Manuel FONSECA E CASTRO (Futebol): Abrimos hoje as
portas do Museu Virtual do Desporto Português com um homem do norte de
Portugal, o primeiro jogador oriundo desta região a vestir a camisola da
seleção nacional lusitana. Manuel da Fonseca e Castro de sua graça. Nasceu em
Santo Tirso – presume-se que nos finais do século XIX ou inícios do século XX –
e do pouco que se sabe a seu respeito foi um dos notáveis jogadores do
Académico do Porto nos anos 20. Notável não se sabe se devido aos seus dotes
enquanto talentoso avançado – a posição que ocupava em campo – ou se somente
por ter sido o primeiro futebolista nascido no norte a vestir o manto sagrado
da seleção nacional. Tal facto – histórico – aconteceu a 18 de junho de 1925,
no Campo do Lumiar, em Lisboa, local onde a equipa das quinas defrontou a
Itália naquele que era apenas o quinto jogo oficial da história da nação
(futebolística) lusitana. E eis que depois de quatro derrotas nos quatro
primeiros jogos diante da Espanha o combinado português obteve a primeira
vitória (1-0) da sua história. Fonseca e Castro fez parte desse histórico
momento, pese embora não tenha recebido as melhores críticas pelo seu
desempenho no relvado do Lumiar. «Muitíssimo infeliz. A julgar pelo que fez nos
treinos de Lisboa e das Caldas, deve ser atribuída a uma má tarde, a sua má
exibição de quinta-feira. Talvez um tanto de nervosismo, proveniente da
estreia», ou «... fraco, pouco estofo para jogos de responsabilidade», foram
alguns do mimos que o jogador tirsense recebeu da imprensa desportiva após o
célebre encontro internacional.
Críticas
à parte o que é certo é que o jogador do Académico do Porto havia entrado para
a história, não só porque fez parte do onze que ofereceu a primeira vitória da
seleção, mas por ter sido então o primeiro nortenho a atuar pelo grupo
nacional. Este duplo facto mereceu da parte do Académico uma atenção muito
especial, já que a 5 de julho de 1925 o clube portuense organizou um banquete
em homenagem a Fonseca e Castro, evento esse que teve lugar no majestoso
Palácio de Cristal, na Cidade Invicta.
O
avançado academista atuou em mais duas ocasiões pela seleção nacional: ante a
Checoslováquia, numa partida ocorrida a 24 de janeiro no Campo do Ameal
(Porto), e que terminou com uma igualdade a uma bola, e diante da França, a 18
de abril de 1926, em Toulouse, duelo que foi concluído com um robusto triunfo
francês por 4-2. Desconhecendo se Fonseca e Castro seria um virtuoso da bola –
pelas críticas conhecidas parece que não... – o que é certo é que ele era um
gentelman dos relvados, um jogador correto e leal para com os seus adversários,
e um defensor acérrimo do fair-play. A comprovar este facto está uma história
curiosa, também ela de data desconhecida, mas que marca a história do próprio
Académico do Porto, clube que sempre se pautou pela honestidade, dignidade, e
cavalheirismo no seio do desporto. Reza então a história que em certo jogo –
que os academistas precisavam de ganhar – Fonseca e Castro fez um golo, golo
esse de pronto protestado pelos adversários que alegavam que a bola tinha
estado fora das quatro linhas antes do avançado tirsense a introduzir na
baliza. Perante o coro de protestos o árbitro da partida abeira-se de Fonseca e
Castro para lhe perguntar se de facto a bola havia estado fora do campo antes
deste a ter enviado para o fundo das redes. Com cavalheirismo e fair-play o
jogador iria confirmar que de facto o esférico tinha estado fora, o que levou o
juiz de imediato a invalidar um golo que acabaria por fazer falta ao Académico,
uma vez que o emblema portuense perdeu o encontro em questão. Mas para Fonseca
e Castro pior do que a derrota era a falta de honestidade e de caráter...
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