MATATEU
(Futebol): É com enorme prazer que hoje apresentamos uma das maiores lendas do
futebol português. O seu nome é Sebastião Lucas da Fonseca, ou simplesmente
Matateu. Diz quem o viu jogador que foi um verdadeiro fenómeno, um jogador de
uma classe ímpar mas que viveu um tudo ou nada adiantado no tempo, ou seja,
viveu fora das épocas das grandes conquistas do futebol português. Faltou-lhe
jogar a fase final de um Mundial, de um Europeu, discutir uma final da Taça dos
Campeões Europeus, e quem sabe ter jogado num grande do futebol lusitano, coisa
que nunca fez, pois se assim não fosse talvez estaríamos hoje aqui a discutir
quem tinha sido o melhor jogador lusitano de todos os tempos, se Eusébio, se
Figo, se Cristiano Ronaldo, ou se Matateu. Por aqui já dá para ver que este
homem foi um gigante do mundo da bola. Vamos também falar de um ser humano cujo
nome se confunde com o de um clube, o Belenenses, o emblema do seu coração, o
emblema que o tornou célebre e... que ele também ajudou a tornar célebre. Devo
confessar aos ilustres visitantes que escrever sobre Matateu me deu enorme
prazer, pois sempre ouvi maravilhas deste homem, e sinto uma profunda tristeza
em não o ter visto actuar pelo menos uma única vez na vida.
Este
mito do futebol luso nasceu a 26 de julho de 1927, em Lourenço Marques,
Moçambique, a mesma terra que anos mais tarde via nascer outros génios da bola
como Eusébio ou Coluna. Filho de Lucas Matambo e de Margarida Heliodoro o
menino Sebastião nasceu no bairro de Alto Mahé, onde como tantos outros ficou
enfeitiçado pela bola desde cedo, começando a jogar de pé descalço na terra
batida e de tronco nu ao frio ou calor do clima tropical do país de onde veio
ao Mundo. Sebastião foi o terceiro filho do casal Lucas e Margarida, tendo
depois de si nascido mais cinco irmãos, entre os quais Vicente, um rapazinho
que um dia haveria de ser considerado como o único homem que conseguiu travar
Pelé. Menino Sebastião viveu uma infância pobre, como a maior parte das
crianças daquele tempo. A tristeza da pobreza era porém eclipsada pela paixão
pelo futebol. No Alto de Mahé não havia uma só alma que não conhecesse o menino
hábil e gingão com a bola nos pés. Por aquela altura Matateu era já o seu nome
de guerra. Uma alcunha que segundo o próprio Sebastião Lucas dizia derivar da
sua infância, ou seja, que "tateu" em landim significava pele a cair,
ou crosta, e que a verdadeira origem desta alcunha residia no facto de «em
criança quando me magoava, não tinha paciência para aguardar que a ferida
secasse, arrancava a crosta antes de tempo». Menino Sebastião que desde cedo
torceu o nariz aos estudos para grande desgosto – e arrelia, por vezes – de sua
mãe, a qual não teve outro remédio senão conformar-se com o caminho traçado por
este diamante que despontava nas ruas de Moçambique.
O início da aventura
Aos 16
anos Matateu deu o pontapé de saída de uma carreira fabulosa quando ingressou
no João Albasini, clube este onde despontava o seu irmão mais velho. O seu
talento fez com que estivesse por pouco tempo por estas paragens, já que tempos
mais tarde foi contratado pelo 1º de Maio, o clube filial do Belenenses naquele
país africano. Dali transitou para o Manjacaze, emblema este que lhe ofereceu
um emprego como contrapartida para defender a sua camisola. E a estreia ao
serviço daquele colectivo moçambicano foi de tal forma coroada de êxito que no
final desse primeiro encontro o lendário Matateu seria abordado pelo árbitro do
jogo, João Pedro Belo, um homem que enquanto jogador defendeu com brilho as
cores do Belenenses e da própria Seleção Nacional, que lhe perguntaria se
estaria disposto a ir para Lisboa. Embora Matateu ficasse surpreso perante tal
convite o que é certo é que muito poucos naquela metrópole portuguesa
acreditavam que seria possível segurar por muito mais tempo o astro da bola,
não sendo de estranhar que à cidade de Lourenço Marques (atual Maputo) tivessem
chegado propostas de clubes como o Benfica, o FC Porto, e o União de Coimbra.
As notícias dos feitos extraordinários do diamante negro em terras africanas
continuavam a chegar em catadupa a Portugal, e tomando conhecimento das mesmas
o Belenenses não perdeu tempo em enviar um telegrama para Lourenço Marques
pedindo à pérola africana que esquecesse a proposta de João Pedro Belo e ao
invés disso apanhasse o primeiro avião para Lisboa onde à sua espera estariam
responsáveis pelo emblema da Cruz de Crsito. «Tratar tudo urgentemente stop
Matateu embarque Lisboa primeiro avião stop», assim ditava o famoso telegrama.
Chegada a Lisboa... e estreia de sonho
E assim
foi, Matateu fez as malas e partiria rumo ao estrelato. Aterrou na capital
portuguesa a 4 de setembro de 1951 para assinar um contrato de 30 contos de
luvas com o Belenenses, clube no qual passaria a usufruir de um ordenado mensal
de 1600 escudos. A estreia com a camisola azul deu-se ante o FC Porto, no
Estádio Nacional, num desafio a contar para a Taça Maia Loureiro. Nesse dia as
ímpares qualidades do artista moçambicano ficariam desde logo vincadas, mas a
consagração ocorreria uma semana mais tarde num jogo alusivo ao Campeonato
Nacional da 1ª Divisão diante do Sporting. Nesse dia Matateu foi o diabo à
solta, no bom sentido, colocando os “leões” em absoluto pânico perante a sua
genialidade. O país pasmou ao ver aquele rapaz negro espalhar magia com a bola
nos pés. Senhor de um drible curto “diabólico” e desconcertante, possuidor de
um arranque notável e de um poderoso remate esta força da Natureza foi sem
sombra para dúvida o destaque daquele célebre jogo que terminaria com a vitória
dos azuis de Belém por 4-3. O génio marcaria dois golos, sendo que no final da
partida os entusiastas adeptos belenenses invadiram o campo para carregar
Matateu em ombros numa imagem que ficaria célebre. Naquele dia nascia o novo
rei do futebol português. Dali em diante escusado será dizer que Matateu seria
a estrela maior do Belenenses e do próprio futebol português, pelo menos até à
chegada de outro génio oriundo de Moçambique, Eusébio.
Bolas de Prata e Seleção Nacional
Na sua
segunda época em Portugal, 52/53, venceria a Bola de Prata, prestigiado troféu
atribuído ao melhor marcador do principal campeonato nacional fruto dos seus 29
golos. Nessa mesma época os responsáveis da seleção portuguesa não hesitaram em
chamar o novo mago da bola lusitana para defender as cores da equipa nacional.
Um facto ocorrido a 23 de novembro de 1952 diante da Áustria, no Estádio das
Antas (Porto). O primeiro golo com as quinas ao peito deu-se um ano mais tarde
num jogo amigável diante da África do Sul realizado no Estádio Nacional. Ao
todo foram 13 os tentos que Matateu apontou nas 27 ocasiões que representou
Portugal, tendo a última delas ocorrido a 22 de maio de 1960 perante a
Jugoslávia numa partida de apuramento para a Taça das Nações Europeias (prova
que anos mais tarde seria rebaptizada de Campeonato da Europa). O instinto
matador do astro voltaria a ser premiado na temporada de 54/55, altura em que
arrecadou a sua segunda Bola de Prata como consequência dos seus 32 remates
certeiros no Nacional da 1ª Divisão.
Curiosamente,
nesta mesma temporada, o Belenenses escrevia aquela que muitos consideram como
a página mais triste da sua glorisosa história, a época em que perderia o
título nacional no derradeiro jogo do campeonato. Um facto ocorrido a 24 de abril
de 1955, com o desaparecido Campo das Salésias como palco do famigerado
episódio. Os intervenientes do duelo davam pelo nome de Belenenses e Sporting e
caso os primeiros vencessem sagravam-se pela segunda vez na sua vida campeões
de Portugal. A quatro minutos do final os azuis de Belém venciam por 2-1 o seu
rival de Lisboa e os foguetes da festa começavam a ser preparados. No entanto,
o sportinguista Martins tratou de estragar os festejos ao apontar o golo da
igualdade que desta forma retirava o título ao Belenenses e oferecia-o ao
Benfica. Matateu chorou nesse dia. Um dos seus maiores sonhos – que anos mais
tarde confessaria – havia sido eclipsado a quatro minutos do final de um jogo
de futebol. Nunca conseguiria ser campeão nacional ao serviço do seu
Belenenses. Assim como nunca conseguiu bater o recorde de golos na Selecção
Nacional – outro sonho particular – nem abrir a tão desejada cervejaria na zona
de Belém.
Paixão pela cervejinha
Este
último sonho é como que um derivado de outra das grandes paixões do astro: a
cerveja. Diz quem com ele de perto conviveu que bebia 30 cervejas por dia!
Fosse que dia fosse, dia de jogo incluído. Aliás, há uma história contraditória
sobre este facto, já que uns dizem que sabendo deste particular vício de
Matateu os responsáveis do Belenenses autorizavam-no a beber a cervejinha da
prache no intervalo dos jogos, sendo que apenas ele o podia fazer, ao passo que
a restante equipa bebia o habitual cházinho. Outros porém, dizem que ele
desafiava as ordens dos treinadores e dirigentes azuis e ingeria mais do que
uma cerveja por jogo, já que alguém lhas escondia atrás das sanitas dos
balneários! Voltando aos títulos, o único que conquistou ao serviço do
Belenenses foi a Taça de Portugal de 1960 diante do... Sporting. É verdade, os
“leões” sempre no caminho de Matateu, no melhor e no pior. Neste caso no
melhor, já que uma vitória por 2-1, com o tento da vitória a ser apontado por
menino Sebastião, daria a segunda taça da história ao emblema azul. Outra
história curiosa retrata o nascimento da única filha de Matateu, fruto do seu
primeiro casamento. Jogava-se um Portugal – Argentina no Estádio Nacional e no
desenrolar do encontro a instalação sonora do recinto dá conta do nascimento do
primeiro rebento do craque nacional que na hora de escolher um nome para a sua
menina optou por... Argentina. Original, no mínimo. Por falar em partidas
internacionais não é demais sublinhar que o reconhecimento além-fronteiras pelo
génio tivesse começado bem cedo. Na edição de 1955 da Taça Latina (a
antecessora da Taça dos Campeões Europeus) a imprensa internacional rendeu-se a
Matateu em consequência das suas sublimes exibições nos relvados parisienses
(Paris acolheu a fase final dessa Taça Latina) que ofuscaram génios como Di
Stéfano e Kopa.
O declínio? Não para Matateu
Os anos
foram-se passando e pessoas existiram no universo futebolístico que começaram a
duvidar das capacidades do génio. Caso de Fernando Vaz, célebre treinador que
na altura de assumir os destinos do Belenenses colocou de imediato em causa a
utilidade do jogador ao clube. Em novembro de 1964 os responsáveis do
Belenenses prometem-lhe uma grande festa de homenagem... quase em jeito de
despedida, para no mês seguinte o terem dispensado! Um dos poucos a opor-se a
esta precipitada decisão foi o histórico dirigente azul Acácio Rosa, para o
qual Matateu ainda poderia ser muito útil ao Belenenses. Clube pelo qual
contabilizou números impressionantes: 217 golos em 291 jogos realizados na 1ª
Divisão! Só na 1ª Divisão, pois se juntarmos os apontados na Taça de Portugal,
nas competições europeias (Taça Latina e Taça das Cidades com Feira), e noutras
provas secundárias a marca assume proporções assombrosas. Mas o que é certo é
que o génio oriundo de Lourenço Marques abandonou o clube do seu coração, mas
não o fez em relação ao futebol. A sua carreira estava ainda muito longe de
terminar, tal como se viria a verificar.
Em
1965/66 ajudou o Atlético a subir à 1ª Divisão Nacional, e aos 41 anos assinou
pelo Amora, que na altura se encontrava nos campeonatos distritais, e também aí
fez história já que ajudou o pequeno clube a subir e a cimentar-se nos
campeonatos nacionais. Antes do Amora uma fugaz passagem pelo Gouveia veio
provar que Matateu ainda estava bem vivo. Foi então que decidiu emigrar, mais
concretamente para o Canadá, onde encantaria um povo carente de grandes
momentos de futebol. Foi estrela num país onde o futebol assume um papel
secundário. Ali jogaria no First Portuguese para pouco depois regressar a
Portugal para uma nova aventura em Chaves no Desportivo local. No entanto, em
1969 regressa ao Canadá para vestir a camisola do Sagres de Vitória onde
jogaria até aos 55 anos! E naquele país da América do Norte viveria até ao
final da sua vida, ali casaria uma segunda vez, ali viria a falecer a 27 de janeiro
de 2000 com 72 anos com o seu Belenenses sempre no coração. Viajando pelo mundo
virtual em busca de testemunhos capazes de abrilhantar as modestas linhas por
mim acabadas de elaborar em torno deste génio encontrei duas pérolas
jornalísticas de grande interesse que descrevem um pouco da vida desta lenda do
futebol mundial. Uma é da autoria de um homem que muito admiro enquanto
jornalista, Rui Miguel Tovar, que por alturas do 10º aniversário da morte de
Matateu entrevistou para o jornal “I” um homem que teve o privilégio de treinar
o astro africano. Outra é senão mais do que uma compliação de relatos feitos na
primeira pessoa – pelo próprio Matateu – ao jornal “A Bola” aquando da sua
passagem pelo Amora. Aqui ficam:
Por:
Rui Miguel Tovar
«Maputo,
capital de Moçambique e antigamente conhecida como Lourenço Marques, é a
terceira cidade com mais internacionais na selecção portuguesa, depois de
Lisboa e Porto. Ao todo, são 16 e há de quase tudo, menos guarda-redes (Costa
Pereira nasceu lá perto, em Nacala). Nomes clássicos como Eusébio, Coluna,
Hilário, Juca, Vicente, Matine, os gémeos Pedro e Carlos Xavier saltam à vista
mas só um foi apelidado pelos ingleses de oitava maravilha do mundo: Sebastião
Lucas da Fonseca, ou Matateu. O i faz-lhe aqui a homenagem, precisamente no dia
em que se celebra o 10.o aniversário da sua morte. Artur Quaresma, tio-avô de
Ricardo (o do Inter), hoje com 93 anos, que treinou o avançado no Belenenses
confirma-nos: "Matateu era uma maravilha." Para já, a pergunta
sacramental: quem foi Matateu? "Isso agora, pfff. Bem, vou tentar ser
prático. Era um fenómeno que, infelizmente, nunca foi campeão, embora andasse
lá perto [em 1954-55, o Sporting empatou 2-2 nas Salésias, na última jornada,
com um golo aos 86', e roubou o título ao Belenenses, a favor do Benfica]. Era
grande, musculoso e encorpado. Impunha-se facilmente pelo físico e destacava-se
pelo arranque, pelas passadas com a bola controlada, pelo remate forte ou em
jeito, pelo drible. Era uma força da natureza." E que fez Matateu?
"Além de marcar golos a torto e a direito [218 em 289 jogos na 1.a
divisão], muitos deles impossíveis, outros banais, que lhe garantiram o título
de melhor marcador da 1.ª divisão [29 golos em 26 jogos na época 1952-53 e 32
em 26 na de 1954-55], era um autêntico quebra-cabeças. Equipas como Sporting,
FC Porto e Benfica marcavam-no homem a homem, num tempo em que nem se pensava
nessas modernices. Ele chegou a Portugal [4 de Setembro de 1951] com um
contrato de fazer rir e ao mesmo tempo de fazer corar de vergonha os actuais
jogadores [30 contos de luvas e 1600 escudos de salário por mês], três meses
depois de eu abandonar o futebol. Não nos cruzámos por pouco, mas fiquei feliz
por ver a estreia ao vivo, num Belenenses-Sporting numa 1.ª jornada. Ganhámos
4-3, com dois golos dele, o último dos quais aos 88 minutos, e ele foi
carregado em ombros pelos adeptos até aos balneários. Logo aí ficou conhecido
como astro pela imprensa portuguesa." A alcunha da oitava maravilha do
mundo veio mais tarde. Em Maio de 1955, a Inglaterra perdeu pela primeira vez
com Portugal (3-1 no Jamor) e os jornalistas britânicos, sobretudo o enviado do
"Daily Sketch", um tablóide nascido em Manchester nos anos 20 e que
foi sugado na década de 70 pelo "Daily Mail", descreveu Matateu da
seguinte forma: "Um negro sempre sorridente, de Moçambique, é, esta noite,
o rei do futebol português. Lá foi-lhe dado o nome de Lucas, mas há muito tempo
que já ninguém se preocupa com isso. Passaram-lhe a chamar Matateu - um cognome
que significa oitava maravilha do mundo - desde que começou a driblar como um
mago e a chutar como um canhão. Fomos derrotados por essa oitava maravilha que
rebaixou e humilhou uma Inglaterra destroçada e inebriada. E não há
justificação porque, com excepção do maravilhoso Matateu, o grupo português é
uma equipa de passeantes, com apenas uma vitória nos últimos 19 jogos." A
coisa não se fica por aqui. Nesse mesmo ano, Matateu foi eleito pela imprensa
como o melhor jogador da Taça Latina-55, precursora da Taça dos Campeões, à
frente de Di Stéfano e Puskas, ambos do Real Madrid. Como titulava a revista
"Miroir Sprint", "Di Stéfano perdeu o sorriso frente a
Matateu". Em 1957, o Belenenses fez uma digressão pelo Brasil e jogou no
Maracanã, onde Matateu atirou três à barra antes de Pelé marcar os primeiros
golos internacionais no misto Vasco/Santos. Só para acabar, em 1959, num
RDA-Portugal de qualificação para o Europeu, em Berlim, o nome de Matateu é
entoado por militares alemães que o rodeiam no final do jogo, ao ponto de ele
perguntar ao jornalista Aurélio Márcio: "Vistes os russos a chamar pelo
meu nome?" Tudo em nome do futebol. E sempre com uma cervejinha ao
intervalo, a sua imagem de marca. E lá voltamos ao Artur Quaresma. "Comigo
a treiná-lo, nunca bebeu. Pedi-lhe com bons modos e ele acatou. Ficava no
balneário a ouvir-me e a motivar os mais novos. Naquela altura a gente
entendia-se mais facilmente que agora, em que um futebolista ganha mais que um
treinador, o manda passear, faz o que lhe apetece." Depois do Belenenses,
onde ganha a Taça de Portugal-60 ao Sporting, Matateu ainda joga no Atlético,
que ajuda a subir à 1ª divisão em 1966. No posterior pingue-pongue entre
Américas (First Portugueses e Sagres da Vitória) e Portugal (Gouveia, Amora e
Chaves), só acaba a carreira aos 55 anos.
Excerto
da entrevista ao Jornal "A BOLA" 18/01/69 . E foi então que na época
1968/69, que Lucas Sebastião da Fonseca, mais conhecido por Matateu, ingressou
no AMORA FUTEBOL CLUBE . Talvez numa das épocas mais lindas do clube, e ele
contava com 41 anos de idade, mas parecia que tinha 19. Foi no dia 20/10/68
pelas 15 horas, e a contar para a 1ª. Jornada do Campeonato Distrital da
1ªDivisão da Associação de Futebol de Setúbal, que Matateu reapareceu para o
futebol. O Amora F.C. recebeu o Monte - Caparica, e venceu por 3-1, marcando
Matateu o segundo golo.
Na
primeira página do Jornal "A BOLA" lia-se. AMORA CEMITÉRIO ADIADO.
MATATEU A TRÊS CONTOS POR MÊS. «O Angenja, que era o treinador do Amora,
perguntou-me se eu estava interessado, e eu perguntei quais eram as condições e
depois aceitei. Muita gente me tem dito, então Lucas, tu foste internacional
tantas vezes, aceitas ir jogar para um clube assim que nem é da 3ª. Divisão?
«Mas eu respondi sempre que isso não me interessava, futebol é futebol e é
igual em toda a parte, isso de divisões tanto me faz, a primeira como a segunda
ou a terceira, são só números e nada mais. O futebol é só um e é sempre o
mesmo, o que importa é que eu me dê bem com os colegas e com toda a gente e que
o dinheiro não falte no fim do mês...»
Excerto
da entrevista ao Jornal "A BOLA" 18/01/69 O Campo da Medideira
registava na altura enchentes e muitos dos adeptos eram do Belenenses, que
preferiam ir ver o Matateu a jogar pelo Amora. As receitas na altura aumentaram,
mas isso não chegava. O Amora F.C. teve na altura grandes despesas. Foi a
electrificação do campo, foi a construção de novos balneários, o treinador
Angenja ganhava 3.500 escudos por mês e Matateu 3.000 escudos. Era muito
dinheiro para um clube como o Amora F.C. Para ultrapassar isso, alguns amigos
do Amora, conseguiram arranjar um grupo de sócios especiais, cujas quotas se
destinavam especialmente a custear o ordenado de Matateu. A resposta de
Matateu, para além de meter o clube nos nacionais de futebol, do qual ainda
permanece, pois o Amora F.C. subiu à 3ª Divisão Nacional e nunca mais, até hoje
voltou aos distritais, foi: «Em Amora, o ambiente é maravilhoso. É um clube
pequeno que têm grandes despesas, mas em pagamentos, nunca falha, no fim do mês,
recebemos o ordenado, depois de quinze em quinze dias, pagam-nos os prémios.
Assim, nunca é preciso meter vales, a gente já sabe, é só esperar por esses
dias»
Excerto
da entrevista ao Jornal "A BOLA" 18/01/69 Na Amora, Matateu foi
tratado carinhosamente por toda a gente, conseguindo ser pela primeira vez na
sua longa e gloriosa carreira, CAMPEÃO. Não foi nacional, mas sim distrital,
obtendo 21 golos, através da sua magnifica experiência garantindo o título de
Rei dos Marcadores da Ass. Fut. Setúbal. Para além desses títulos, Matateu e o
Amora F.C. conseguiram ganhar a TAÇA SOCER. Na final derrotaram o Seixal F.C.
por 1-0, numa dessas jogadas geniais, Matateu após várias fintas correu à linha
de fundo, centrou primorosamente para Toni Brito, que à vontade marcou o único
golo da partida. Iam decorridos 35 minutos. A cerveja sempre foi a bebida
preferida de Matateu. Em entrevista ao Jornal "A BOLA" no dia
18/01/69 disse: «Tenho 41 anos, mas parece que tenho 19, porque estou
conservado em cerveja». «Acredite, quando não bebo cerveja, não sou o mesmo,
sinto-me mal e o meu rendimento é sempre inferior» . « É verdade, se eu não
bebesse cerveja, já teria arrumado as botas há muito tempo». Assim, enquanto o
resto da equipa se contentava com o cházinho do costume, Matateu bebia a sua
cervejinha.
Legenda
das fotografias:
1-
Sebastião Lucas da Fonseca... o popular Matateu
2- O
pequeno Sebastião ladeado pelas mulheres da sua família
3- O
estilo inconfundível do astro moçambicano
4-
Levado em ombros pelos adeptos do Belenenses após a uma estreia de sonho diante
do Sporting no Nacional da 1ª Divisão
5- Com
Travassos na Seleção Nacional
6- O
diretor do jornal "A Bola", Ribeiro dos Reis, entrega a Matateu uma
das duas Bolas de Prata conquistadas pelo craque
7- Num
desafio diante do Sporting
8- O
cantinho de Matateu no Museu do Belenenses
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