Assinalou-se
em 2013 o centenário da conquista do primeiro título oficial da popular
Associação Académica de Coimbra. Um triunfo alcançado naquela que ainda hoje é
tida como a primeira grande competição jogada a norte do (rio) Mondego. A Taça
Monteiro da Costa, ou na voz de muitos, o primeiro Campeonato do Norte. Mas
antes de recordarmos a façanha dos estudantes no longínquo ano de 1913
tornar-se-á impiedoso conhecer o início da história de uma prova cuja grande
maioria dos seus capítulos se escreveu em tons de azul e branco. Precisamente
as cores do FC Porto, o clube refundado em 1906 pelo homem que esteve na génese
desta competição, José Monteiro da Costa, o seu nome.
Horticultor,
tal como o seu pai, e membro da União de Jardineiros do Porto, José Monteiro da
Costa deixara-se enfeitiçar pelo football
em Inglaterra, para onde fora estudar - tal e qual outros tantos jovens
portugueses, filhos de famílias aristocráticas que enquanto estudantes travaram
conhecimento com o belo jogo nascido
na Velha Albion. Viajando por outros países da Europa - França, ou Espanha -
aprimorou o gosto - e o entendimento pelas regras - da modalidade, e na hora de
regressar a casa partilhou com os seus velhos amigos que noutros pontos do Velho Continente havia descoberto o...
futuro, futuro esse que se chamava football.
Estes, empolgados com as histórias do amigo viajante, não tiveram dúvidas em
segui-lo na ideia de criar um grupo que se dedicasse ao pontapé na bola. Não
muito tempo depois funda-se o Grupo do Destino, composto por liberais,
repúblicanos, foliões, cujo amor comum chamava-se agora football.
Vasculhando
a curta história futebolística da sua cidade - que além do Grupo do Destino era
interpretada apenas pelos grupos ingleses do Oporto Cricket e do Boavista
Footballers - Monteiro da Costa descobre que em finais do então recém
desaparecido século XIX houvera na Mui Nobre Invicta um outro clube, chamado
Football Club do Porto.
Sem
perder tempo, põe pés a caminho para procurar o mentor desse então extinto
clube. António Nicolau de Almeida assim se chamava, afamado comerciante de
vinhos, que em 1893 havia fundado o citado emblema tripeiro. Nicolau de Almeida
que três anos mais tarde casar-se-ia, e a esposa assustada com as notícias
chegadas de Inglaterra, de que aquele football
havia causado nas ilhas britânicas durante aquele ano 13 mortes (!) suplicou ao
seu amado esposo que deixasse de vez o jogo que este tanto amava. Nicolau de
Almeida fez-lhe a vontade, e o Football Club do Porto morreu.
Seria
ressuscitado por José Monteiro da Costa, que quando finalmente travou
conhecimento com o fundador do clube recebeu deste um forte incentivo para
reavivar o sonho nascido em 1893. Monteiro da Costa assim o fez, e a 2 de
agosto de 1906 refunda aquele que é hoje em dia um dos mais afamados clubes
nacionais e... internacionais.
Um
trajeto que começou a ser desbravado precisamente pelo jovem Monteiro da Costa,
que não se pouparia a esforços para fazer do renascido FC Porto um ícone
desportivo de referência. Serviu o clube em múltiplas funções: foi jogador (no
posto de guarda-redes), dirigente (foi o primeiro presidente oficial da
história da coletividade), e principal financiador! Reza a lenda que Monteiro
da Costa era o FC Porto, e vice-versa... «Ele era a alma do clube», disse um
dia outro dos lendários elementos daquele Porto, neste caso Ivo Lemos. Este
recordava Monteiro da Costa como um trabalhador exaustivo em prol do clube,
«todos os dias, já noite alta, arrumava o humilde gabinete da sede do FC Porto
e com os sobrolhos carrancudos de sono tomava a tipóia e regressava a casa.
Para descanso curto! Sempre com a ânsia quente de fazer do FC Porto um clube
maior, capaz de escaramuçar pela glória com quem quer que fosse».
Tudo o
que tivesse a ver com o clube Monteiro da Costa chamava à sua responsabilidade,
desde a constituição das equipas para os jogos até aos meros convites
endereçados aos associados para assistiram aos empolgantes duelos
futebolísticos. Fazia-o por pura e simples paixão, conta Ivo Lemos, que nas
suas memórias descrevia o amigo Monteiro da Costa como uma figura aversa ao
protagonismo.
Pelo
que ele representava para o clube não demorou muito a que um grupo de
associados metesse mãos à obra para homenagear o reinventor do FC Porto, ao
propor a instituição de um troféu, que seria denominado de Taça Monteiro da
Costa, e que dali em diante iria coroar o rei do futebol nortenho.
Um
pouco contra a vontade do humilde homenageado - que nunca é demais recordar era
avesso a exibicionismos pessoais - a ideia foi adiante, formando-se uma
comissão de instituição da projetada competição, digamos assim. Comissão essa
composta por Laurestim Froes Cruz, José Silva, José Marques e Silva, Adelino
Costa, Vitorino Pinto, José Bacelar, e Ivo Lemos, estes quatro últimos para
além de dirigentes eram igualmente notáveis footballers
do emblema azul e branco.
Posteriormente
fez-se uma subscrição entre os associados para adquirir um troféu que viria a
custar 60 escudos, o qual seria concebido numa das mais afamadas ourivesarias
da Cidade Invicta, a Monteiro & Filhos, situada na Rua do Bonjardim.
Contudo,
quis o cruel destino que o homenageado não visse o pontapé de saída da sua
competição. Monteiro da Costa adoece nos primeiros dias de janeiro de 1911,
vindo a falecer no dia 30 desse mesmo mês com apenas 29 anos! A nação portista
entra em pânico. E agora? Como é que o clube vai sobreviver sem o seu principal
impulsionador, sem a sua figura central, sem a sua alma? Foram questões levantadas
de imediato por associados e dirigentes do então jovem FC Porto. Temeu-se que
pela segunda vez na sua história o clube fosse empurrado para uma morte
prematura, medos que no entanto seriam eclipsados na Assembleia Geral de 16 de
março desse ano de 1911, altura em que um punhado de seguidores do sonho de
Monteiro da Costa decide continuar a aventura em memória do saudoso
companheiro.
E é
pois nesse embalo para o futuro que se edifica a primeira edição da Taça
Monteiro da Costa, ou o primeiro Campeonato do Norte, como defendem alguns
historiadores desportivos.
Portistas inauguram lista de campeões da Taça
Monteiro da Costa... ou do Campeonato do Norte
Convidados
para a estreia da citada competição, cujo vencedor teria à sua espera a
denominação de campeão do norte (aquém Mondego), seriam os vizinhos do Boavista
e do Leixões, para além, claro, do clube anfitrião, o FC Porto, que no final
acabaria por fazer a festa... com contornos polémicos!
O
certame abriu com um duelo entre matosinhenses e boavisteiros, a 26 de março,
com os primeiros a bater sem apelo nem agrado os portuenses por 4-1. A 2 de
abril entra em campo o FC Porto, cujos jogadores transportavam consigo a
ambição sentimental de vencer aquele troféu tão especial. O oponente foi o
Boavista. Resultado final: 3-1 para os portistas, mas com a polémica a estalar
de imediato após o conturbado duelo, conforme retrataram os jornais da época:
«Do princípio ao fim, o jogo carregou sobre o campo do Boavista. Os jogadores
deste clube tinham uma predileção sobre os "marretas" e, pelos
inúmeros trambolhões que davam, mais parecia assistir-se a um ensaio de
acrobacia, que a um match oficial de futebol. Backs, half-backs e forwards
entende (lá devem ter as suas razões) que jogador de football é atirar
continuamente a bola para o ar. A fazerem exceção à regra contam-se Elísio
Bessa, que esteve soberbo, revelando-se um admirável back e teve passagens
magistrais; Bacelar e Cal; Megre tem um shoot muito calculado e bom, marcando os goals com muita precisão.
Causou-nos decepção o jogo de Ivo Lemos; habituados a vê-lo jogar bem e a quase
ser um Messias na hora do perigo, no domingo nem parecia o Ivo. E é pena que
este se perdesse, pois era um bom elemento. Perdeu-se com a vaidade e a crença
de que se apoderou, de ser um bom jogador...».
Críticas,
e bem duras, também levou o árbitro do encontro, Eduardo Almeida Coquet, muito
em particular oferecidas pel' Os Sports Illustrados, mas como quem não se sente
não é filho de boa gente o juíz não perdeu tempo a responder publicamente ao
autor da agreste crónica: «O senhor Pereira (autor da crónica) não dispensou a
chocarrice, recurso dos que não têm razão. Começa por não atinar com o nome, e
se o fez propositadamente demonstra bem a sua seriedade... O que não pouco
ocorreu para a baralhada que o tal match resultou, foi a pouca disciplina do
team do Boavista, que não respeitando as decisões do árbitro parece julgá-lo
dispensável e uma parte da assistência, a que o Sr. Pereira se refere,
esquecendo-se propositadamente de dizer que eram sócios do Boavista, a qual em
companhia do Sr. Pereira invadiu o campo, o que não foi nada bonito. Foi para
esses assistentes que um dos jogadores do FCP se voltou com um gesto obsceno,
para o qual o Sr. Pereira teve olhos, não tendo ouvidos para o baixo insulto
que primeiro desses assistentes partira, e sem o que não se justificaria o
gesto... Esqueceu-se também o Sr. Pereira de dizer que o match terminou três
minutos antes da hora, por ter o Boavista abandonado o campo, talvez para não
informar que foi devido à atitude dessa mesma assistência, como o respectivo
captain me declarou com palavras amigáveis, que lhe agradeço».
Posteriormente,
portistas e leixonenses mediriam forças no derradeiro jogo desta primeira
edição da Taça Monteiro da Costa, um duelo que teve contornos de verdadeira
final, pois quem vencesse seria coroado como o primeiro campeão do norte. Tal
como se esperava foi um desafio muito intenso, e rezam as crónicas que o
Leixões esteve várias vezes perto do golo, valendo aos portistas a magnífica
exibição do seu guarda-redes, Manuel Valença. E como quem não marca sofre, o FC
Porto chegaria ao golo - cujo autor se desconhece - um tento solitário que deu
a primeira Taça Monteiro da Costa ao clube da Cidade Invicta, que assim se
auto-proclamava o primeiro campeão nortenho do então jovem football.
Para a
eternidade ficam pois os nomes dos seguintes campeões: Manuel Valença, Elísio
Bessa, Vitorino Pinto, Mário Maçãs, Adelino Costa, Magalhães Bastos, José
Bacelar, Camilo Moniz, Carlos Megre, João Cal, e Ivo Lemos. Jogadores treinados
pelo mestre francês Adolphe Cassaigne, o homem que haveria de estar nas quatro
restantes conquistas dos portistas nesta prova.
Bi-campeonato conquistado à custa de goleadas
Na
temporada seguinte (1911/12) disputou-se a segunda edição da Taça Monteiro da
Costa, e desde logo uma novidade saltou à vista, a inclusão de mais um
convidado, para o caso o team da
Académica de Coimbra, que se juntava assim aos repetentes Leixões, Boavista, e
claro, FC Porto. Último grupo este que sem dificuldades iria manter na sua
posse o desejado troféu, já que massacrou por completo os seus oponentes no
confronto direto com estes. O Boavista foi derrotado por 7-0 (com destaque
individual para Carlos Megre, autor de quatro tentos), enquanto que o Leixões e
Académica averbariam ante os avassaladores portistas concludentes desaires por
0-4 e 3-5, respetivamente.
Os
heróis azuis e brancos foram praticamente os mesmos que na temporada anterior
haviam oferecido ao clube o seu primeiro título oficial, isto é: Manuel
Valença, Magalhães Bastos, Vitorino Pinto, Camilo Moniz, Mário Maçãs, Carlos
Megre, Ivo Lemos, Adelino Costa, Penaforte, Vidal Pinheiro, e Camilo de
Figueiredo, estes três últimos a saborear pela primeira vez o título de
campeões do norte.
Académica de Coimbra surpreende o bi-campeão
na sua própria casa
Na
terceira edição do certame - realizada em fevereiro de 1913 - a surpresa
aconteceu. Com os mesmos intervenientes da época transata, isto é, FC Porto,
Leixões, Boavista, e Académica, poucos - sobretudo os adeptos portistas -
pareciam ter dúvidas de que o troféu não continuasse a morar nas vitrinas dos
azuis e brancos, ainda para mais depois destes terem cilindrado o Leixões no
primeiro jogo por 8-0. A veia atacante dos portistas seria novamente vincada no
encontro seguinte, ante o Boavista, desta feita por números mais suaves: 3-0. E
a 10 de março desse ano a Constituição - a casa dos portistas -
engalanou-se
para aquilo que se previa mais uma tarde de festa, mas que viria a terminar...
em estado de choque! Os estudantes venceram por 3-1 e levaram a taça portista
para a cidade do Mondego, alcançando assim o primeiro título da sua história, o
ceptro de campeões do norte... aquém do Mondego, convém sublinhar. A imprensa
da época voltou a usar e a abusar de dura ironia para com jogadores - do FC
Porto, essencialmente - e árbitro da partida, conforme podemos recordar na
pituresca crónica desse célebre desafio publicada n' Os Sports Illustrados:
«Se a
concorrência aos desafios do Norte realizados até ao último domingo havia sido
grande, a este dia foi verdadeiramente extraordinário. Jogava-se o match final
do Campeonato e o interesse pelo resultado era enorme. A amenidade do dia,
verdadeiramente primaveril, contribuiu, além disso, para a grande afluência que
vimos no magnífico campo da Rua da Constituição. O jogo teve por vezes fases
interessantes, e foi sempre seguido com extraordinário interesse por todos os
que a ele assistiram. Não correu, é certo, com a regularidade que era de
esperar e ao árbitro coube grande parte, senão toda a culpa deste facto. As
faltas que sucessivamente deixou sem castigo e em especial os off-side de um
dos quais resultou o terceiro golo contra o F. C. Porto, enervaram de tal forma
os jogadores deste clube que o jogo tido pelo seu grupo foi, de certo por
diante, verdadeiramente desorientado. Se a falta de competência do árbitro
justifica de certo modo o jogo feito pelo grupo do Porto, de forma nenhuma
desculpa a falta de táctica, o enervamento e o desânimo que invadiram a maior
partes dos seus jogadores. Chegámos a ver alguns cruzar os braços e negar-se
absolutamente a jogar. No primeiro tempo, em que o F. C. Porto jogou com o
vento contra, o jogo carregou quase sempre sobre o campo de Coimbra,
especialmente no primeiro quarto de hora. Só os péssimos chutos dos forwards do
Porto fizeram com que não se marcassem goals. Chegámos a ver dois jogadores
desse grupo, exclusivamente sós com a bola nos pés a seis metros das balizas, e
a atirarem a bola para fora, por ambos querem marcar. O Grupo de Coimbra
defendia-se entretanto com grande energia e da primeira avançada que conseguiu
fazer, devido a dois falhanços consecutivos de um back do Porto marcou o
primeiro goal. Pouco depois marcava o segundo, de igual modo como o primeiro.
Com este resultado terminou a primeira parte. Neste meio tempo não podemos
deixar de censurar a falta de táctica do back esquerdo do Porto, Vitorino, que
teima em avançar, deixando o seu companheiro absolutamente só, não obstante ter
reconhecido o valor do grupo adversário e a falta de vista do árbitro. No
segundo tempo o jogo esteve mais igual. O árbitro continuou a não ver as faltas
cometidas, especialmente alguns off-side dos forwards de Coimbra. Entretanto,
para compensar a falta de vista do referee, o back vitorino continuava a ir
passear até à linha de forwards, o half esquerdo Camilo Figueiredo, cruzou os
braços e deixou-se ficar mudo e quedo, e o Keeper Valença deixou
propositadamente entrar o terceiro goal, por imaginar que um jogador adversário
estava, como realmente estava, em off-side. O árbitro, porém, não se conformou
e marcou o goal, apesar dos protestos dos jogadores do Porto. Não podemos
também deixar de censurar a atitude do half esquerdo. A incompetência do
árbitro não justifica de forma nenhuma o seu procedimento. Abandonar por
completo os seus companheiros e deixando de jogar, sem se lembrar que um
jogador de campo não pertence a si mas ao seu team e é uma falta de lealdade
para com os seus colegas e uma desconsideração para com os adversários [...] Os
forwards do Porto fizeram entretanto bastantes avançadas, mas o ponta-direita,
Camilo Monis, que foi quem quase sempre chutou, enviava a bola para todos os
lados menos para as balizas. O seu extremo nervosismo fez com que das numerosas
bolas que chutou nem uma única fosse direita ao goal... O Grupo de Coimbra está
esta época muito forte do que na época passada e mostrou ter muito treino. Tem
elementos muito bons. Tem, é claro, alguns pontos fracos, mas no conjunto
mostrou muito valor. É caso para felicitarmos a Académica de Coimbra, que conta
no seu meio o team campeão dos grupos portugueses do Norte do País, e em
especial o seu capitão Dr. Borja Santos, a quem se deve o resultado obtido».
Após o
apito final a festa estalou entre os academistas, que ansiosamente partiram com
o troféu na bagagem para a sua amada Coimbra, que nessa noite não pregou olho
de tanto folia que viveu. Imortais ficaram pois os seguintes academistas:
Durval de Morais, César Moniz Pereira, Sérgio Pereira, Agostinho Costa, António
Borja Santos (o capitão dessa equipa), António Perdigão, Carlos Sampaio, Filipe
Mendes, José Júlia da Costa, José Cardoso, e José Coelho.
Na hora de escolher um dos seus dois amores
Magalhães Bastos escolheu o FC Porto
Já
convivendo com a concorrência da Associação de Futebol do Porto (AFP) - fundada
em agosto de 1912 - a Taça Monteiro da Costa entrou, digamos que, em declínio a
partir da temporada de 1913/14. Concorrência porque a AFP assim que viu a luz
do dia idealizou de imediato a criação de um campeonato do norte... oficial.
Isto é, organizado da cabeça aos pés sob a sua batuta. Ainda assim durante três
épocas a competição instituída pelo FC Porto e a prova associativa dividiram o
calendário futebolístico jogado a norte do Mondego. E por falar no conhecido
rio foi precisamente na cidade por ele dividida, Coimbra, que decorreu a Taça
Monteiro de Costa em 1914. E assim foi pelo facto de Académica ter vencido a
prova na época anterior. Mais do que ficar marcada pelo regresso à normalidade
no que toca ao campeão - que seria o FC Porto - esta edição ficaria eternamente
célebre por um curioso momento de puro amor à camisola!
Numa
altura em que os jogadores não estavam vinculados contratualmente aos seus
clubes, podendo jogar livremente pelo emblema que bem entendessem durante a
mesma época (!), o FC Porto partia para a capital da Beira Litoral desfalcado
de um dos seus melhores elementos, Magalhães Bastos.
Valoroso
e dedicado atleta, José de Magalhães Bastos deixara o Porto - clube e a cidade
- para se fixar em... Coimbra, para onde foi estudar Direito. Ora, na Invicta
as cautelas eram agora muitas, não só porque a Académica havia provado na época
anterior que no football não havia
vencedores antecipados, e efetivamente porque tinha no seu grupo um naipe de
bons jogadores, mas sobretudo porque se dizia à boca cheia que o magnífico
defesa/médio Magalhães Bastos iria vestir de negro, o negro da Briosa
Académica. O dia da final chegou, e assim que portistas e academistas entraram
em campo vislumbrou-se Magalhães Bastos com a sua capa de estudante a
cobrir-lhe o equipamento. Perante esta imagem os da casa não tinham dúvidas que
o valoroso jogador estava do lado dos estudantes, mas rapidamente o entusiasmo
derivado de tal visão deu lugar ao desânimo. De ar calmo, semblante alegre,
Magalhães Bastos despe lentamente a capa negra que o cobria, entrega-o a um
amigo e junta-se à... equipa do seu amado FC Porto.
Reza a
história que foi um momento emocionante, e alguns jogadores portistas não
conseguiram mesmo conter as lágrimas perante esta autêntica prova de amor ao
clube dada por um homem que anos mais tarde haveria de ser um renomeado juíz. O
resultado desse jogo desconhece-se, apenas se sabe que o FC Porto reconquistou
o troféu, trazendo-o de volta para a Invicta, de onde aliás nunca mais iria
sair, até porque dizia o regulamento da Taça Monteiro da Costa que o clube que
vencesse três vezes a competição ficaria para sempre na posse do troféu.
1914
seria um ano agridoce para as cores azuis e brancas, já que a vitória na Taça
Monteiro da Costa foi seguida de uma campanha dececionante na primeira edição
do primeiro campeonato do norte oficial, isto é, organizado pela AFP. Nessa
prova os portistas ficariam em segundo lugar, atrás do vizinho e rival
Boavista.
Académico do Porto estreia-se numa época de
domínio avassalador dos portistas
Já com
um papel secundário no panorama futebolístico do norte a quinta edição da Taça
Monteiro da Costa não teve grande história. O FC Porto venceu de forma
categórica o título pela quarta vez. De maneira categórica e fácil, há que
sublinhá-lo, já que nunca os seus oponentes se terão apresentado tão fragilizados.
Entre estes estava o Académico do Porto, equipa muito jovem e sem experiência
nestas andanças que mesmo assim surpreendeu um experiente Leixões por
impensáveis 7-0 (!) no jogo inaugural do certame.
Leixonenses
que tiveram uma prestação para lá de medíocre nesta edição, já que no confronto
com os portistas seriam novamente derrotados, desta feita por 0-3. Sem Boavista
e Académica de Coimbra, que declinaram o convite para participar uma vez mais
na Taça Monteiro da Costa, FC Porto e Académico disputaram entre si a final na
Constituição, tendo a vitória pertencido aos primeiros por escassos e renhidos
4-3.
Ao que
parece os inexperientes academistas fizeram uma grande exibição, mas terá
faltado uma ponta de... experiência para vergar o poderoso combinado azul e
branco, o qual nessa mesma temporada (14/15) iria vencer pela primeira vez o
Campeonato do Norte... organizado pela AFP.
Final igual ao princípio...
E na
época de 1915/16 a Taça Monteiro da Costa conhece o seu capítulo final. Quatro
clubes inscreveram-se na última edição do certame, nomeadamente os anfitriões
FC Porto, o regressado Boavista, o Académico do Porto, e a novidade Sport Grupo
e Salgueiros, que mais tarde seria rebatizado de Sport Comércio e Salgueiros.
Salgueiristas que tiveram o seu batismo de fogo ante os portistas, perdendo por
1-2. No encontro seguinte o Salgueiros deu mais uma prova da sua inexperiência
ao ser batido por 1-4 pelo bem organizado team do Académico, emblema este que
mais tarde seria batido pelo mesmo resultado pelo FC Porto. Na partida decisiva
os portistas derrotaram por 2-0 o Boavista, encerrando assim a famosa
competição da mesma maneira que a iniciaram, ou seja, a vencer.
Legenda
das fotografias:
1-A
Taça Monteiro da Costa
2-José
Monteiro da Costa
3-Ivo
Lemos
4-A
comissão instaladora da Taça Monteiro da Costa
5-Equipa
do FC Porto que venceu a primeira edição da competição
6-O
valoroso guarda-redes Manuel Valença
7-O
"onze" portista que em 1912 conquistou o bi-campeonato do norte
8-A
medalha que os campeões da Taça Monteiro da Costa receberam em 1911/12
9-O
conjunto da Académica de Coimbra em 1913, o intruso na lista de campeões
10-Momento
do jogo final de 1913 entre Académica e FC Porto, com o público em cima do
acontecimento!
11-O FC
Porto campeão da Taça Monteiro da Costa em 1914
12-O
lendário jogador Magalhães Bastos, figura central da quarta edição
13-A
turma do Boavista, a primeira campeã oficial do norte... segundo a Associação
de Futebol do Porto
14-O
diploma que acompanhava a medalha de campeão da Taça Monteiro da Costa atribuído
a cada jogador
15-A
última equipa do FC Porto a vencer a prova
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