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segunda-feira, 14 de abril de 2025

A rainha (Ticha Penicheiro) do basquetebol português subiu (há 20 anos) ao trono da WNBA


2025 marca igualmente o 20.º aniversário de um dos capítulos mais belos do basquetebol nacional, escrito por uma das suas mais virtuosas figuras, neste caso, Ticha Penicheiro. Nascida numa terra onde o basket é encarado com paixão, a Figueira da Foz, Patrícia "Ticha" Nunes Penicheiro foi um elemento preponderante na conquista da competição mais importante planetária do basquetebol feminino por parte da equipa dos Sacramento Monarchs em 2005. Falamos da WNBA (a NBA feminina). Ticha, foi nessa temporada a rainha das assistências da liga norte-americana e foi das mãos dela (num lance livre a 9 segundo do final) que surgiu o ponto decisivo para as Monarchs derrotarem por 62-59 as Connecticut Sun no jogo quatro da final disputada à melhor de cinco partidas e que carimbou o título. Foi a primeira vez que a equipa californiana, um dos oito conjuntos originais da Liga norte-americana desde o seu início em 1997, venceu a maior competição do basquetebol feminino do planeta. No regresso a Portugal após esta conquista, Ticha Penicheiro foi alvo de inúmeras homenagens, destacando-se a medalha de Honra e Mérito Desportivo atribuída pelo Governo português, que lhe foi entregue na sua terra natal pelas mãos do então secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino Dias. Já em 2021, ano em que a WNBA comemorava o seu quarto de século de existência, Ticha foi considerada uma das 25 melhores jogadoras dos 25 anos de história da WNBA (nota: a portuguesa é a única jogadora europeia presente nesta lista), sendo que dois anos antes havia sido integrada no Hall of Fame da competição. Além do título em 2005, a jogadora (nascida a 18 de setembro de 1974) somou vários títulos nacionais na Europa, nomeadamente em França, na Rússia e na Polónia, países onde atuou.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

1982: o ano em que o humilde Portugal abriu as suas portas à classe média do basket europeu


As décadas de 70 e de 80 do século passado foram de algum relevo para o basquetebol nacional, não só pelo facto de várias equipas lusas terem participado nas competições europeias, como também no aspeto da nossa seleção nacional ter medido forças com algumas potências do basket continental…. embora sem grandes resultados positivos alcançados. Este período coincidiu com o histórico acolhimento da 23.ª edição do Campeonato da Europa de seniores masculinos em 1982, naquele que se constituiu como o primeiro grande acontecimento basquetebolístico internacional ocorrido no nosso país. Competição essa que também era conhecida como Challenge Round, a Divisão B da modalidade a nível europeu. A prova desenrolou-se em maio de 1982 nas cidades de Lisboa e do Porto, sendo que na capital teve como palco o Pavilhão dos Desportos, ao passo que na Cidade Invicta os jogos disputaram-se no Pavilhão das Antas. 12 nações – a saber, Portugal, Roménia, República Federal da Alemanha (RFA), Inglaterra, Suécia, Finlândia, Hungria, Grécia, Turquia, Bulgária, Bélgica e Holanda – competiram no nosso país com os olhos postos ou na Divisão A do Europeu, ou na permanência nesta Divisão B, como era o caso de Portugal, que havia subido da Divisão C no ano anterior. Organizar um evento desta dimensão não foi pêra doce para a organização, desde logo pela falta de meios financeiros, conforme ficou vincado por Máximo Couto, o então presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB), à Gazeta dos Desportos. Nessa entrevista, o dirigente assegurava que estava tudo preparado para o início do Europeu, pese embora alguns contratempos de última hora estavam a causar alguma apreensão organização. Desde logo a falta de apoios financeiros inicialmente prometidos e que à última a hora não se concretizaram, como foi o caso da televisão pública, que acabou por não transmitir todos jogos, o que fez com que a FPB perdesse uma boa receita financeira em termos de publicidade. Mas de igual modo, outras entidades estatais acabaram por retirar o prometido apoio financeiro a poucos dias do início da prova, o que causou, naturalmente, preocupação entre os dirigentes federativos. «Estou de certo modo muito preocupado com o aspeto financeiro do campeonato, se bem que neste momento não possamos voltar para trás. No final tudo se pagará, se bem que neste momento não se sabe muito bem como. Estamos a fazer tudo ao nosso alcance para que não haja prejuízo, mas o problema da televisão está a criar-nos dificuldades financeiras. No entanto, pensamos fazer mais receita, até porque os bilhetes são a um preço acessível, 100 escudos por sessão, que dá direito a ver três jogos, pelo que tanto no Porto, como em Lisboa, estamos esperançados que o público acorra, para ver bons espetáculos», perspetivou o dirigente.


Mas com maiores ou menores dificuldades lá foi ultrapassado este obstáculo financeiro, muito graças a diversos mecenas – vulgo patrocinadores/empresas– privados. E no plano desportivo a prestação lusa acabou por ser… tristonho! É, realmente a diferença do basquetebol que se jogava em Portugal em comparação com o resto da Europa fez-se notar na equipa orientada pelo selecionador Adriano Baganha. Mas já lá vamos a resultados concretos. 
Na partida para o Europeu havia muita confiança entre a delegação lusa, que esperava que o forte apoio do público a pudesse manter na Divisão B do Campeonato da Europa. Portugal reuniu alguns dos seus melhores basquetebolistas da época, desde logo aquele que ainda hoje é considerado como o maior jogador nacional desta modalidade, Carlos Lisboa. Então com 23 anos, Lisboa, que nessa temporada se tinha sagrado campeão nacional pelo Sporting, fazia-se acompanhar de outros craques. A saber, Augusto Baganha (Sporting), Rui Pinheiro (Sporting), Artur Leiria (Atlético), João Seiça (Atlético), Carlos Santiago (Atlético), João Cardoso (Sporting), Rui Pereira (FC Porto), Alberto Van Zeller (FC Porto), Eustácio Dias (Ginásio Figueirense), José Luís (Benfica), Tó Quintela (FC Porto), e José Paiva (Académico de Coimbra).  


Integrada no Grupo A – sediado em Lisboa –, juntamente com as seleções da Suécia, RFA, Finlândia, Inglaterra, e Hungria, a seleção nacional mostrou na verdade que ainda tinha um longo caminho a percorrer para conseguir ombrear com seleções do nível intermédio do basket continental. Sim, nível intermédio, pois estamos a falar do Campeonato da Europa B, onde nem sequer estava a elite do basquetebol da Europa. E essa necessidade de aprendizagem ficou bem patente logo na estreia, diante da Suécia, em que Portugal desiludiu, de acordo com a reportagem da Gazeta dos Desportos. «Pode-se dizer que a estreia da equipa portuguesa no Europeu de 82 foi uma completa desilusão, não pela derrota em si, mas pela exibição, que no mínimo se deverá classificar de descolorida. Efetivamente a equipa portuguesa mostrou-se pouco esclarecida no ataque e a defender… bom, a defender não o fez. (…) A (não) defender os portugueses foram exímios, demonstrando à evidência todos os erros anteriormente (campeonato nacional, nomeadamente) demonstrados, desatenção aos cortes, recuperação (?) defensiva a passo, etc.». Resultado final: 88-82 a favor dos suecos. Com 28 pontos, Carlos Lisboa foi o melhor marcador luso no jogo de estreia. 
No encontro seguinte, diante dos alemães, os lusos até tentaram corrigir o mau arranque, pelo menos a julgar pelos minutos iniciais do encontro. Isto, se olharmos para o resultado de 10-9 a seu favor à passagem dos 5 minutos, o que terá causado algum espanto a quem presenciou o duelo. Porém, e com naturalidade, os alemães começaram a pouco e pouco a inverter o rumo dos acontecimentos, sem que, no entanto, Portugal os deixasse distanciarem-se no marcador. O final chegou com um triunfo da RFA por 92-80, mas acima de tudo deixou uma imagem muito mais positiva do selecionado português em comparação com a partida ante os suecos. Com 17 pontos na conta pessoal, Lisboa foi o melhor marcador da turma portuguesa ante a RFA.


A derrota mais pesada dos lusos neste Europeu de 82 aconteceu na 3.ª jornada, quando foram cilindrados pela Inglaterra por 107-90, o que definiu desde logo que a turma orientada por Adriano Baganha tinha obrigatoriamente de vencer os dois últimos jogos para se manter na Divisão B. Diante da Finlândia os portugueses voltaram a entrar bem no jogo. Porém, os nervos acabariam por falar mais alto, e uma «série de maus passes e lançamentos falhados por diversas ocasiões, nunca permitiu o nosso distanciamento no marcador (se bem que na segunda parte tivéssemos 10 pontos de avanço) e tornou possível que os finlandeses acabassem por vencer (por 81-77)», escrevia Cardão Machado, correspondente da Gazeta dos Desportos. Calos Lisboa foi mais uma vez o melhor marcador da seleção, com uns impressionantes 41 pontos.


E face a este resultado Portugal carimbava matematicamente a descida à Divisão C, o último escalão do basquetebol europeu, falhando assim o seu grande objetivo no torneio. (Nota: no último encontro da fase de grupos os portugueses conheceram a sua quinta derrota no torneio, desta feita diante da Hungria, por 92-70). Na hora de fazer um balanço da participação da equipa portuguesa, Cardão Machado escrevia que tinha sido «uma grande aventura, que como todas as aventuras, tem coisas boas e coisas más. No entanto, pensamos que apesar de a nossa equipa ter baixado de divisão, este campeonato tem muitas coisas positivas e tem muitas lições a extrair. (…) No aspeto organizativo a prova foi um êxito. As delegações estrangeiras estão satisfeitas e os comissários da FIBA nada têm a apontar, antes pelo contrário. (…) No que toca à parte financeira, e nesta altura, pode considerar-se um fracasso. Segundo informações que nos chegaram, as jornadas em Lisboa têm rendido à volta de 50 mil escudos, enquanto que no Porto têm andado por 8 mil escudos. Valeu, no entanto, as ajudas de algumas firmas particulares, caso da Fidelidade, Vimóveis, NCR, 3M de Portugal, e Toyota».

Carlos Lisboa 
Mais adiante na sua análise, Cardão Machado esmiuçou um comentário à participação da seleção lusa, apontando o mau estado em que se encontrava o desporto nacional como fator principal para a despromoção de Portugal à Divisão C. «Como é do conhecimento geral, o desporto em Portugal não está bem, porque a entidade que o orienta no nosso país anda sempre a flutuar, nunca seguindo o critério que possibilite que qualquer modalidade se imponha. (…) No caso do basquetebol, as oscilações da DGD (Direção Geral dos Desportos) têm-se feito sentir e não dão qualquer possibilidade de a federação fazer um trabalho que se pode considerar válido durante vários anos. (…) A maior parte das ações de formação de técnicos são diminutas (por falta de verbas) o que naturalmente tem efeitos negativos. (…) No entanto, e o que tem mais repercussão sobre o jogo, é o facto de o nível técnico dos jogadores ter diminuído e o aparecimento de muitos jogadores estrangeiros nas nossas principais equipas. De facto, muitos dos nossos jogadores da seleção foram suplentes durante o campeonato nacional (…)». No seguimento destas e de outras críticas ao estado do basket luso, Cardão Machado deixava um conselho aos “comandantes” da modalidade a nível nacional: é preciso começar a trabalhar já. Este Campeonato da Europa realizado em Portugal seria ganho pelos Países Baixos, que além de terem vencido o seu grupo (B) levariam a melhor sobre a Grécia, Suécia, RFA, Turquia, Hungria, Roménia e Finlândia na ronda final. Portugal e Bulgária foram as suas seleções despromovidas à Divisão do Europeu.

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Efemérides (10)... Neemias Queta: o primeiro luso campeão da NBA

O ano de 2024 dificilmente será esquecido na história do basquetebol português e do próprio desporto nacional. A 17 de junho do citado ano os Boston Celtics conquistavam o seu 18.º título da NBA, tornando-se desta forma na equipa mais titulada da história da maior e mais mediática competição basquetebolística do Mundo. Mas qual a ligação entre este facto e o nosso país? Simples. No plantel dos verdes de Boston figurou um português, o primeiro luso a pisa o palco da galática NBA e agora também o primeiro a sagrar-se campeão desta competição. Neemias Queta. Ao fim de três temporadas na NBA (estreou-se na temporada de 2021/22) o jogador nascido no Barreiro arrecadou o mais desejado título de basquetebol mundial, participando em três dos 19 jogos (incluindo um na final) que os Celtics disputaram nos play-off rumo ao cetro de 2023/24. No curto espaço de tempo que esteve em campo nas finals somou dois pontos, convertendo o único 'lançamento que tentou, logrando ainda um desarme de lançamento. Aos três encontros disputados nos play-off o gigante português de 2,13 metros esteve ainda presente em 28 encontros da fase regular realizados pela equipa de Boston. Na maior parte da temporada, Neemias foi utilizado na equipa B, digamos, dos Boston Celtics, os Maine Celtics. A aventura do basquetebolista luso de 24 anos na NBA começou, como já foi referido, em 21/22 ao serviço dos Sacramentos Kings, onde esteve duas temporadas, antes de dar o salto rumo a Boston onde fez história.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

O conto de fadas do pequeno Estrelas da Avenida escreveu-se há 25 anos


O que para muitos seria impensável (ou não!) aconteceu há precisamente 25 anos no universo do basquetebol nacional. Um pequeno clube lisboeta surpreendeu (ou não, lá está) o país basquetebolístico ao fazer a dobradinha na temporada de 97/98. Por outras palavras, sagrou-se campeão nacional e venceu a Taça de Portugal, os dois principais troféus do basket português. E este feito ainda hoje tem contornos de conto de fadas se atendermos ao facto de ter acontecido numa altura em que o Benfica, por exemplo, vivia o seu melhor período da história no âmbito desta modalidade, já que entre 1988 e 1995 havia sido sete vezes consecutivas campeão nacional sob a batuta de lendas como Pedro Miguel, Jean-Jacques, Carlos Seixas, Steve Rocha, ou o imortal Carlos Lisboa; mas também num período que via renascer o FC Porto como um gigante da modalidade, visto que nas duas temporadas anteriores a 97/98 os portistas interromperam o reinado benfiquista no que diz respeito ao campeonato nacional.

Não se pense, porém, que este pequeno clube da capital era um pobre coitado no então panorama do basquetebol português, nada disso, já que partiu para 97/98 nas asas de um grupo forte, talentoso, experiente e capaz de bater o pé a muito boa gente. Mas seria isso suficiente para alcançar o brilharete alcançado? Pelos vistos foi. 

Esta introdução serve para recordar a epopeia do Centro Recreativo Estrelas da Avenida, que em 97/98 escreveu a sua página de (maior) glória. Clube com fortes tradições no basquetebol, o Estrelas da Avenida concretizou na referida época a "ameaça" que vinha fazendo nos anos anteriores, ou seja, inscrever o seu nome no palmarés das principais competições nacionais. A primeira tentativa de o fazer havia sido em 85/86 quando o Estrelas, então na 2.ª Divisão Nacional, caiu aos pés do FC Porto na final da Taça de Portugal, por 119-76, numa final disputada em Coimbra. Uma temporada mais tarde o Estrelas da Avenida sobe à 1.ª Divisão Nacional e por uma "unha negra" não vence o título do segundo escalão, sucumbindo às mãos do Esgueira. Esta subida ao patamar mas elevado do basket nacional era então o maior feito de um clube que havia sido fundado apenas cerca de 10 anos antes - mais concretamente em abril de 1976 - e com apenas 600 associados! Rapidamente o clube da freguesia da Penha de França tornou-se querido e popular entre os lisboetas... e apetecido para muitos basquetebolistas de renome prosseguirem a sua carreira fora do "circuito" dos grandes clubes nacionais. Na entrada para os anos 90 o Estrelas consolidou-se como um clube de "primeira" (divisão) e passo a passo foi rumo ao sonho concretizado em 1998. E para agarrar o sonho o Estrelas da Avenida foi comandado por aquela que é provavelmente a melhor dupla de treinadores da história do basquetebol nacional, composta por Mário Palma (treinador-principal) e Mário Gomes (treinador-adjunto). Ambos tinham conduzido o Benfica à glória ao longo das seis temporadas anteriores. Tecnicamente bem comandado o clube da Penha de França contou nessa temporada, e como já referimos, com nomes sonantes do basket nacional, casos de Henrique Pina (base), Artur Cruz (extremo/poste), ou o brasileiro Flávio Nascimento (extremo), três nomes que enquanto antigos jogadores do Benfica comandado por Mário Palma haviam tido a experiência de ser campeões nacionais da 1.ª Divisão. A estes nomes juntavam-se, por exemplo, os espanhóis Joaquín Arcega (base/extremo) e Juan Barros (extremo/poste), que traziam consigo a qualidade do competitivo a nível internacional campeonato de Espanha, quiçá já então o melhor campeonato nacional a nível europeu. Além disso, qualquer equipa de basket que se preze tem de ter pelo menos um atleta norte-americano nos seus quadros para conferir qualidade e competitividade, ou não fosse os Estados Unidos da América a potência mundial do basket. Pois bem, o Estrelas da Avenida de 97/98 tinha três artistas norte-americanos de "primeira água", casos de Doug Muse (poste), Terrence Rayford (poste), e Wayne Englestad (extremo/poste). A estes nomes juntam-se os de Daniel Guedes (base), Arlindo Neves (base), Luís Simão (extremo), Roberto Silva (extremo), Alex Bento (base), Paulo Agostinho (extremo/poste), Paulo Simão (base/extremo) e Bruno Trinchante (extremo/poste), e eis que estamos perante o plantel que conduziu o Estrelas da Avenida à glória. 

Em termos mais concretos, o emblema lisboeta fez uma fase regular do campeonato nacional absolutamente brilhante, terminado esta primeira etapa no 3.º lugar, com 20 vitórias e 6 derrotas, e com 46 pontos, os mesmos que o segundo colocado e campeão nacional em título, o FC Porto, e apenas a um do primeiro classificado, a Oliveirense. Atrás do Estrelas vislumbravam-se potências do basquetebol nacional de então, casos do Benfica, da Portugal Telecom, ou da Ovarense. E seria precisamente diante de um projeto que viria dar frutos (títulos) nos anos seguintes que o Estrelas da Avenida deu início à sua caminhada na fase dos play-off. O clube da Penha de França vence a Portugal Telecom nos quartos de final desta fase a eliminar e marca encontro com o FC Porto na ronda seguinte. E o que se viu foi o campeão nacional em título vergar-se à magnífica equipa lisboeta, que no quinto e decisivo jogo da eliminatória venceu em Almada (a sua casa ao longo deste trajeto de glória) por 77-70, assegurando assim a presença na final do campeonato. 

Por esta altura, já muitos apontavam o Estrelas da Avenida como sério candidato ao título, já que no meio da eliminatória com os portistas os pupilos de Mário Palma haviam conquistado a Taça de Portugal, após derrotarem o Benfica por 87-86. Na final da 49.ª edição da taça, realizada no Pavilhão do Seixal, o Estrelas saiu para o intervalo em desvantagem, por 38-45, mas uma sensacional recuperação no segundo tempo assegurou a conquista do primeiro título de cariz nacional para o emblema da Penha de França. E seria pois com a moral em alta que os rapazes de Mário Palma chegaram à final do campeonato nacional, onde teriam como opositores a Ovarense. E tal como na meia-final dos play-off foi necessário um quinto e decisivo jogo para encontrar o campeão nacional, partida essa que o Estrelas iria vencer por 71-63 e carimbar assim o título. A partida decisiva foi disputada num Pavilhão de Almada completamente cheio, que testemunhou a conclusão de uma época de ouro para o emblema da capital. O Estrelas da Avenida que até entrou melhor nesta eliminatória final, conquistando duas vitórias nos dois primeiros jogos. Porém, a perda de uma das suas unidades mais influentes, o norte-americano Wayne Englestad, que acusou positivo num controlo anti-doping, fez a equipa de Mário Palma quebrar nos dois encontros seguintes, como se comprovam as vitórias da Ovarense e o consequente empate na eliminatória. Porém, na "negra" o Estrelas foi a equipa mais serena, menos tensa e que aguentou melhor a pressão, nas palavras do técnico Mário Palma, que desta forma vencia o seu sexto título de campeão nacional. "Ao longo da época fomos a melhor equipa", dizia Palma no rescaldo desta grande fábula em que David venceu (vários) Golias.

terça-feira, 5 de julho de 2022

A primeira digressão internacional dos Harlem Globetrotters teve Portugal como ponto de partida

Harlem Globetrotters atuando no Porto
ante o Vasco da Gama
Eles são um misto de entertainers e representantes do melhor basquetebol do Mundo - o dos Estados Unidos da América -, e que viajam pelo planeta precisamente para fazer apresentações performáticas da modalidade. Eles são os Harlem Globetrotters, uma equipa de basquetebol norte-americana, e que para muitos experts do basket é tão somente a melhor equipa do Mundo, combinando mestria com malabarismos, e que - segundo o wikipedia - até 2010 contabilizava mais de 25 mil apresentações em 118 países desde que iniciaram as digressões internacionais em 1950.

E quis o destino que Portugal fosse o primeiro país a receber os magos, ou ilusionistas, se preferirem, do basket planetário. Estávamos em maio de 1950 quando os melhores basquetebolistas do Mundo aterraram no nosso país para aqui iniciarem uma digressão que iria durar até 1962! Estava assim colocada em marcha a ideia do inglês Abe Saperstein, o proprietário dos Harlem Globetrotters, que quis conquistar o mercado europeu através desta equipa que nasceu oficialmente em Chicago no ano de 1927, e que tinha como característica distintiva o facto de ser composta exclusivamente por jogadores negros excluídos das ligas profissionais. Nesta altura a fama dos jogadores afro-americanos que exibiam os seus dotes de basquetebolistas nos playgrounds - quadras de rua - norte-americanos, sobretudo na região de Nova Iorque, era enorme, sendo ali criado um festival de verão organizado pelo bairro negro de Harlem, que se viria a tornar extremamente popular em todo o país com o passar dos anos. Nesse sentido, Abe Saperstein escolheu esse nome para a sua equipa, para indicar claramente que se tratava de um conjunto formado por atletas negros, e que seriam uma espécie de globetrotters, isto é, que jogariam por todo o território dos Estados Unidos da América, o berço do basquetebol. Durante suas viagens, os Harlem Globetrotters demonstraram sistematicamente a sua superioridade sobre os conjuntos compostos por atletas brancos, sendo que a título de exemplo, em 1948 e 1949, venceram por duas ocasiões os Minneapolis Lakers, que eram nada mais nada menos do que os campeões da mais famosa liga de basquetebol do Mundo, a National Basketball Association (NBA).

E depois de conquista a América, Abe Saperstein quis conquistar o resto do planeta com esta sua equipa, iniciando então a digressão internacional no nosso país, que até então só os tinha visto na tela do cinema.

A presença dos mágicos do basket norte-americano mereceu, como é óbvio, redobradas atenções por parte da imprensa nacional, em especial da desportiva, que escreveu algumas páginas sobre esta (hoje) histórica visita. Para muitos parecia um sonho, como escreveu o jornalista Rodrigues Teles, na revista Stadium. O sonho de ver os melhores basquetebolistas do Mundo a atuar no nosso país, um sonho que na verdade se viria a tornar em realidade. «Os americanos do basquetebol, os americanos brancos e os americanos pretos, que nos maravilharam através de uma curiosa exibição cinematográfica, apresentaram-se entre nós, "carne e osso", e demonstraram-nos que todas as suas fantasias são deste Mundo, que não há o mínimo exagero no que vimos no "ecran". Foram tudo - e mais alguma coisa ainda. Talvez o verdadeiro amador do basquetebol puro, embora gostando muitíssimo do malabarismo e da arte americana, achasse que o espectáculo "era mais de circo". Talvez. Quanto a nós, porém, o eapectáculo de que foram especiais comparsas os negros dos Harlem Globe Trotteres, revelou-nos a excepecional categoria destes atletas, o apuro extraordinário a que chegaram, a maneira simples como enfeitam uma jogada - fazendo desporto».

A vinda dos norte-americanos a Portugal não se restringiu à capital, já que também o Porto (onde enfrentaram um seleção do norte e o Vasco da Gama) e Coimbra ficaram deslumbrados com o virtuosismo dos  Harlem Globetrotters, que se faziam acompanhar nesta tourné pela equipa dos All Stars of America.

Os astros norte-americanos em Portugal
Perante pavilhões repletos, nas três cidades lusas, os norte-americanos «são quase infantis, autênticas crianças, sorrindo sem amesquinhar, brincando sem diminuir uma só vez o adversário. (...) São artistas de rara categoria», escrevia Rodrigues Teles nesta sua reportagem, descrevendo mais à frente os jogadores que mais o impressionaram, entre outros um tal de Marques Haines, um luso-americano «que esconde a bola, que joga com os joelhos colados ao chão, que passa o esférico por baixo das pernas, tocando-lhe com os dedos como se estivessem carregados de electricidade».

O jornalista dava ainda conta que a vinda destes astros a Portugal havia resultado de um convite do Sporting, que se associou ao Vasco da Gama (do Porto) e da Académica de Coimbra para organizar os jogos/exibições nas três urbes portuguesas.

Tempo houve ainda para Rodrigues Teles trocar algumas palavras com os malabaristas do basquetebol, como lhes chamou, no sentido de os conhecer um pouco melhor.   

Marques Haines,
luso-americano dos Harlem
Por exemplo, de Haynes, um dos craques dos Harlem Globetrotters, soube que para este atleta fazer parte dos Harlem era uma honra extraordinária, explicando este atleta que o contrato com a equipa era feito para 5 anos, e que se ao fim desse tempo os jogadores não dessem provas capazes eram dispensados. «No Harlem só entram vedetas, verdadeiros malabaristas. Nos bairros negros, onde se procura jogar assim, neste estilo, há sempre uma selecção cuidada», explicava o craque. Questionado pelo jornalista português se eram profissionais e como era o ordenado, Haynes respondia que sim, que eram profissionais, e que quanto ao ordenado além de terem todas as despesas pagas durante esta digressão internacional, ainda usufruíam de 10 dólares de vencimento por dia! A impressão que as estrelas do basquetebol dos States tiveram dos jogadores lusos foram ademais positivas, conforme nos contou nesta reportagem Rodrigues Teles, na sequência de uma troca de palavras com outro deus do basket, neste caso, Elliot Hansan. «Gostei dos portugueses. Parece até impossível como alguns rapazes, tão franzinos, se movimentam tão bem e nos imitam até em vários lances», contou aquele atleta, que elogiou ainda o público português: «Grande público. Gostou do trabalho das duas equipas americanas, vibrou, deu palmas entusiásticas. Bravo».

Nome grande do basquetebol português de então era Correia César, dirigente do Sporting, que nesta reportagem se mostrava satisfeito pelas casas esgotadas, quer no Porto, quer em Coimbra, quer em Lisboa, registadas para ver de perto os Harlem Globetrotters nesta sua primeira passagem por Portugal. Uma equipa que para Rodrigues Teles era composta por «maravilhosos jogadores que subjugam pela arte, rapidez, agilidade e ciência de colocação. Estes atletas ultrapassam a noção de jogadores de basquete. São ao mesmo tempo verdadeiros artistas!».

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Flashes Biográficos (16): Neemias Queta - O primeiro português a pisar o palco da galática NBA

Esta é uma história que ainda agora começou a ser escrita, mas... desde já é histórica e irá ficar perpetuada nos anais da História do desporto português. Este facto ocorrido muito recentemente em 2021, significa na mitologia grega que estamos perante a subida ao Olimpo dos Deuses tal o significado que representa. mas esta para orgulho da nossa nação é uma epopeia bem portuguesa alcançada por um jovem nascido no Barreiro há 22 anos. O seu nome é Neemias Esdras Barbosa Queta, ou simplesmente Neemias Queta, que para sempre será recordado como o primeiro português na história da NBA, a liga norte-americana de basquetebol, a liga mais famosa e importante desta modalidade a nível planetário. 

O poste português nascido a 13 de julho de 1999 foi escolhido na posição 39 do draft pelos Sacramento Kings. Com 2,13 metros de altura, o atleta cresceu no Vale da Amoreira, começou a jogar no Barreirense, passou pelo Benfica, brilhou nas seleções jovens de Portugal, no basket universitário dos Estados Unidos da América e é assim o primeiro luso a jogar na melhor liga de basquetebol do mundo. É um sonho tornado realidade, não só para ele mas também para todos os amantes da modalidade nascidos em solo lusitano. Recorde-se que João “Betinho” Gomes participou no draft de 2007, mas a sorte não lhe sorriu, ao contrário de Neemias que na madrugada de 29 de julho de 2021 foi eleito na segunda ronda do draft.

 Neemias Queta e "Betinho" Gomes são dois atletas formados no Futebol Clube Barreirense que simbolizam o que de melhor se faz nos escalões de formação do clube.

Neemias Queta chegou ao Barreirense aos 10 de idade, começando a praticar minibasquetebol. No Barreiro permaneceu até aos 19 anos, sendo que com 17 anos já representava a equipa sénior, passando dois anos depois  para o Benfica, clube que representaria em apenas dois jogos pela equipa principal antes de viajar até aos Estados Unidos da América (EUA). Ali chegado ingressou na universidade de Utah State, onde atuou durante três temporadas ao serviço da equipa de basquetebol 'Aggies'. Na última temporada ao serviço dos ‘Aggies’, Neemias disputou 29 jogos, onde registou 433 pontos, 294 ressaltos, 77 assistências, 31 roubos de bola e 97 desarmes de lançamento. Um registo assombroso, e para se perceber a importância destes números temos de sublinhar que em 18 temporadas apenas dois jogadores conseguiram números superiores a 400 pontos, 50 assistências e 80 desarmes de lançamento, Neemias e Anthony Davis, sendo que este último é uma das estrelas atuais da NBA. Três anos depois de trocar Portugal pelos EUA, o jovem descendente de pais guineenses cumpre assim o sonho de chegar ao melhor campeonato de basquetebol do mundo. «Mal posso esperar por ir para Sacramento. Vamos, Kings!», escreveu o internacional luso na sua conta oficial na rede social Instagram assim que foi selecionado. Neemias é internacional pelas seleções jovens de Portugal, país que representou o EuroBasket Sub-18 de 2017, onde os lusos estiveram em bom plano e onde Queta se exibiu a um grande nível, de tal forma que essa boa performance lhe valeu a tal ida para os Estados Unidos. Em 2019 ajudou a nossa seleção a sagrar-se campeã do Europeu B da categoria de sub-20, tendo sido eleito para o cinco inicial do torneio. 

Do Vale da Amoreira para a NBA, este é um sonho que ainda só agora começou.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Campeões Nacionais de Basquetebol

Campeões Nacionais de Basquetebol (1.ª Divisão) 

2024/25: Benfica
2023/24: Benfica
2022/23: Benfica
2021/22: Benfica

2020/21: Sporting

2019/20: *Devido à pandemia Covid-19 a Federação Portuguesa de Basquetebol
decidiu suspender todas as suas competições nacionais
2018/19: Oliveirense
2017/18: Oliveirense
2016/17: Benfica
2015/16: FC Porto
2014/15: Benfica

2013/14: Benfica
2012/13: Benfica
2011/12: Benfica
2010/11: FC Porto
2009/10: Benfica
2008/09: Benfica
2007/08: Ovarense
2006/07: Ovarense
2005/06: Ovarense
2004/05: Queluz
2003/04: FC Porto
2002/03: Portugal Telecom
2001/02: Portugal Telecom
2000/01: Portugal Telecom
1999/00: Ovarense
1998/99: FC Porto
1997/98: Estrelas da Avenida
1996/97: FC Porto
1995/96: FC Porto
1994/95: Benfica
1993/94: Benfica
1992/93: Benfica
1991/92: Benfica
1990/91: Benfica
1989/90: Benfica
1988/89: Benfica
1987/88: Ovarense
1986/87: Benfica

1985/86: Benfica
1984/85: Benfica
1983/84: Queluz
1982/83: FC Porto
1981/82: Sporting
1980/81: Sporting
1979/80: FC Porto
1978/79: FC Porto
1977/78: Sporting
1976/77: Ginásio Figueirense
1975/76: Sporting

1974/75: Benfica

1973/74: Malhangalene
1972/73: Sporting de Lourenço Marques
1971/72: FC Porto
1970/71: Sporting de Lourenço Marques
1969/70: Benfica
1968/69: Sporting
1967/68: Sporting de Lourenço Marques

1966/67: Benfica de Luanda

1965/66: não se disputou
1964/65: Benfica

1963/64: Benfica
1962/63: Benfica

1961/62: Benfica
1960/61: Benfica
1959/60: Sporting
1958/59: Académica
1957/58: Barreirense
1956/57: Barreirense
1955/56: Sporting
1954/55: Académica
1953/54: Sporting
1952/53: FC Porto
1951/52: FC Porto

1950/51: Vasco da Gama
1949/50: Académica
1948/49: Académica
1947/48: Vasco da Gama

1946/47: Benfica
1945/46: Benfica
1944/45: Belenenses
1943/44: Carnide
1942/43: Carnide
1941/42: Vasco da Gama

1940/41: Carnide

1939/40: Benfica

1938/39: Belenenses

1937/38: Carnide

1936/37: Carnide

1935/36: Carnide

1934/35: Carnide

1933/34: União Lisboa
1932/33: Conimbricense