quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Há (mais de) 100 anos a Académica conquistava o seu primeiro título numa competição pintada em tons de... azul e branco


Assinalou-se em 2013 o centenário da conquista do primeiro título oficial da popular Associação Académica de Coimbra. Um triunfo alcançado naquela que ainda hoje é tida como a primeira grande competição jogada a norte do (rio) Mondego. A Taça Monteiro da Costa, ou na voz de muitos, o primeiro Campeonato do Norte. Mas antes de recordarmos a façanha dos estudantes no longínquo ano de 1913 tornar-se-á impiedoso conhecer o início da história de uma prova cuja grande maioria dos seus capítulos se escreveu em tons de azul e branco. Precisamente as cores do FC Porto, o clube refundado em 1906 pelo homem que esteve na génese desta competição, José Monteiro da Costa, o seu nome.
Horticultor, tal como o seu pai, e membro da União de Jardineiros do Porto, José Monteiro da Costa deixara-se enfeitiçar pelo football em Inglaterra, para onde fora estudar - tal e qual outros tantos jovens portugueses, filhos de famílias aristocráticas que enquanto estudantes travaram conhecimento com o belo jogo nascido na Velha Albion. Viajando por outros países da Europa - França, ou Espanha - aprimorou o gosto - e o entendimento pelas regras - da modalidade, e na hora de regressar a casa partilhou com os seus velhos amigos que noutros pontos do Velho Continente havia descoberto o... futuro, futuro esse que se chamava football. Estes, empolgados com as histórias do amigo viajante, não tiveram dúvidas em segui-lo na ideia de criar um grupo que se dedicasse ao pontapé na bola. Não muito tempo depois funda-se o Grupo do Destino, composto por liberais, repúblicanos, foliões, cujo amor comum chamava-se agora football.
Vasculhando a curta história futebolística da sua cidade - que além do Grupo do Destino era interpretada apenas pelos grupos ingleses do Oporto Cricket e do Boavista Footballers - Monteiro da Costa descobre que em finais do então recém desaparecido século XIX houvera na Mui Nobre Invicta um outro clube, chamado Football Club do Porto.

Sem perder tempo, põe pés a caminho para procurar o mentor desse então extinto clube. António Nicolau de Almeida assim se chamava, afamado comerciante de vinhos, que em 1893 havia fundado o citado emblema tripeiro. Nicolau de Almeida que três anos mais tarde casar-se-ia, e a esposa assustada com as notícias chegadas de Inglaterra, de que aquele football havia causado nas ilhas britânicas durante aquele ano 13 mortes (!) suplicou ao seu amado esposo que deixasse de vez o jogo que este tanto amava. Nicolau de Almeida fez-lhe a vontade, e o Football Club do Porto morreu.
Seria ressuscitado por José Monteiro da Costa, que quando finalmente travou conhecimento com o fundador do clube recebeu deste um forte incentivo para reavivar o sonho nascido em 1893. Monteiro da Costa assim o fez, e a 2 de agosto de 1906 refunda aquele que é hoje em dia um dos mais afamados clubes nacionais e... internacionais.
Um trajeto que começou a ser desbravado precisamente pelo jovem Monteiro da Costa, que não se pouparia a esforços para fazer do renascido FC Porto um ícone desportivo de referência. Serviu o clube em múltiplas funções: foi jogador (no posto de guarda-redes), dirigente (foi o primeiro presidente oficial da história da coletividade), e principal financiador! Reza a lenda que Monteiro da Costa era o FC Porto, e vice-versa... «Ele era a alma do clube», disse um dia outro dos lendários elementos daquele Porto, neste caso Ivo Lemos. Este recordava Monteiro da Costa como um trabalhador exaustivo em prol do clube, «todos os dias, já noite alta, arrumava o humilde gabinete da sede do FC Porto e com os sobrolhos carrancudos de sono tomava a tipóia e regressava a casa. Para descanso curto! Sempre com a ânsia quente de fazer do FC Porto um clube maior, capaz de escaramuçar pela glória com quem quer que fosse».

Tudo o que tivesse a ver com o clube Monteiro da Costa chamava à sua responsabilidade, desde a constituição das equipas para os jogos até aos meros convites endereçados aos associados para assistiram aos empolgantes duelos futebolísticos. Fazia-o por pura e simples paixão, conta Ivo Lemos, que nas suas memórias descrevia o amigo Monteiro da Costa como uma figura aversa ao protagonismo.
Pelo que ele representava para o clube não demorou muito a que um grupo de associados metesse mãos à obra para homenagear o reinventor do FC Porto, ao propor a instituição de um troféu, que seria denominado de Taça Monteiro da Costa, e que dali em diante iria coroar o rei do futebol nortenho.
Um pouco contra a vontade do humilde homenageado - que nunca é demais recordar era avesso a exibicionismos pessoais - a ideia foi adiante, formando-se uma comissão de instituição da projetada competição, digamos assim. Comissão essa composta por Laurestim Froes Cruz, José Silva, José Marques e Silva, Adelino Costa, Vitorino Pinto, José Bacelar, e Ivo Lemos, estes quatro últimos para além de dirigentes eram igualmente notáveis footballers do emblema azul e branco.

Posteriormente fez-se uma subscrição entre os associados para adquirir um troféu que viria a custar 60 escudos, o qual seria concebido numa das mais afamadas ourivesarias da Cidade Invicta, a Monteiro & Filhos, situada na Rua do Bonjardim.
Contudo, quis o cruel destino que o homenageado não visse o pontapé de saída da sua competição. Monteiro da Costa adoece nos primeiros dias de janeiro de 1911, vindo a falecer no dia 30 desse mesmo mês com apenas 29 anos! A nação portista entra em pânico. E agora? Como é que o clube vai sobreviver sem o seu principal impulsionador, sem a sua figura central, sem a sua alma? Foram questões levantadas de imediato por associados e dirigentes do então jovem FC Porto. Temeu-se que pela segunda vez na sua história o clube fosse empurrado para uma morte prematura, medos que no entanto seriam eclipsados na Assembleia Geral de 16 de março desse ano de 1911, altura em que um punhado de seguidores do sonho de Monteiro da Costa decide continuar a aventura em memória do saudoso companheiro.
E é pois nesse embalo para o futuro que se edifica a primeira edição da Taça Monteiro da Costa, ou o primeiro Campeonato do Norte, como defendem alguns historiadores desportivos.

Portistas inauguram lista de campeões da Taça Monteiro da Costa... ou do Campeonato do Norte

Convidados para a estreia da citada competição, cujo vencedor teria à sua espera a denominação de campeão do norte (aquém Mondego), seriam os vizinhos do Boavista e do Leixões, para além, claro, do clube anfitrião, o FC Porto, que no final acabaria por fazer a festa... com contornos polémicos!
O certame abriu com um duelo entre matosinhenses e boavisteiros, a 26 de março, com os primeiros a bater sem apelo nem agrado os portuenses por 4-1. A 2 de abril entra em campo o FC Porto, cujos jogadores transportavam consigo a ambição sentimental de vencer aquele troféu tão especial. O oponente foi o Boavista. Resultado final: 3-1 para os portistas, mas com a polémica a estalar de imediato após o conturbado duelo, conforme retrataram os jornais da época: «Do princípio ao fim, o jogo carregou sobre o campo do Boavista. Os jogadores deste clube tinham uma predileção sobre os "marretas" e, pelos inúmeros trambolhões que davam, mais parecia assistir-se a um ensaio de acrobacia, que a um match oficial de futebol. Backs, half-backs e forwards entende (lá devem ter as suas razões) que jogador de football é atirar continuamente a bola para o ar. A fazerem exceção à regra contam-se Elísio Bessa, que esteve soberbo, revelando-se um admirável back e teve passagens magistrais; Bacelar e Cal; Megre tem um shoot muito calculado e bom, marcando os goals com muita precisão. Causou-nos decepção o jogo de Ivo Lemos; habituados a vê-lo jogar bem e a quase ser um Messias na hora do perigo, no domingo nem parecia o Ivo. E é pena que este se perdesse, pois era um bom elemento. Perdeu-se com a vaidade e a crença de que se apoderou, de ser um bom jogador...».

Críticas, e bem duras, também levou o árbitro do encontro, Eduardo Almeida Coquet, muito em particular oferecidas pel' Os Sports Illustrados, mas como quem não se sente não é filho de boa gente o juíz não perdeu tempo a responder publicamente ao autor da agreste crónica: «O senhor Pereira (autor da crónica) não dispensou a chocarrice, recurso dos que não têm razão. Começa por não atinar com o nome, e se o fez propositadamente demonstra bem a sua seriedade... O que não pouco ocorreu para a baralhada que o tal match resultou, foi a pouca disciplina do team do Boavista, que não respeitando as decisões do árbitro parece julgá-lo dispensável e uma parte da assistência, a que o Sr. Pereira se refere, esquecendo-se propositadamente de dizer que eram sócios do Boavista, a qual em companhia do Sr. Pereira invadiu o campo, o que não foi nada bonito. Foi para esses assistentes que um dos jogadores do FCP se voltou com um gesto obsceno, para o qual o Sr. Pereira teve olhos, não tendo ouvidos para o baixo insulto que primeiro desses assistentes partira, e sem o que não se justificaria o gesto... Esqueceu-se também o Sr. Pereira de dizer que o match terminou três minutos antes da hora, por ter o Boavista abandonado o campo, talvez para não informar que foi devido à atitude dessa mesma assistência, como o respectivo captain me declarou com palavras amigáveis, que lhe agradeço».

Posteriormente, portistas e leixonenses mediriam forças no derradeiro jogo desta primeira edição da Taça Monteiro da Costa, um duelo que teve contornos de verdadeira final, pois quem vencesse seria coroado como o primeiro campeão do norte. Tal como se esperava foi um desafio muito intenso, e rezam as crónicas que o Leixões esteve várias vezes perto do golo, valendo aos portistas a magnífica exibição do seu guarda-redes, Manuel Valença. E como quem não marca sofre, o FC Porto chegaria ao golo - cujo autor se desconhece - um tento solitário que deu a primeira Taça Monteiro da Costa ao clube da Cidade Invicta, que assim se auto-proclamava o primeiro campeão nortenho do então jovem football.
Para a eternidade ficam pois os nomes dos seguintes campeões: Manuel Valença, Elísio Bessa, Vitorino Pinto, Mário Maçãs, Adelino Costa, Magalhães Bastos, José Bacelar, Camilo Moniz, Carlos Megre, João Cal, e Ivo Lemos. Jogadores treinados pelo mestre francês Adolphe Cassaigne, o homem que haveria de estar nas quatro restantes conquistas dos portistas nesta prova.

Bi-campeonato conquistado à custa de goleadas

Na temporada seguinte (1911/12) disputou-se a segunda edição da Taça Monteiro da Costa, e desde logo uma novidade saltou à vista, a inclusão de mais um convidado, para o caso o team da Académica de Coimbra, que se juntava assim aos repetentes Leixões, Boavista, e claro, FC Porto. Último grupo este que sem dificuldades iria manter na sua posse o desejado troféu, já que massacrou por completo os seus oponentes no confronto direto com estes. O Boavista foi derrotado por 7-0 (com destaque individual para Carlos Megre, autor de quatro tentos), enquanto que o Leixões e Académica averbariam ante os avassaladores portistas concludentes desaires por 0-4 e 3-5, respetivamente.
Os heróis azuis e brancos foram praticamente os mesmos que na temporada anterior haviam oferecido ao clube o seu primeiro título oficial, isto é: Manuel Valença, Magalhães Bastos, Vitorino Pinto, Camilo Moniz, Mário Maçãs, Carlos Megre, Ivo Lemos, Adelino Costa, Penaforte, Vidal Pinheiro, e Camilo de Figueiredo, estes três últimos a saborear pela primeira vez o título de campeões do norte.

Académica de Coimbra surpreende o bi-campeão na sua própria casa

Na terceira edição do certame - realizada em fevereiro de 1913 - a surpresa aconteceu. Com os mesmos intervenientes da época transata, isto é, FC Porto, Leixões, Boavista, e Académica, poucos - sobretudo os adeptos portistas - pareciam ter dúvidas de que o troféu não continuasse a morar nas vitrinas dos azuis e brancos, ainda para mais depois destes terem cilindrado o Leixões no primeiro jogo por 8-0. A veia atacante dos portistas seria novamente vincada no encontro seguinte, ante o Boavista, desta feita por números mais suaves: 3-0. E a 10 de março desse ano a Constituição - a casa dos portistas -
engalanou-se para aquilo que se previa mais uma tarde de festa, mas que viria a terminar... em estado de choque! Os estudantes venceram por 3-1 e levaram a taça portista para a cidade do Mondego, alcançando assim o primeiro título da sua história, o ceptro de campeões do norte... aquém do Mondego, convém sublinhar. A imprensa da época voltou a usar e a abusar de dura ironia para com jogadores - do FC Porto, essencialmente - e árbitro da partida, conforme podemos recordar na pituresca crónica desse célebre desafio publicada n' Os Sports Illustrados:

«Se a concorrência aos desafios do Norte realizados até ao último domingo havia sido grande, a este dia foi verdadeiramente extraordinário. Jogava-se o match final do Campeonato e o interesse pelo resultado era enorme. A amenidade do dia, verdadeiramente primaveril, contribuiu, além disso, para a grande afluência que vimos no magnífico campo da Rua da Constituição. O jogo teve por vezes fases interessantes, e foi sempre seguido com extraordinário interesse por todos os que a ele assistiram. Não correu, é certo, com a regularidade que era de esperar e ao árbitro coube grande parte, senão toda a culpa deste facto. As faltas que sucessivamente deixou sem castigo e em especial os off-side de um dos quais resultou o terceiro golo contra o F. C. Porto, enervaram de tal forma os jogadores deste clube que o jogo tido pelo seu grupo foi, de certo por diante, verdadeiramente desorientado. Se a falta de competência do árbitro justifica de certo modo o jogo feito pelo grupo do Porto, de forma nenhuma desculpa a falta de táctica, o enervamento e o desânimo que invadiram a maior partes dos seus jogadores. Chegámos a ver alguns cruzar os braços e negar-se absolutamente a jogar. No primeiro tempo, em que o F. C. Porto jogou com o vento contra, o jogo carregou quase sempre sobre o campo de Coimbra, especialmente no primeiro quarto de hora. Só os péssimos chutos dos forwards do Porto fizeram com que não se marcassem goals. Chegámos a ver dois jogadores desse grupo, exclusivamente sós com a bola nos pés a seis metros das balizas, e a atirarem a bola para fora, por ambos querem marcar. O Grupo de Coimbra defendia-se entretanto com grande energia e da primeira avançada que conseguiu fazer, devido a dois falhanços consecutivos de um back do Porto marcou o primeiro goal. Pouco depois marcava o segundo, de igual modo como o primeiro. Com este resultado terminou a primeira parte. Neste meio tempo não podemos deixar de censurar a falta de táctica do back esquerdo do Porto, Vitorino, que teima em avançar, deixando o seu companheiro absolutamente só, não obstante ter reconhecido o valor do grupo adversário e a falta de vista do árbitro. No segundo tempo o jogo esteve mais igual. O árbitro continuou a não ver as faltas cometidas, especialmente alguns off-side dos forwards de Coimbra. Entretanto, para compensar a falta de vista do referee, o back vitorino continuava a ir passear até à linha de forwards, o half esquerdo Camilo Figueiredo, cruzou os braços e deixou-se ficar mudo e quedo, e o Keeper Valença deixou propositadamente entrar o terceiro goal, por imaginar que um jogador adversário estava, como realmente estava, em off-side. O árbitro, porém, não se conformou e marcou o goal, apesar dos protestos dos jogadores do Porto. Não podemos também deixar de censurar a atitude do half esquerdo. A incompetência do árbitro não justifica de forma nenhuma o seu procedimento. Abandonar por completo os seus companheiros e deixando de jogar, sem se lembrar que um jogador de campo não pertence a si mas ao seu team e é uma falta de lealdade para com os seus colegas e uma desconsideração para com os adversários [...] Os forwards do Porto fizeram entretanto bastantes avançadas, mas o ponta-direita, Camilo Monis, que foi quem quase sempre chutou, enviava a bola para todos os lados menos para as balizas. O seu extremo nervosismo fez com que das numerosas bolas que chutou nem uma única fosse direita ao goal... O Grupo de Coimbra está esta época muito forte do que na época passada e mostrou ter muito treino. Tem elementos muito bons. Tem, é claro, alguns pontos fracos, mas no conjunto mostrou muito valor. É caso para felicitarmos a Académica de Coimbra, que conta no seu meio o team campeão dos grupos portugueses do Norte do País, e em especial o seu capitão Dr. Borja Santos, a quem se deve o resultado obtido».

Após o apito final a festa estalou entre os academistas, que ansiosamente partiram com o troféu na bagagem para a sua amada Coimbra, que nessa noite não pregou olho de tanto folia que viveu. Imortais ficaram pois os seguintes academistas: Durval de Morais, César Moniz Pereira, Sérgio Pereira, Agostinho Costa, António Borja Santos (o capitão dessa equipa), António Perdigão, Carlos Sampaio, Filipe Mendes, José Júlia da Costa, José Cardoso, e José Coelho.

Na hora de escolher um dos seus dois amores Magalhães Bastos escolheu o FC Porto

Já convivendo com a concorrência da Associação de Futebol do Porto (AFP) - fundada em agosto de 1912 - a Taça Monteiro da Costa entrou, digamos que, em declínio a partir da temporada de 1913/14. Concorrência porque a AFP assim que viu a luz do dia idealizou de imediato a criação de um campeonato do norte... oficial. Isto é, organizado da cabeça aos pés sob a sua batuta. Ainda assim durante três épocas a competição instituída pelo FC Porto e a prova associativa dividiram o calendário futebolístico jogado a norte do Mondego. E por falar no conhecido rio foi precisamente na cidade por ele dividida, Coimbra, que decorreu a Taça Monteiro de Costa em 1914. E assim foi pelo facto de Académica ter vencido a prova na época anterior. Mais do que ficar marcada pelo regresso à normalidade no que toca ao campeão - que seria o FC Porto - esta edição ficaria eternamente célebre por um curioso momento de puro amor à camisola!

Numa altura em que os jogadores não estavam vinculados contratualmente aos seus clubes, podendo jogar livremente pelo emblema que bem entendessem durante a mesma época (!), o FC Porto partia para a capital da Beira Litoral desfalcado de um dos seus melhores elementos, Magalhães Bastos.
Valoroso e dedicado atleta, José de Magalhães Bastos deixara o Porto - clube e a cidade - para se fixar em... Coimbra, para onde foi estudar Direito. Ora, na Invicta as cautelas eram agora muitas, não só porque a Académica havia provado na época anterior que no football não havia vencedores antecipados, e efetivamente porque tinha no seu grupo um naipe de bons jogadores, mas sobretudo porque se dizia à boca cheia que o magnífico defesa/médio Magalhães Bastos iria vestir de negro, o negro da Briosa Académica. O dia da final chegou, e assim que portistas e academistas entraram em campo vislumbrou-se Magalhães Bastos com a sua capa de estudante a cobrir-lhe o equipamento. Perante esta imagem os da casa não tinham dúvidas que o valoroso jogador estava do lado dos estudantes, mas rapidamente o entusiasmo derivado de tal visão deu lugar ao desânimo. De ar calmo, semblante alegre, Magalhães Bastos despe lentamente a capa negra que o cobria, entrega-o a um amigo e junta-se à... equipa do seu amado FC Porto.
Reza a história que foi um momento emocionante, e alguns jogadores portistas não conseguiram mesmo conter as lágrimas perante esta autêntica prova de amor ao clube dada por um homem que anos mais tarde haveria de ser um renomeado juíz. O resultado desse jogo desconhece-se, apenas se sabe que o FC Porto reconquistou o troféu, trazendo-o de volta para a Invicta, de onde aliás nunca mais iria sair, até porque dizia o regulamento da Taça Monteiro da Costa que o clube que vencesse três vezes a competição ficaria para sempre na posse do troféu.
1914 seria um ano agridoce para as cores azuis e brancas, já que a vitória na Taça Monteiro da Costa foi seguida de uma campanha dececionante na primeira edição do primeiro campeonato do norte oficial, isto é, organizado pela AFP. Nessa prova os portistas ficariam em segundo lugar, atrás do vizinho e rival Boavista.

Académico do Porto estreia-se numa época de domínio avassalador dos portistas

Já com um papel secundário no panorama futebolístico do norte a quinta edição da Taça Monteiro da Costa não teve grande história. O FC Porto venceu de forma categórica o título pela quarta vez. De maneira categórica e fácil, há que sublinhá-lo, já que nunca os seus oponentes se terão apresentado tão fragilizados. Entre estes estava o Académico do Porto, equipa muito jovem e sem experiência nestas andanças que mesmo assim surpreendeu um experiente Leixões por impensáveis 7-0 (!) no jogo inaugural do certame.
Leixonenses que tiveram uma prestação para lá de medíocre nesta edição, já que no confronto com os portistas seriam novamente derrotados, desta feita por 0-3. Sem Boavista e Académica de Coimbra, que declinaram o convite para participar uma vez mais na Taça Monteiro da Costa, FC Porto e Académico disputaram entre si a final na Constituição, tendo a vitória pertencido aos primeiros por escassos e renhidos 4-3.
Ao que parece os inexperientes academistas fizeram uma grande exibição, mas terá faltado uma ponta de... experiência para vergar o poderoso combinado azul e branco, o qual nessa mesma temporada (14/15) iria vencer pela primeira vez o Campeonato do Norte... organizado pela AFP.

Final igual ao princípio...

E na época de 1915/16 a Taça Monteiro da Costa conhece o seu capítulo final. Quatro clubes inscreveram-se na última edição do certame, nomeadamente os anfitriões FC Porto, o regressado Boavista, o Académico do Porto, e a novidade Sport Grupo e Salgueiros, que mais tarde seria rebatizado de Sport Comércio e Salgueiros. Salgueiristas que tiveram o seu batismo de fogo ante os portistas, perdendo por 1-2. No encontro seguinte o Salgueiros deu mais uma prova da sua inexperiência ao ser batido por 1-4 pelo bem organizado team do Académico, emblema este que mais tarde seria batido pelo mesmo resultado pelo FC Porto. Na partida decisiva os portistas derrotaram por 2-0 o Boavista, encerrando assim a famosa competição da mesma maneira que a iniciaram, ou seja, a vencer.

Legenda das fotografias:
1-A Taça Monteiro da Costa
2-José Monteiro da Costa
3-Ivo Lemos
4-A comissão instaladora da Taça Monteiro da Costa
5-Equipa do FC Porto que venceu a primeira edição da competição
6-O valoroso guarda-redes Manuel Valença
7-O "onze" portista que em 1912 conquistou o bi-campeonato do norte
8-A medalha que os campeões da Taça Monteiro da Costa receberam em 1911/12
9-O conjunto da Académica de Coimbra em 1913, o intruso na lista de campeões
10-Momento do jogo final de 1913 entre Académica e FC Porto, com o público em cima do acontecimento!
11-O FC Porto campeão da Taça Monteiro da Costa em 1914
12-O lendário jogador Magalhães Bastos, figura central da quarta edição
13-A turma do Boavista, a primeira campeã oficial do norte... segundo a Associação de Futebol do Porto
14-O diploma que acompanhava a medalha de campeão da Taça Monteiro da Costa atribuído a cada jogador
15-A última equipa do FC Porto a vencer a prova

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