor equipa de futebol do planeta daquela altura, o
mítico clube brasileiro Santos, onde atuava outra lenda do futebol mundial, de
seu nome Pelé. Depois de afastar o Anderlecht nas meias-finais o Benfica iria
defrontar na final do Torneio de Paris precisamente o Santos de Pelé. Uma
partida onde o Benfica chegou a estar a perder por 0-5, mas aos 30 minutos da
2ª parte Eusébio entrou no relvado do Parque dos Príncipes para substituir o
seu colega de equipa Santana, e eis que em apenas 15 minutos o jovem
moçambicano faz verdadeira magia ao apontar nada mais nada menos do que três
golos. Apesar da derrota por 3-5, o grande destaque daquela final acabaria por
ser Eusébio, que ofuscou nesse jogo a maior das estrelas em campo, Pelé. Nascia
assim um novo mito do futebol, Eusébio havia tido uma estreia em grande na alta
roda do futebol internacional.
Eusébio na alta roda europeia
Na
temporada seguinte o jovem benfiquista continuou a brilhar a grande altura,
tendo sido um dos grandes esteios na segunda conquista por parte dos
benfiquistas da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Na final desta competição,
Eusébio voltou a ser a grande estrela, ofuscando outro mito da bola da altura,
Alfredo Di Stéfano, que defendia as cores do rival do Benfica nessa final, o
colosso Real Madrid. O que é certo é que Eusébio marcou os dois golos da
vitória por 5-3 sobre os campeões de Espanha, conquistando desta forma o seu
único título europeu de clubes. Ainda nesse mesmo ano Eusébio estreou-se pela
Selecção Nacional num jogo de má memória para a “turma das quinas”. Um jogo no
Luxemburgo, onde Portugal perdeu por 2-4, uma das mais vergonhosas derrotas na
história da Selecção, mas onde Eusébio apontou um dos golos de Portugal, o seu
primeiro com as quinas ao peito. Ainda em 61/62 o moçambicano pisou pela
primeira vez na sua carreira um relvado onde brilharia a grande altura inúmeras
vezes, o mítico relvado de Wembley. Foi num jogo entre Inglaterra e Portugal,
com a vitória a pertencer à equipa da casa por 2-0, mas com uma magnífica
exibição de Eusébio. Exibição esta que lhe valeria a alcunha dada pelos
ingleses de Pantera Negra, nome este que pegou desde logo de estaca e pelo qual
ainda hoje Eusébio é conhecido. Nos anos seguintes a Pantera Negra continuou a
ser uma peça preponderante no sucesso do Benfica, quer a nível nacional, quer a
nível internacional, tendo atingido por mais duas vezes a final da mais
importante competição europeia, primeiro em 1963, ante o Milan, em Wembley
(derrota por 1-2), e em 1965 diante do Inter de Milão, em San Ciro (derrota por
0-1).
A grande estrela do Mundial 66
Mas
seria outra vez a Inglaterra a ver a estrela Eusébio a brilhar. Por esta altura
Eusébio era também muitas vezes chamado a integrar as seleções de futebol da
Europa e do Resto do Mundo, atuando ao lado dos melhores craques de então, uma
prova clara de que também ele já era um craque.
Corria
o ano de 1966 e as terras de Sua Majestade acolhiam pela primeira, e única, vez
na sua história a fase final do Campeonato do Mundo, prova esta para à qual
pela primeira vez também na sua história Portugal se havia qualificado. Seleção
Nacional que possuía uma equipa fabulosa, composta por grandes nomes, como por
exemplo Coluna, José Augusto, Simões, José Torres, Hilário, Germano, José
Pereira, Vicente, Jaime Graça, Morais, e claro, a estrela maior Eusébio.
Portugal ficou agrupado no Grupo 3 da 1ª fase, juntamente com a Bulgária,
Hungria, e o campeão do Mundo em título e grande favorito à vitória final, o
Brasil. No primeiro jogo ante a Hungria os portugueses fazem uma grande
exibição, colmatada com uma grande vitória por 3-1.
O
cliente seguinte, a Bulgária, foi igualmente despachada com a “chapa 3”, 3-0
foi o resultado de mais uma grande exibição dos “Magriços”, como ficou
conhecida a equipa das quinas de 1966, um jogo onde Eusébio marcou o seu
primeiro golo desse Mundial 66. O último jogo da 1ª fase do grupo 3 opôs
Portugal ao Brasil, e pôde-se então assistir a mais uma grande exibição de
Portugal, que humilhou por completo os bi-campeões do Mundo, vencendo-os por
3-1. Grande responsável por este resultado foi Eusébio, que para além dos dois
golos que apontou, fez uma exibição do “outro mundo”, como se costuma dizer,
ofuscando, mais uma vez, a grande estrela Pelé, que saia desse Mundial vergado
pela raça lusitana. Nos quartos-de-final Portugal defrontou a Coreia do Norte,
outra das grandes surpresas do Mundial 66 pelo facto de ter mandado para casa a
poderosa Itália. Coreia que demonstrou e bem o porquê de ter eliminado a
Itália, já que poucos minutos depois do árbitro ter apitado para o início do
encontro vencia Portugal por 3-0. Só um homem foi capaz de dar a impossível e
inacreditável volta a esse resultado, e adivinhem quem? Esse mesmo, Eusébio.
Apontou quatro, ouviram bem, quatro golos que ajudaram Portugal a vencer os
pequenos e bravos coreanos por 5-3, naquele que ainda hoje é tido como um dos
mais belos jogos de sempre da história dos Campeonatos do Mundo. Nas
meias-finais Portugal defrontou a equipa da casa, a Inglaterra, para quem viria
a perder, por 1-2, a presença na final da prova, com Eusébio a apontar o tento
de honra da turma das quinas e a deixar o relvado de Wembley lavado em
lágrimas, uma imagem que ainda hoje corre o Mundo. Para o jogo dos 3º e 4º
lugares com a antiga União Soviética, Eusébio apontou um golo que ajudou
Portugal a conquistar o 3º lugar do Mundial 1966. Pese embora a Seleção
Nacional não tenha ganho a competição, Eusébio foi eleito o melhor jogador da
mesma, tendo ainda vencido o título de melhor marcador, fruto dos nove golos
que apontou.
Os anos que se seguiram
Nos
anos seguintes Eusébio voltou a ganhar inúmeros títulos ao serviço do seu
Benfica, na sua totalidade títulos nacionais (repartidos por Campeonatos
Nacionais e Taças de Portugal). A nível internacional o máximo que conseguiu
foi levar o Benfica a mais final da Taça dos Campeões Europeus, em 1968, desta
feita ante o Manchester United, em Wembley. Mais uma vez o relvado de Wembley,
que tantas vezes teve o privilégio de ser pisado por Eusébio, não trouxe sorte
ao Pantera Negra. Visto que o Benfica perdeu a final por 1-4. Em 1975 deixou o
Benfica, com 727 golos em 715 jogos. É obra!!!. Jogou ainda nos Estados Unidos
da América ao serviço do Rhode Island Oceaneers, do Boston Minuttem (clube pelo
qual conquistou um Campeonato Norte-Americano), Las Vegas Quicksilver, New
Jersey Americans, no Canadá pelos Toronto Metros Croatia, e no México ao
serviço do Monterrey (por quem venceu um campeonato mexicano). Em Portugal
jogou ainda pelo Beira-Mar e pelo União de Tomar, mas já sem o fulgor de outros
tempos, já na fase descendente da sua gloriosa carreira. Foi sem dúvida alguma
o maior jogador de todos os tempos do Benfica e de Portugal, tendo o clube da
Luz erguido uma estatua sua em frente ao seu estádio. Massacrado pelos
adversários, Eusébio foi por seis vezes operado ao joelho esquerdo e uma ao
direito, tendo perdido a conta às infiltrações sofridas para jogar e ajudar o
seu Benfica.
Currículo impressionante
Alvo de
diversas homenagens e condecorações, Eusébio conta no seu palmarés com 11
Campeonatos Nacionais (1961, 1963, 1964, 1965, 1967, 1968, 1969, 1971, 1972,
1973 e 1875), 4 Taças de Portugal (1962, 1964, 1969 e 1975), 1 Taça dos Clubes
Campeões Europeus (1962), 1 Campeonato dos Estados Unidos da América (1976), 1
Campeonato do México (1976) e uma Medalha de Bronze de um Campeonato do Mundo
(1966).
A nível
individual foram igualmente inúmeros os prémios conquistados, mais
concretamente, 7 Bolas de Prata pelo facto de ter sido o melhor marcador do
Campeonato Português (1964/28 golos; 1965/28 golos; 1966/25 golos; 1967/31
golos; 1968/43 golos; 1970/20 golos; e 1973/40 golos. Venceu ainda a Bota de
Ouro (prémio para o melhor marcador de todos os campeonatos europeus) por duas
vezes (1968 e 1973). Mas o maior prémio individual que o Pantera Negra venceu
foi em 1965, ano em que lhe foi atribuída a Bola de Ouro, pelo facto de ter
sido considerado o melhor jogador da Europa nesse ano. Pela Seleção Nacional
actuou por 64 vezes tendo apontado 41 golos, um recorde que durou anos e anos e
só há bem pouco tempo foi batido por Pauleta. “Menino de Ouro” para Béla
Guttmann, o seu primeiro treinador, “Património de Estado” para Salazar, que
impediu a sua transferência para a Juventus, ou simplesmente Rei para os
amantes da bola, Eusébio recebeu da FIFA a nomeação para ser um dos 10 maiores
jogadores da história do futebol do Século XX. Hoje é ainda o grande Embaixador
do Benfica e de Portugal no estrangeiro. Senhoras e senhores, Eusébio da Silva
Ferreira, simplesmente o Rei do Futebol Português e uma das maiores lendas do
futebol planetário.
Eusébio
faleceu a 5 de janeiro de 2014.
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