sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Flashes Biográficos (10): Matateu


MATATEU (Futebol): É com enorme prazer que hoje apresentamos uma das maiores lendas do futebol português. O seu nome é Sebastião Lucas da Fonseca, ou simplesmente Matateu. Diz quem o viu jogador que foi um verdadeiro fenómeno, um jogador de uma classe ímpar mas que viveu um tudo ou nada adiantado no tempo, ou seja, viveu fora das épocas das grandes conquistas do futebol português. Faltou-lhe jogar a fase final de um Mundial, de um Europeu, discutir uma final da Taça dos Campeões Europeus, e quem sabe ter jogado num grande do futebol lusitano, coisa que nunca fez, pois se assim não fosse talvez estaríamos hoje aqui a discutir quem tinha sido o melhor jogador lusitano de todos os tempos, se Eusébio, se Figo, se Cristiano Ronaldo, ou se Matateu. Por aqui já dá para ver que este homem foi um gigante do mundo da bola. Vamos também falar de um ser humano cujo nome se confunde com o de um clube, o Belenenses, o emblema do seu coração, o emblema que o tornou célebre e... que ele também ajudou a tornar célebre. Devo confessar aos ilustres visitantes que escrever sobre Matateu me deu enorme prazer, pois sempre ouvi maravilhas deste homem, e sinto uma profunda tristeza em não o ter visto actuar pelo menos uma única vez na vida.

Este mito do futebol luso nasceu a 26 de julho de 1927, em Lourenço Marques, Moçambique, a mesma terra que anos mais tarde via nascer outros génios da bola como Eusébio ou Coluna. Filho de Lucas Matambo e de Margarida Heliodoro o menino Sebastião nasceu no bairro de Alto Mahé, onde como tantos outros ficou enfeitiçado pela bola desde cedo, começando a jogar de pé descalço na terra batida e de tronco nu ao frio ou calor do clima tropical do país de onde veio ao Mundo. Sebastião foi o terceiro filho do casal Lucas e Margarida, tendo depois de si nascido mais cinco irmãos, entre os quais Vicente, um rapazinho que um dia haveria de ser considerado como o único homem que conseguiu travar Pelé. Menino Sebastião viveu uma infância pobre, como a maior parte das crianças daquele tempo. A tristeza da pobreza era porém eclipsada pela paixão pelo futebol. No Alto de Mahé não havia uma só alma que não conhecesse o menino hábil e gingão com a bola nos pés. Por aquela altura Matateu era já o seu nome de guerra. Uma alcunha que segundo o próprio Sebastião Lucas dizia derivar da sua infância, ou seja, que "tateu" em landim significava pele a cair, ou crosta, e que a verdadeira origem desta alcunha residia no facto de «em criança quando me magoava, não tinha paciência para aguardar que a ferida secasse, arrancava a crosta antes de tempo». Menino Sebastião que desde cedo torceu o nariz aos estudos para grande desgosto – e arrelia, por vezes – de sua mãe, a qual não teve outro remédio senão conformar-se com o caminho traçado por este diamante que despontava nas ruas de Moçambique.

O início da aventura

Aos 16 anos Matateu deu o pontapé de saída de uma carreira fabulosa quando ingressou no João Albasini, clube este onde despontava o seu irmão mais velho. O seu talento fez com que estivesse por pouco tempo por estas paragens, já que tempos mais tarde foi contratado pelo 1º de Maio, o clube filial do Belenenses naquele país africano. Dali transitou para o Manjacaze, emblema este que lhe ofereceu um emprego como contrapartida para defender a sua camisola. E a estreia ao serviço daquele colectivo moçambicano foi de tal forma coroada de êxito que no final desse primeiro encontro o lendário Matateu seria abordado pelo árbitro do jogo, João Pedro Belo, um homem que enquanto jogador defendeu com brilho as cores do Belenenses e da própria Seleção Nacional, que lhe perguntaria se estaria disposto a ir para Lisboa. Embora Matateu ficasse surpreso perante tal convite o que é certo é que muito poucos naquela metrópole portuguesa acreditavam que seria possível segurar por muito mais tempo o astro da bola, não sendo de estranhar que à cidade de Lourenço Marques (atual Maputo) tivessem chegado propostas de clubes como o Benfica, o FC Porto, e o União de Coimbra. As notícias dos feitos extraordinários do diamante negro em terras africanas continuavam a chegar em catadupa a Portugal, e tomando conhecimento das mesmas o Belenenses não perdeu tempo em enviar um telegrama para Lourenço Marques pedindo à pérola africana que esquecesse a proposta de João Pedro Belo e ao invés disso apanhasse o primeiro avião para Lisboa onde à sua espera estariam responsáveis pelo emblema da Cruz de Crsito. «Tratar tudo urgentemente stop Matateu embarque Lisboa primeiro avião stop», assim ditava o famoso telegrama.

Chegada a Lisboa... e estreia de sonho

E assim foi, Matateu fez as malas e partiria rumo ao estrelato. Aterrou na capital portuguesa a 4 de setembro de 1951 para assinar um contrato de 30 contos de luvas com o Belenenses, clube no qual passaria a usufruir de um ordenado mensal de 1600 escudos. A estreia com a camisola azul deu-se ante o FC Porto, no Estádio Nacional, num desafio a contar para a Taça Maia Loureiro. Nesse dia as ímpares qualidades do artista moçambicano ficariam desde logo vincadas, mas a consagração ocorreria uma semana mais tarde num jogo alusivo ao Campeonato Nacional da 1ª Divisão diante do Sporting. Nesse dia Matateu foi o diabo à solta, no bom sentido, colocando os “leões” em absoluto pânico perante a sua genialidade. O país pasmou ao ver aquele rapaz negro espalhar magia com a bola nos pés. Senhor de um drible curto “diabólico” e desconcertante, possuidor de um arranque notável e de um poderoso remate esta força da Natureza foi sem sombra para dúvida o destaque daquele célebre jogo que terminaria com a vitória dos azuis de Belém por 4-3. O génio marcaria dois golos, sendo que no final da partida os entusiastas adeptos belenenses invadiram o campo para carregar Matateu em ombros numa imagem que ficaria célebre. Naquele dia nascia o novo rei do futebol português. Dali em diante escusado será dizer que Matateu seria a estrela maior do Belenenses e do próprio futebol português, pelo menos até à chegada de outro génio oriundo de Moçambique, Eusébio.

Bolas de Prata e Seleção Nacional

Na sua segunda época em Portugal, 52/53, venceria a Bola de Prata, prestigiado troféu atribuído ao melhor marcador do principal campeonato nacional fruto dos seus 29 golos. Nessa mesma época os responsáveis da seleção portuguesa não hesitaram em chamar o novo mago da bola lusitana para defender as cores da equipa nacional. Um facto ocorrido a 23 de novembro de 1952 diante da Áustria, no Estádio das Antas (Porto). O primeiro golo com as quinas ao peito deu-se um ano mais tarde num jogo amigável diante da África do Sul realizado no Estádio Nacional. Ao todo foram 13 os tentos que Matateu apontou nas 27 ocasiões que representou Portugal, tendo a última delas ocorrido a 22 de maio de 1960 perante a Jugoslávia numa partida de apuramento para a Taça das Nações Europeias (prova que anos mais tarde seria rebaptizada de Campeonato da Europa). O instinto matador do astro voltaria a ser premiado na temporada de 54/55, altura em que arrecadou a sua segunda Bola de Prata como consequência dos seus 32 remates certeiros no Nacional da 1ª Divisão.

Curiosamente, nesta mesma temporada, o Belenenses escrevia aquela que muitos consideram como a página mais triste da sua glorisosa história, a época em que perderia o título nacional no derradeiro jogo do campeonato. Um facto ocorrido a 24 de abril de 1955, com o desaparecido Campo das Salésias como palco do famigerado episódio. Os intervenientes do duelo davam pelo nome de Belenenses e Sporting e caso os primeiros vencessem sagravam-se pela segunda vez na sua vida campeões de Portugal. A quatro minutos do final os azuis de Belém venciam por 2-1 o seu rival de Lisboa e os foguetes da festa começavam a ser preparados. No entanto, o sportinguista Martins tratou de estragar os festejos ao apontar o golo da igualdade que desta forma retirava o título ao Belenenses e oferecia-o ao Benfica. Matateu chorou nesse dia. Um dos seus maiores sonhos – que anos mais tarde confessaria – havia sido eclipsado a quatro minutos do final de um jogo de futebol. Nunca conseguiria ser campeão nacional ao serviço do seu Belenenses. Assim como nunca conseguiu bater o recorde de golos na Selecção Nacional – outro sonho particular – nem abrir a tão desejada cervejaria na zona de Belém.

Paixão pela cervejinha

Este último sonho é como que um derivado de outra das grandes paixões do astro: a cerveja. Diz quem com ele de perto conviveu que bebia 30 cervejas por dia! Fosse que dia fosse, dia de jogo incluído. Aliás, há uma história contraditória sobre este facto, já que uns dizem que sabendo deste particular vício de Matateu os responsáveis do Belenenses autorizavam-no a beber a cervejinha da prache no intervalo dos jogos, sendo que apenas ele o podia fazer, ao passo que a restante equipa bebia o habitual cházinho. Outros porém, dizem que ele desafiava as ordens dos treinadores e dirigentes azuis e ingeria mais do que uma cerveja por jogo, já que alguém lhas escondia atrás das sanitas dos balneários! Voltando aos títulos, o único que conquistou ao serviço do Belenenses foi a Taça de Portugal de 1960 diante do... Sporting. É verdade, os “leões” sempre no caminho de Matateu, no melhor e no pior. Neste caso no melhor, já que uma vitória por 2-1, com o tento da vitória a ser apontado por menino Sebastião, daria a segunda taça da história ao emblema azul. Outra história curiosa retrata o nascimento da única filha de Matateu, fruto do seu primeiro casamento. Jogava-se um Portugal – Argentina no Estádio Nacional e no desenrolar do encontro a instalação sonora do recinto dá conta do nascimento do primeiro rebento do craque nacional que na hora de escolher um nome para a sua menina optou por... Argentina. Original, no mínimo. Por falar em partidas internacionais não é demais sublinhar que o reconhecimento além-fronteiras pelo génio tivesse começado bem cedo. Na edição de 1955 da Taça Latina (a antecessora da Taça dos Campeões Europeus) a imprensa internacional rendeu-se a Matateu em consequência das suas sublimes exibições nos relvados parisienses (Paris acolheu a fase final dessa Taça Latina) que ofuscaram génios como Di Stéfano e Kopa.

O declínio? Não para Matateu

Os anos foram-se passando e pessoas existiram no universo futebolístico que começaram a duvidar das capacidades do génio. Caso de Fernando Vaz, célebre treinador que na altura de assumir os destinos do Belenenses colocou de imediato em causa a utilidade do jogador ao clube. Em novembro de 1964 os responsáveis do Belenenses prometem-lhe uma grande festa de homenagem... quase em jeito de despedida, para no mês seguinte o terem dispensado! Um dos poucos a opor-se a esta precipitada decisão foi o histórico dirigente azul Acácio Rosa, para o qual Matateu ainda poderia ser muito útil ao Belenenses. Clube pelo qual contabilizou números impressionantes: 217 golos em 291 jogos realizados na 1ª Divisão! Só na 1ª Divisão, pois se juntarmos os apontados na Taça de Portugal, nas competições europeias (Taça Latina e Taça das Cidades com Feira), e noutras provas secundárias a marca assume proporções assombrosas. Mas o que é certo é que o génio oriundo de Lourenço Marques abandonou o clube do seu coração, mas não o fez em relação ao futebol. A sua carreira estava ainda muito longe de terminar, tal como se viria a verificar.

Em 1965/66 ajudou o Atlético a subir à 1ª Divisão Nacional, e aos 41 anos assinou pelo Amora, que na altura se encontrava nos campeonatos distritais, e também aí fez história já que ajudou o pequeno clube a subir e a cimentar-se nos campeonatos nacionais. Antes do Amora uma fugaz passagem pelo Gouveia veio provar que Matateu ainda estava bem vivo. Foi então que decidiu emigrar, mais concretamente para o Canadá, onde encantaria um povo carente de grandes momentos de futebol. Foi estrela num país onde o futebol assume um papel secundário. Ali jogaria no First Portuguese para pouco depois regressar a Portugal para uma nova aventura em Chaves no Desportivo local. No entanto, em 1969 regressa ao Canadá para vestir a camisola do Sagres de Vitória onde jogaria até aos 55 anos! E naquele país da América do Norte viveria até ao final da sua vida, ali casaria uma segunda vez, ali viria a falecer a 27 de janeiro de 2000 com 72 anos com o seu Belenenses sempre no coração. Viajando pelo mundo virtual em busca de testemunhos capazes de abrilhantar as modestas linhas por mim acabadas de elaborar em torno deste génio encontrei duas pérolas jornalísticas de grande interesse que descrevem um pouco da vida desta lenda do futebol mundial. Uma é da autoria de um homem que muito admiro enquanto jornalista, Rui Miguel Tovar, que por alturas do 10º aniversário da morte de Matateu entrevistou para o jornal “I” um homem que teve o privilégio de treinar o astro africano. Outra é senão mais do que uma compliação de relatos feitos na primeira pessoa – pelo próprio Matateu – ao jornal “A Bola” aquando da sua passagem pelo Amora. Aqui ficam:

Por: Rui Miguel Tovar
«Maputo, capital de Moçambique e antigamente conhecida como Lourenço Marques, é a terceira cidade com mais internacionais na selecção portuguesa, depois de Lisboa e Porto. Ao todo, são 16 e há de quase tudo, menos guarda-redes (Costa Pereira nasceu lá perto, em Nacala). Nomes clássicos como Eusébio, Coluna, Hilário, Juca, Vicente, Matine, os gémeos Pedro e Carlos Xavier saltam à vista mas só um foi apelidado pelos ingleses de oitava maravilha do mundo: Sebastião Lucas da Fonseca, ou Matateu. O i faz-lhe aqui a homenagem, precisamente no dia em que se celebra o 10.o aniversário da sua morte. Artur Quaresma, tio-avô de Ricardo (o do Inter), hoje com 93 anos, que treinou o avançado no Belenenses confirma-nos: "Matateu era uma maravilha." Para já, a pergunta sacramental: quem foi Matateu? "Isso agora, pfff. Bem, vou tentar ser prático. Era um fenómeno que, infelizmente, nunca foi campeão, embora andasse lá perto [em 1954-55, o Sporting empatou 2-2 nas Salésias, na última jornada, com um golo aos 86', e roubou o título ao Belenenses, a favor do Benfica]. Era grande, musculoso e encorpado. Impunha-se facilmente pelo físico e destacava-se pelo arranque, pelas passadas com a bola controlada, pelo remate forte ou em jeito, pelo drible. Era uma força da natureza." E que fez Matateu? "Além de marcar golos a torto e a direito [218 em 289 jogos na 1.a divisão], muitos deles impossíveis, outros banais, que lhe garantiram o título de melhor marcador da 1.ª divisão [29 golos em 26 jogos na época 1952-53 e 32 em 26 na de 1954-55], era um autêntico quebra-cabeças. Equipas como Sporting, FC Porto e Benfica marcavam-no homem a homem, num tempo em que nem se pensava nessas modernices. Ele chegou a Portugal [4 de Setembro de 1951] com um contrato de fazer rir e ao mesmo tempo de fazer corar de vergonha os actuais jogadores [30 contos de luvas e 1600 escudos de salário por mês], três meses depois de eu abandonar o futebol. Não nos cruzámos por pouco, mas fiquei feliz por ver a estreia ao vivo, num Belenenses-Sporting numa 1.ª jornada. Ganhámos 4-3, com dois golos dele, o último dos quais aos 88 minutos, e ele foi carregado em ombros pelos adeptos até aos balneários. Logo aí ficou conhecido como astro pela imprensa portuguesa." A alcunha da oitava maravilha do mundo veio mais tarde. Em Maio de 1955, a Inglaterra perdeu pela primeira vez com Portugal (3-1 no Jamor) e os jornalistas britânicos, sobretudo o enviado do "Daily Sketch", um tablóide nascido em Manchester nos anos 20 e que foi sugado na década de 70 pelo "Daily Mail", descreveu Matateu da seguinte forma: "Um negro sempre sorridente, de Moçambique, é, esta noite, o rei do futebol português. Lá foi-lhe dado o nome de Lucas, mas há muito tempo que já ninguém se preocupa com isso. Passaram-lhe a chamar Matateu - um cognome que significa oitava maravilha do mundo - desde que começou a driblar como um mago e a chutar como um canhão. Fomos derrotados por essa oitava maravilha que rebaixou e humilhou uma Inglaterra destroçada e inebriada. E não há justificação porque, com excepção do maravilhoso Matateu, o grupo português é uma equipa de passeantes, com apenas uma vitória nos últimos 19 jogos." A coisa não se fica por aqui. Nesse mesmo ano, Matateu foi eleito pela imprensa como o melhor jogador da Taça Latina-55, precursora da Taça dos Campeões, à frente de Di Stéfano e Puskas, ambos do Real Madrid. Como titulava a revista "Miroir Sprint", "Di Stéfano perdeu o sorriso frente a Matateu". Em 1957, o Belenenses fez uma digressão pelo Brasil e jogou no Maracanã, onde Matateu atirou três à barra antes de Pelé marcar os primeiros golos internacionais no misto Vasco/Santos. Só para acabar, em 1959, num RDA-Portugal de qualificação para o Europeu, em Berlim, o nome de Matateu é entoado por militares alemães que o rodeiam no final do jogo, ao ponto de ele perguntar ao jornalista Aurélio Márcio: "Vistes os russos a chamar pelo meu nome?" Tudo em nome do futebol. E sempre com uma cervejinha ao intervalo, a sua imagem de marca. E lá voltamos ao Artur Quaresma. "Comigo a treiná-lo, nunca bebeu. Pedi-lhe com bons modos e ele acatou. Ficava no balneário a ouvir-me e a motivar os mais novos. Naquela altura a gente entendia-se mais facilmente que agora, em que um futebolista ganha mais que um treinador, o manda passear, faz o que lhe apetece." Depois do Belenenses, onde ganha a Taça de Portugal-60 ao Sporting, Matateu ainda joga no Atlético, que ajuda a subir à 1ª divisão em 1966. No posterior pingue-pongue entre Américas (First Portugueses e Sagres da Vitória) e Portugal (Gouveia, Amora e Chaves), só acaba a carreira aos 55 anos.
Excerto da entrevista ao Jornal "A BOLA" 18/01/69 . E foi então que na época 1968/69, que Lucas Sebastião da Fonseca, mais conhecido por Matateu, ingressou no AMORA FUTEBOL CLUBE . Talvez numa das épocas mais lindas do clube, e ele contava com 41 anos de idade, mas parecia que tinha 19. Foi no dia 20/10/68 pelas 15 horas, e a contar para a 1ª. Jornada do Campeonato Distrital da 1ªDivisão da Associação de Futebol de Setúbal, que Matateu reapareceu para o futebol. O Amora F.C. recebeu o Monte - Caparica, e venceu por 3-1, marcando Matateu o segundo golo.

Na primeira página do Jornal "A BOLA" lia-se. AMORA CEMITÉRIO ADIADO. MATATEU A TRÊS CONTOS POR MÊS. «O Angenja, que era o treinador do Amora, perguntou-me se eu estava interessado, e eu perguntei quais eram as condições e depois aceitei. Muita gente me tem dito, então Lucas, tu foste internacional tantas vezes, aceitas ir jogar para um clube assim que nem é da 3ª. Divisão? «Mas eu respondi sempre que isso não me interessava, futebol é futebol e é igual em toda a parte, isso de divisões tanto me faz, a primeira como a segunda ou a terceira, são só números e nada mais. O futebol é só um e é sempre o mesmo, o que importa é que eu me dê bem com os colegas e com toda a gente e que o dinheiro não falte no fim do mês...»

Excerto da entrevista ao Jornal "A BOLA" 18/01/69 O Campo da Medideira registava na altura enchentes e muitos dos adeptos eram do Belenenses, que preferiam ir ver o Matateu a jogar pelo Amora. As receitas na altura aumentaram, mas isso não chegava. O Amora F.C. teve na altura grandes despesas. Foi a electrificação do campo, foi a construção de novos balneários, o treinador Angenja ganhava 3.500 escudos por mês e Matateu 3.000 escudos. Era muito dinheiro para um clube como o Amora F.C. Para ultrapassar isso, alguns amigos do Amora, conseguiram arranjar um grupo de sócios especiais, cujas quotas se destinavam especialmente a custear o ordenado de Matateu. A resposta de Matateu, para além de meter o clube nos nacionais de futebol, do qual ainda permanece, pois o Amora F.C. subiu à 3ª Divisão Nacional e nunca mais, até hoje voltou aos distritais, foi: «Em Amora, o ambiente é maravilhoso. É um clube pequeno que têm grandes despesas, mas em pagamentos, nunca falha, no fim do mês, recebemos o ordenado, depois de quinze em quinze dias, pagam-nos os prémios. Assim, nunca é preciso meter vales, a gente já sabe, é só esperar por esses dias»

Excerto da entrevista ao Jornal "A BOLA" 18/01/69 Na Amora, Matateu foi tratado carinhosamente por toda a gente, conseguindo ser pela primeira vez na sua longa e gloriosa carreira, CAMPEÃO. Não foi nacional, mas sim distrital, obtendo 21 golos, através da sua magnifica experiência garantindo o título de Rei dos Marcadores da Ass. Fut. Setúbal. Para além desses títulos, Matateu e o Amora F.C. conseguiram ganhar a TAÇA SOCER. Na final derrotaram o Seixal F.C. por 1-0, numa dessas jogadas geniais, Matateu após várias fintas correu à linha de fundo, centrou primorosamente para Toni Brito, que à vontade marcou o único golo da partida. Iam decorridos 35 minutos. A cerveja sempre foi a bebida preferida de Matateu. Em entrevista ao Jornal "A BOLA" no dia 18/01/69 disse: «Tenho 41 anos, mas parece que tenho 19, porque estou conservado em cerveja». «Acredite, quando não bebo cerveja, não sou o mesmo, sinto-me mal e o meu rendimento é sempre inferior» . « É verdade, se eu não bebesse cerveja, já teria arrumado as botas há muito tempo». Assim, enquanto o resto da equipa se contentava com o cházinho do costume, Matateu bebia a sua cervejinha.

Legenda das fotografias:
1- Sebastião Lucas da Fonseca... o popular Matateu
2- O pequeno Sebastião ladeado pelas mulheres da sua família
3- O estilo inconfundível do astro moçambicano
4- Levado em ombros pelos adeptos do Belenenses após a uma estreia de sonho diante do Sporting no Nacional da 1ª Divisão
5- Com Travassos na Seleção Nacional
6- O diretor do jornal "A Bola", Ribeiro dos Reis, entrega a Matateu uma das duas Bolas de Prata conquistadas pelo craque
7- Num desafio diante do Sporting
8- O cantinho de Matateu no Museu do Belenenses

Nenhum comentário:

Postar um comentário