João MARTINS (Futebol): Os “violinos” do
Sporting foram 5, mas podiam bem ter sido 6, pois na célebre equipa leonina
onde pontificava o mais brilhante quinteto de sempre do futebol português, os
“Cinco Violinos”, composto por Travassos, Peyroteo, Vasques, Albano, e Jesus
Correia, sobressaia, e de que maneira, outro talento da bola da década de 50,
de sua graça João Martins. O seu nome ficou gravado a “letras de ouro” não só
na história do clube lisboeta como do próprio futebol europeu como mais à
frente iremos ver.
João
Baptista Martins nasceu em Sines no dia 3 de setembro de 1927 e começou a
despontar para o futebol aos 16 anos no clube da sua terra, o Sport Lisboa e
Sines. Ainda como júnior o chefe da fábrica de conservas onde trabalhava
fez-lhe um convite para viajar até Olhão, para ingressar na equipa local, o
Olhanense. Clube este que na altura (anos 40) atuava na 1ª Divisão Nacional. De
comboio deslocou-se sozinho até ao Algarve onde aí permaneceu um mês. Mas as
saudades falaram mais alto e acabaria por regressar a casa. Contudo, a grande
oportunidade da sua vida estava ainda por acontecer, e o destino havia-lhe
reservado uma grande surpresa.
Tudo
começou quando certo dia uma equipa do Barreiro foi jogar ao Alentejo contra a
equipa do Sines, tendo esta última vencido o encontro por 6-1. Três dos golos
alentejanos foram da autoria de Martins, e mais do que isso assinala uma
exibição portentosa.
Facto
que não passou despercebido à CUF do Barreiro, que lhe oferecia emprego caso
ele assinasse com o clube. Ele aceita, mas a ligação é curta, pois meia hora
antes do jogo de estreia pela CUF, e já nos balneários, Martins descobre que o
emprego na fábrica da CUF afinal não ia ser seu. Recusa-se então alinhar pelos
barreirenses, e é posteriormente levado por um massagista da própria CUF para
Alvalade onde ai se apresenta em 1946. Os treinadores do Sporting da época,
Abrantes Mendes e Buchelli, testam-no junto às lendas Vasques e Travassos, e
ainda que sem o calibre destes dois craques Martins agrada aos responsáveis
leoninos e assina contrato. A sua aquisição custou ao Sporting apenas 100
escudos! Uma pechincha por um jovem talento como Martins.
Sporting
que sempre havia sido o emblema do coração do nosso craque de hoje, muito por
culpa do ciclista Alfredo Trindade que empolgava as multidões com a rivalidade
que ostentou durante anos a fio com o benfiquista Nicolau em inúmeras Voltas a
Portugal em Bicicleta.
Ao
entrar em Alvalade Martins tem a fazer-lhe frente uma feroz concorrência, como
já vimos a famosa linha avançada denominada de “Cinco Violinos”. Para muitos
entrar no “11” leonino era tarefa impossível para quem quer que fosse. Mas
Martins conseguio-o, a seu tempo, mas conseguio-o. A sua estreia de leão ao
peito aconteceu contra o Vitória de Setúbal, tendo atuado no lugar de Jesus
Correia. Uma estreia positiva, com o Sporting a fazer 9 golos, sendo um deles
do estreante avançado.
Na
temporada de 49/50, com o abandono de Peyroteo, Martins teve uma oportunidade
para agarrar um lugar na primeira equipa dos leões. Destacando-se pela sua
versatilidade ele é o operário da equipa, jogando em todas as posições...
inclusive na de guarda-redes, lugar onde actuou num encontro com o Oriental.
Com o
passar dos anos tornou-se numa das peças fundamentais da “máquina” Sporting. O
seu companheiro Travassos caracterizou-o – numa entrevista ao Jornal “Sporting”
- como "o melhor avançado-centro que já existiu no futebol português.
Desmarcava-se muito bem, isolava-se com facilidade, fugindo à marcação dos
adversários, e tinha excelente aptidão para o jogo de cabeça, o que causava o
pânico entre as equipas que defrontávamos"
Na
época de 1953/54 vence a “Bola de Prata”, prémio atribuído ao melhor marcador
do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, após ter apontado 31 golos.
Em
termos de currículo vence os célebres quatro campeonatos seguidos (50-51,
51-52, 52-53 e 53-54) pelo Sporting, e ainda o título nacional de 57-58 e a
Taça de Portugal (53-54).
Ao
serviço da Seleção Nacional atuou por 12 vezes, tendo a primeira ocorrido a 23
de novembro de 1952.
O autor do primeiro golo de uma competição
europeia
Mas o
grande momento pelo qual este homem é ainda hoje recordado prende-se com o
facto de ter sido dele o primeiro golo apontado nas competições europeias.
Decorria o ano de 1955, e o Sporting teve a honra de disputar o primeiro jogo
da recém-criada Taça dos Campeões Europeus. O Sporting e o Estádio Nacional,
palco que acolheu o encontro com os jugoslavos do Partizam de Belgrado a 4 de setembro
do citado ano. Aos 14 minutos desse jogo Martins faz o primeiro golo, o
primeiro de sempre numa prova europeia. Naquele momento entrou para a história
do futebol... Mundial. Marcaria ainda um segundo golo de uma partida que
terminaria empatada a três bolas, sendo que na 2ª mão o Sporting perderia por
2-5 e consequentemente eliminado. Mas a João Martins ninguém lhe tira o mérito
de ter sido ele o autor do primeiro golo de uma competição europeia.
Abandou
o futebol em 1959 depois de 13 temporadas de leão ao peito, tendo apontado pelo
emblema de Lisboa 258 golos. Viria a falecer em 16 de Novembro 1993, com 66
anos de idade, devido a insuficiência cardíaca. Foi sepultado na sua terra
natal, Sines, tendo a autarquia local nesse mesmo ano agraciando-o com a
Medalha Ouro de Mérito Desportivo Municipal. A 25 de abril de 2008, passa a dar
nome ao Parque Desportivo Municipal João Martins nesta localidade alentejana.
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