Mais do
que um mestre, de alguém que viveu sempre à frente do seu tempo, ele foi "O
Homem dos 7 Ofícios no Futebol". E o porquê de tal apelido é muito
simples, ou seja, ele foi um dos primeiros grandes jogadores de futebol em
Portugal, foi um magnífico treinador, um permanente estudioso do belo jogo, e,
como já disse, um verdadeiro mestre da escrita desportiva nacional.
Senhoras
e senhores visitantes, é com um enorme orgulho que abro esta vitrina dedicada
aos Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo com... Cândido de Oliveira.
Depois
desta breve resenha introduzo aqui um dos muitos textos extraídos das diversas
obras alusivas ao Mundo do Futebol que possuo, o qual retrata de uma forma
resumida, mas ao mesmo tempo perfeita, a grande figura que foi o Mestre
Cândido:
O grande «mestre» do futebol em Portugal
Cândido
Fernandes Plácido de Oliveira (nasceu a 24 de Setembro de 1896), é uma das
figuras mais marcantes da história do futebol em Portugal. Mestre Cândido foi o
primeiro grande estudioso do futebol em Portugal, responsável maior pelo
aparecimento da seleção nacional, trabalhador incansável no sentido de que o
futebol português se colocasse ao nível do que acontecia nos outros países da
Europa, sobretudo nas suas vertentes organizativas.
Mas
Cândido de Oliveira foi mais ainda: grande figura humana, democrata convicto
que tomou desassombradas posições públicas contra os regimes de Hitler, de
Mussolini, de Franco e Salazar. A sua coragem intelectual só teve paralelo na
sua coragem física. Foi sujeito a um sem-número de prisões levadas a cabo pela
então PIDE; brutalmente torturado e espancado a ponto de lhe terem partido
todos os dentes; em 1942 é enviado para o campo de concentração do Tarrafal.
Sobre ele escreveu um livro chamado «Tarrafal – o pântano da morte», publicado
a título póstumo, após o 25 de abril de 1974. Depois de ter sido demitido dos
correios telégrafos e telefones (CTT), onde trabalhara longos anos e atingira a
elevada função de inspetor de exploração, funda com Ribeiro dos Reis e Vicente
de Melo o jornal «A Bola».
Nascido
em Fronteira, distrito de Portalegre, Cândido Fernandes Plácido de Oliveira
entrou para a Casa Pia em 1905 e cedo mostrou capacidades inatas para a prática
do futebol, capacidades essas que o levaram ao Benfica a partir da época de
1914/15. Aí se manteve até 1920, tendo saído para fundar o Casa Pia Atlético
Clube. Apesar de se ter destacado também como avançado, Cândido de Oliveira foi
um excelente médio centro, com uma capacidade de comando e de passe que fez
dele um dos grandes jogadores portugueses das primeiras duas décadas do século
XX. Seria ele o primeiro «capitão» da selecção nacional, no célebre jogo de
Madrid, em 1921.
Por
várias vezes ocupou o cargo de selecionador nacional – foi ele o responsável
pelo cargo no primeiro grande êxito da seleção nacional, os Jogos Olímpicos de
Amesterdão, em 1928 -, tendo-se tornado num técnico sempre disponível para as
necessidades da «equipa de todos nós».
Foi
jornalista na «Stadium», diretor de «Os Sports», «Diário de Notícias», «Diário
de Lisboa» e «O Século» antes de fundar o jornal «A Bola».
Treinador
do Sporting dos «cinco violinos», da Académica, do Belenenses, do FC Porto e do
Atlético, chegou também a orientar o Flamengo, do Brasil, em 1950-51. Foi autor
de vários livros sobre desporto e tática no futebol, sofreu uma pneumonia
enquanto cobria, como enviado-especial de «A Bola», o Campeonato do Mundo de
1958, realizado na Suécia. Como consequência, viria a falecer no dia 23 de
Junho desse ano.
A esta
nota biográfica juntamos um outro texto biográfico daquele que foi o grande
mestre do futebol lusitano.
Um
Homem do Futebol é a frase mais correta que encontramos para, em três palavras,
definir Cândido de Oliveira - com a mesma simplicidade que ele adotou como seu
estatuto de vida, iniciada nos bancos da Casa Pia de Lisboa, com a bola a
brincar nos seus pés a todas as horas do recreio, até ao trágico desenlace
final, a morte, quando, já bem identificado com o desporto que sempre amou,
fazia a cobertura para o seu jornal "A Bola" do Mundial 58, na
Suécia.
Nesse
longo espaço de 72 anos de vida, abruptamente interrompida, Cândido de
Oliveira, a par de outras atividades profissionais, esteve sempre ligado ao
futebol, primeiro como jogador, sendo internacional e capitão da primeira seleção
de Portugal, em 1921, depois como jornalista, dirigente, selecionador e
treinador, em todas essas missões com muita competência e enorme prestígio,
assentando-lhe, como uma luva, ser tratado por "Mestre Cândido", pois
era assim que todos viam e justamente o reconheciam sempre que com ele
contactavam.
Um
exemplo notável dos muitos homens que partiram para a vida dos bancos escolares
da Casa Pia de Lisboa, figurando o seu nome na primeira linha dos que juntaram
aos ensinamentos colhidos a componente futebol. Assim se lhe abriram as portas,
de par em par, para o trabalho, atingindo a categoria de funcionário superior
da Administração dos Correios e, na outra apaixonante área da sua vida, o
jornalismo - aqui com as naturais ramificações ligadas ao futebol.
Mais
por paixão do que por necessidade, alem de selecionador nacional foi, também,
treinador de vários clubes- E treinador campeão - daí a justiça do breve
registo que aqui deixamos sobre a sua atividade nesse sector.
Nada
mais verdadeiras são as palavras gravadas no mausoléu em que são guardados os
restos mortais de "Cândido de Oliveira - Homem Bom - Mestre de
Futebol". Bem reveladoras da sua personalidade quando, em 1936, foi
chamado a substituir o treinador do Belenenses e seu amigo Artur José Pereira.
Aderiu de imediato com uma condição - «treino a equipa sem nada receber, mas o
ordenado do Artur é intocável... continua a ser dele».
Depois
do Belenenses, Cândido treinou o Sporting, durante três épocas, sendo campeão
em duas delas, e ganhando duas Taças de Portugal, depois, sempre muito
solicitado, foi treinar o FC Porto, duas épocas, tendo numa delas sido
finalista vencido pelo Benfica na Taça de Portugal, e na outra vice-campeão da
prova rainha da 1ª Divisão.
Noutra
ocasião, visitou o Brasil e não resistiu a um convite para treinar o Flamengo.
Logo
que pôde... libertou-se dessa missão e regressou a Portugal, deixando a equipa
carioca bem orientada e preparada para continuar o campeonato do Brasil.
Insistiram para que continuasse, mas... bem vistas as coisas ser treinador
nunca foi um modo de vida para Cândido de Oliveira. Outras responsabilidades o
chamavam a Lisboa - deixando, porém, no Brasil, especialmente no Flamengo, as
melhores impressões como mestre de futebol que sempre foi.
Em
Portugal, fazia-se sempre acompanhar por um adjunto - sendo Fernando Vaz,
também casapiano, o escolhido para essa função no Sporting. Depois, resolveu
"soltar" Fernando Vaz, dando-lhe o melhor apoio, sobretudo nos
primeiros anos em que Vaz, com a sua recomendação se assumiu como treinador
principal de vários clubes.
A
última paixão de Cândido como treinador foi a Académica de Coimbra. Nela, teve
como adjunto Mário Wilson. Encontrando em Coimbra jogadores de nível
intelectual fora do comum... gostava imenso de conversar com os jovens estudantes
e transmitir-lhes os seus ensinamentos no futebol.
Quando
a morte o surpreendeu na Suécia, a Académica era a equipa que Cândido estava a
treinar - sendo recebida em Coimbra a notícia do infausto acontecimento com
profundo pesar.
Em
Coimbra... e em todo o país foi muito chorado o inesperado desaparecimento do
Mestre Cândido de Oliveira, um Homem do Futebol, treinador-campeão e jornalista
que encontrou a morte no seu último momento de trabalho... na mais importante
prova do mundo do futebol.*
*Texto
extraído da revista Record - Treinadores Campeões
Cronologia:
24/9/1896:
Nasce em Fronteira (Distrito de Portalegre) o cidadão Cândido Fernandes Plácido
de Oliveira
15/6/1905:
Orfão de pai é admitido na Casa Pia de Lisboa com o número 3466. Na Casa Pia,
tirou os cursos Comercial e de Telegrafia, que lhe facilitaram o ingresso nos
Correios e Telégrafos, onde atingiu posição de relevo.
Cândido...
o futebolista
1912 a 1914: Iniciou a carreira de futebolista
amador na Associação Escolar da Casa Pia.
Foi
selecionado pela Associação de Futebol de Lisboa (para a equipa escolar, na
qual exerceu o posto de capitão)
1914 a
1920: Representou o Sport Lisboa e Benfica (foi campeão de Lisboa)
1920 a
1924: Jogou pelo Casa Pia Atlético Clube, que ajudou a fundar (tendo sido
campeão de Lisboa)
18/1/1921:
Integrou, e foi capitão, a primeira seleção nacional, num jogo efetuado em
Madrid com a Espanha, que terminou com uma derrota por 1-3
Cândido...
o treinador
1936/1937:
Treinou o Belenenses
1946 a
1949: Treinou o Sporting dos "Cinco Violinos", tendo sido campeão
nacional em 47/48 e 48/49. Venceu ainda duas Taças de Portugal, em 45/46 e
47/48
1950:
Treinou o Clube de Regatas Flamengo (do Rio de Janeiro)
1952 a
1954: Treinou o FC Porto
1955 a
1958: Treinou a Académica de Coimbra
Nota:
Fez 199 jogos no Campeonato Nacional da 1ª Divisão (121 vitórias, 20 empates, e
58 derrotas). Na Taça de Portugal fez 27 jogos (16 vitórias, 3 empates, 8
derrotas)
Cândido...
o selecionador
26/12/1926:
Estreou-se como selecionador nacional, no Porto, ante a Hungria, tendo empatado
a três golos
1926 a
1929: Primeiro período da sua atividade como selecionador nacional (13 jogos, 4
vitórias, 4 empates e 5 derrotas). Neste grupo de encontros merece destaque a
participação de Portugal nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, em 1928.
1935 a
1945: Segundo período de atividade como selecionador de Portugal (15 jogos, 4
vitórias, 4 empates, e 7 derrotas).
1952:
Terceiro período ao serviço da seleção nacional (3 jogos, 1 empate e 2
derrotas)
Cândido...
o jornalista
14/1/1920:
Principia a carreira de jornalista na revista O Football
1921:
Ingressa nos quadros do Diário de Notícias
1924:
Ingressa em Os Sports
1926:
Passa a ser jornalista de O Século
1942:
Assume a direção da revista Stadium
1945:
Funda juntamente com Ribeiro dos Reis e Vicente de Melo o jornal A BOLA
Cândido...
o escritor
1925:
Escreve A Primeira Greve Telégrafo-Postal
1929:
Escreve Amadorismo e profissionalismo
1934:
Escreve Alguns aspetos psicológicos dos casapianos
1935:
Escreve Relatório do Selecionador
1935:
Escreve Football, técnica e tática
1936:
Escreve Ao serviço do futebol nacional
1936:
Escreve Os jogos internacionais da época de 1935/36
1938:
Escreve A formação dos jogadores de futebol (tese que apresenta no I Congresso
Nacional de Futebol)
1945:
Escreve Futebol, desporto e juventude
1947:
Escreve Os segredos do futebol
1949:
Escreve A evolução tática do futebol - WM
1974:
Escreve Tarrafal - Pântano da Morte (edição póstuma)
Cândido...
o político
1/3/1942:
Preso pela Polícia de Vigilância e da Defesa do Estado para averiguações no
depósito de presos de Caxias
20/6/1942:
Deportado para o campo de concentração do Tarrafal
1/1/1944:
Regressa do Tarrafal, e é transportado ao Hospital Júlio de Matos
7/1/1944:
Transferido para a Prisão de Caxias
13/1/1944:
Transferido para o Aljube
2/2/1944:
Transferido para Caxias
23/3/1944:
Transferido para o Aljube
27/5/1944:
Restituído à liberdade condicional
25 de
junho de 1958: Morre em Estocolmo.
Uma
nota para dizer que o futebol lusitano lhe deve tanto do seu ser que na
temporada de 1978/79 a Federação Portuguesa de Futebol decidiu criar uma
competição com o seu nome: a Supertaça Cândido de Oliveira. Prova esta que é
disputada todos os anos entre o vencedor do Campeonato Nacional e o vencedor da
Taça de Portugal.
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