«Encravada entre o rio Minho, o rio Coura e a montanha e situada à vista
do oceano, Caminha tem uma situação geográfica priveligiada em termos
de variedade de belezas naturais», frase da autoria de João J.R.T.
Azevedo que em poucas palavras traça o perfil da charmosa vila minhota erguida bem no norte de Portugal. Belezas naturais que transformaram esta pituresca localidade num autêntico ex-libris a diversos níveis, inclusive o desportivo. Neste patamar Caminha é de há longas décadas a esta parte um verdadeiro viveiro de campeões daquela que muitos consideram como uma das duas modalidades - a outra é a vela - mais antigas a ser praticada no nosso país, o remo. Reza a história que esta modalidade terá sido iniciada no imenso oceano que envolve grande parte do território português por volta do ano de 1828, pela mão de Abel Power Dagge, que muitos apontam como o primeiro desportista náutico a sobressair em Portugal. Nesse longínquo 1828 Dagge - descendente de ingleses radicados em Lisboa - fundou o Arrow Club, e a ele atrai algumas figuras oriundas da aristocracia nacional da época, que deram então vida às primeiras regatas nos mares lusitanos, mas ainda de uma forma puramente lúdica. Pela palavra do historiador José Pontes a primeira regata oficial ocorrida em Portugal remonta apenas ao ano de 1849, tendo sido promovida precisamente por Abel Power Dagge. Rapidamente as corridas sobem ao patamar da popularidade, e ficam célebres a partir da década de 50 do século XIX as regatas de barcos à vela e de remos realizadas por alturas dos festejos anuais de Paço de Arcos, promovidas por grupos de aristocratas da época - alguns deles ligados inclusive à Casa Real - e por elementos oriundos da colónia inglesa radicada em território luso.
As regatas ganham vida com o passar dos anos, e em 1855 nasce - pela mão do inevitável Abel Power Dagge - a Real Associação Naval (RAN). Mais a norte 1866 é apontado como o ano em que as regatas começaram a despontar naquela região, atribuindo-se à elite inglesa radicada na cidade do Porto a fundação do primeiro clube destinado à prática da modalidade, o qual dava pelo nome de Oporto Boat Club, nascido a 20 de junho de 1868. Oito anos mais tarde nasce o Clube Fluvial Portuense, ainda hoje um dos nobres embaixadores do remo nacional, e que atualmente carrega consigo o título de clube mais antigo de Portugal! Depois destes, outros clubes e associações ligadas à modalidade surgiram um pouco por todo o país, sendo que em 1884 acontece - mais uma vez por iniciativa de Abel Power Dagge - o primeiro campeonato realizado em Portugal. Certame que foi disputado no Rio Tejo.
De berço elitista o remo e a vela rapidamente se democratizaram, isto é, fixaram também as atenções das classes mais baixas. Prova disso foi uma célebre regata ocorrida em Cascais, em 1896, na qual marcaram presença o rei D. Carlos - um profundo entusiasta do desporto, de um modo geral - e a sua esposa, rainha D. Amélia. Organizada pela RAN a regata ficou histórica pela forte adesão de público. Rezam as crónicas que cerca de 6 000 pessoas visionaram aquele que é considerado por muitos como um dos primeiros grandes eventos desportivos que ocorreram no país.
Bom, mas voltando ao início da nossa história, isto é, bem ao norte de Portugal, dizem os historiadores que a prática do remo em terras minhotas terá começado em Viana do Castelo, por volta de 1910, por intermédio do Viana Taurino Clube. Agremiação que dois anos mais tarde criou a Taça Viana Taurino Clube, competição que dali em diante reunia no Rio Lima os principais clubes de toda a região norte do país. Uma competição que de certa forma ajudou a enraizar - e sobretudo dinamizar - o remo naquelas bandas. Uma das localidades que de pronto se renderam à modalidade foi Caminha - até, não será de mais repetir, pelas suas excelentes condições naturais para a prática da mesma. As primeiras regatas vistas nesta bela localidade terão decorrido no Rio Coura em meados dos anos 20. Seria precisamente nesta década que vê a luz do dia o Sporting Clube Caminhense, filial número 49 do Sporting Clube de Portugal fundada no dia 14 de dezembro de 1926. Os primeiros anos de vida terão sido dedicados ao futebol e ao ténis, tendo o remo sido introduzido no clube pela mão de Manuel Augusto Fernandes já na década de 30.
Sporting Clube Caminhense coloca... Caminha no mapa nacional e internacional
De lá para cá escreveu-se então uma história brilhante, repleta de conquistas, muitas, que tornaram Caminha numa lenda do remo português. Mais do que lenda esta localidade tem sido um verdadeiro viveiro de campeões, de homens e mulheres que vivem apaixonadamente uma modalidade que se tornou no maior ícone desportivo caminhense. E tudo pela mão do Sporting Clube Caminhense, um grande do remo nacional, senão mesmo o gigante da modalidade no presente. O sucesso do Caminhense começou a escrever-se bem cedo, quando em 1936 e 1937 conquista a Taça Stadium, no Porto. Desde então foram diversos, centenas para sermos mais precisos, os títulos regionais e nacionais alcançados pela principal personagem do desporto de Caminha. Só para citar uma meia dúzia dessas centenas de títulos recordamos que este é o clube com mais títulos na Taça Lisboa - prova sucessora do tal campeonato nascido em 1884 por iniciativa de Abel Power Dagge -, 27 para sermos exatos (!), tendo o primeiro sido alcançado em 1939. Títulos nacionais são às... centenas, tendo o primeiro sido conquistado em 1941 (nas categorias de sheel de 4 e sheel de 8 disputadas no Tejo). Quatros anos mais tarde vence mais uma série de títulos nacionais, os quais são abrilhantados pela primeira conquista internacional, o campeonato ibérico de shell 4. No ano de 1960 arrecada a Taça Infante D. Henrique, título que faz com que o Presidente da República de então, Américo Tomás, se desloque a Caminha para homenagear o clube. Três anos mais tarde o Caminhense cruza o Atlântico para participar na II edição dos Jogos Luso-Brasileiros, ocorridos no Rio de Janeiro (Brasil), tendo conquistado o título em shell de 8. Em 1982 recebe da Direção Geral dos Desportos a Medalha de Bons Serviços Desportivos, e muitos, muitos outros títulos e galardões que enchem de orgulho as simpáticas gentes de Caminha.
Presenças nos Jogos Olímpicos
Como viveiro de notáveis e talentosos campeões ao longo dos seus quase 90 anos de vida, foi com naturalidade que o Caminhense viu alguns desses seus delfins atingir o almejado palco olímpico! A primeira aparição do Sporting Clube Caminhense nos Jogos Olímpicos - sim, podemos dizer assim - aconteceu em 1948, em Londres, quando este emblema forneceu à comitiva portuguesa que se deslocou à capital britânica os cinco atletas (!) que integraram a equipa nacional que participou nas provas de remo. Notável. Eternos são pois os nomes de José Cancela, José Seixo, Delfim Silva, António Torres, e Leonel Rego, que na categoria shell de 4 atingiram os quartos-de-final da prova olímpica, muito perto de chegar a uma medalha.
Doze anos volvidos, nas Olimpíadas de Roma, o Caminhense voltou a transformar-se, digamos assim, na delegação lusitana que competiu nos Jogos, já que os cinco atletas lusos - nomeadamente José Vieira, José Porto, Jorge Cravinho, Ilídio Silva, e Rui Valença - pertenciam aos quadros do emblema de Caminha!
Seriam precisos mais 32 anos para que a vila minhota pudesse voltar a ver um filho seu marcar presença no maior evento desportivo do planeta, altura em que João Santos foi um dos dois remadores que defendeu a bandeira de Portugal nas Olimpíadas de Barcelona. Quatro anos mais tarde, em Atlanta, foi a vez de João Fernandes e Henrique Baixinho defenderem a nação lusitana nos Jogos, tendo ambos feito parte da equipa que alcançou um 15º lugar na variante de shell de 4.
O maior remador português de todos os tempos é de Caminha... e do Caminhense
Chama-se Henrique Baixinho, e é para muitos dos experts da modalidade o maior remador português de todos os tempos. Também ele é um produto do Sporting Clube Caminhense, emblema onde deu os primeiros passos numa modalide onde foi rei. Nasceu precisamente em Caminha, no ano de 1961, sendo que para além do clube da sua terra natal representou ainda o ARCO (de Viana do Castelo), o Clube Ginásio Figueirense, o Clube de Regatas do Flamengo e o Clube de Regatas Vasco da Gama, estes dois últimos da cidade do Rio de Janeiro (Brasil). Do seu impressionante palmarés constam cerca de uma centena de títulos nacionais (!), divididos entre Portugal (78) e o Brasil (17). Com as cores nacionais o seu primeiro momento de glória aconteceu em 1989, quando no Campeonato do Mundo conquistou uma medalha de bronze juntamente com Luís Fonseca, Luís Teixeira, e José Leitão (na categoria quadricull). No entanto, o ponto mais alto da sua brilhante e ímpar carreira aconteceu em 1996, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, onde, como já vimos, integrou a equipa nacional que alcançou um 15º lugar na variante shell de 4.
Legenda das fotografias:
1-Emblema do Sporting Clube Caminhense
2-Uma das primeiras imagens (data desconhecida) do remo em Portugal
3-Alguns dos primeiros remadores do Caminhense
4-A equipa que se deslocou ao Rio de Janeiro para disputar os Jogos Luso-Brasileiros de 1963
5-Subidas ao pódio, um ritual no dia a dia do Caminhense
6-Henrique Baixinho, o maior ícone do remo português
As regatas ganham vida com o passar dos anos, e em 1855 nasce - pela mão do inevitável Abel Power Dagge - a Real Associação Naval (RAN). Mais a norte 1866 é apontado como o ano em que as regatas começaram a despontar naquela região, atribuindo-se à elite inglesa radicada na cidade do Porto a fundação do primeiro clube destinado à prática da modalidade, o qual dava pelo nome de Oporto Boat Club, nascido a 20 de junho de 1868. Oito anos mais tarde nasce o Clube Fluvial Portuense, ainda hoje um dos nobres embaixadores do remo nacional, e que atualmente carrega consigo o título de clube mais antigo de Portugal! Depois destes, outros clubes e associações ligadas à modalidade surgiram um pouco por todo o país, sendo que em 1884 acontece - mais uma vez por iniciativa de Abel Power Dagge - o primeiro campeonato realizado em Portugal. Certame que foi disputado no Rio Tejo.
De berço elitista o remo e a vela rapidamente se democratizaram, isto é, fixaram também as atenções das classes mais baixas. Prova disso foi uma célebre regata ocorrida em Cascais, em 1896, na qual marcaram presença o rei D. Carlos - um profundo entusiasta do desporto, de um modo geral - e a sua esposa, rainha D. Amélia. Organizada pela RAN a regata ficou histórica pela forte adesão de público. Rezam as crónicas que cerca de 6 000 pessoas visionaram aquele que é considerado por muitos como um dos primeiros grandes eventos desportivos que ocorreram no país.
Bom, mas voltando ao início da nossa história, isto é, bem ao norte de Portugal, dizem os historiadores que a prática do remo em terras minhotas terá começado em Viana do Castelo, por volta de 1910, por intermédio do Viana Taurino Clube. Agremiação que dois anos mais tarde criou a Taça Viana Taurino Clube, competição que dali em diante reunia no Rio Lima os principais clubes de toda a região norte do país. Uma competição que de certa forma ajudou a enraizar - e sobretudo dinamizar - o remo naquelas bandas. Uma das localidades que de pronto se renderam à modalidade foi Caminha - até, não será de mais repetir, pelas suas excelentes condições naturais para a prática da mesma. As primeiras regatas vistas nesta bela localidade terão decorrido no Rio Coura em meados dos anos 20. Seria precisamente nesta década que vê a luz do dia o Sporting Clube Caminhense, filial número 49 do Sporting Clube de Portugal fundada no dia 14 de dezembro de 1926. Os primeiros anos de vida terão sido dedicados ao futebol e ao ténis, tendo o remo sido introduzido no clube pela mão de Manuel Augusto Fernandes já na década de 30.
Sporting Clube Caminhense coloca... Caminha no mapa nacional e internacional
De lá para cá escreveu-se então uma história brilhante, repleta de conquistas, muitas, que tornaram Caminha numa lenda do remo português. Mais do que lenda esta localidade tem sido um verdadeiro viveiro de campeões, de homens e mulheres que vivem apaixonadamente uma modalidade que se tornou no maior ícone desportivo caminhense. E tudo pela mão do Sporting Clube Caminhense, um grande do remo nacional, senão mesmo o gigante da modalidade no presente. O sucesso do Caminhense começou a escrever-se bem cedo, quando em 1936 e 1937 conquista a Taça Stadium, no Porto. Desde então foram diversos, centenas para sermos mais precisos, os títulos regionais e nacionais alcançados pela principal personagem do desporto de Caminha. Só para citar uma meia dúzia dessas centenas de títulos recordamos que este é o clube com mais títulos na Taça Lisboa - prova sucessora do tal campeonato nascido em 1884 por iniciativa de Abel Power Dagge -, 27 para sermos exatos (!), tendo o primeiro sido alcançado em 1939. Títulos nacionais são às... centenas, tendo o primeiro sido conquistado em 1941 (nas categorias de sheel de 4 e sheel de 8 disputadas no Tejo). Quatros anos mais tarde vence mais uma série de títulos nacionais, os quais são abrilhantados pela primeira conquista internacional, o campeonato ibérico de shell 4. No ano de 1960 arrecada a Taça Infante D. Henrique, título que faz com que o Presidente da República de então, Américo Tomás, se desloque a Caminha para homenagear o clube. Três anos mais tarde o Caminhense cruza o Atlântico para participar na II edição dos Jogos Luso-Brasileiros, ocorridos no Rio de Janeiro (Brasil), tendo conquistado o título em shell de 8. Em 1982 recebe da Direção Geral dos Desportos a Medalha de Bons Serviços Desportivos, e muitos, muitos outros títulos e galardões que enchem de orgulho as simpáticas gentes de Caminha.
Presenças nos Jogos Olímpicos
Como viveiro de notáveis e talentosos campeões ao longo dos seus quase 90 anos de vida, foi com naturalidade que o Caminhense viu alguns desses seus delfins atingir o almejado palco olímpico! A primeira aparição do Sporting Clube Caminhense nos Jogos Olímpicos - sim, podemos dizer assim - aconteceu em 1948, em Londres, quando este emblema forneceu à comitiva portuguesa que se deslocou à capital britânica os cinco atletas (!) que integraram a equipa nacional que participou nas provas de remo. Notável. Eternos são pois os nomes de José Cancela, José Seixo, Delfim Silva, António Torres, e Leonel Rego, que na categoria shell de 4 atingiram os quartos-de-final da prova olímpica, muito perto de chegar a uma medalha.
Doze anos volvidos, nas Olimpíadas de Roma, o Caminhense voltou a transformar-se, digamos assim, na delegação lusitana que competiu nos Jogos, já que os cinco atletas lusos - nomeadamente José Vieira, José Porto, Jorge Cravinho, Ilídio Silva, e Rui Valença - pertenciam aos quadros do emblema de Caminha!
Seriam precisos mais 32 anos para que a vila minhota pudesse voltar a ver um filho seu marcar presença no maior evento desportivo do planeta, altura em que João Santos foi um dos dois remadores que defendeu a bandeira de Portugal nas Olimpíadas de Barcelona. Quatro anos mais tarde, em Atlanta, foi a vez de João Fernandes e Henrique Baixinho defenderem a nação lusitana nos Jogos, tendo ambos feito parte da equipa que alcançou um 15º lugar na variante de shell de 4.
O maior remador português de todos os tempos é de Caminha... e do Caminhense
Chama-se Henrique Baixinho, e é para muitos dos experts da modalidade o maior remador português de todos os tempos. Também ele é um produto do Sporting Clube Caminhense, emblema onde deu os primeiros passos numa modalide onde foi rei. Nasceu precisamente em Caminha, no ano de 1961, sendo que para além do clube da sua terra natal representou ainda o ARCO (de Viana do Castelo), o Clube Ginásio Figueirense, o Clube de Regatas do Flamengo e o Clube de Regatas Vasco da Gama, estes dois últimos da cidade do Rio de Janeiro (Brasil). Do seu impressionante palmarés constam cerca de uma centena de títulos nacionais (!), divididos entre Portugal (78) e o Brasil (17). Com as cores nacionais o seu primeiro momento de glória aconteceu em 1989, quando no Campeonato do Mundo conquistou uma medalha de bronze juntamente com Luís Fonseca, Luís Teixeira, e José Leitão (na categoria quadricull). No entanto, o ponto mais alto da sua brilhante e ímpar carreira aconteceu em 1996, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, onde, como já vimos, integrou a equipa nacional que alcançou um 15º lugar na variante shell de 4.
Legenda das fotografias:
1-Emblema do Sporting Clube Caminhense
2-Uma das primeiras imagens (data desconhecida) do remo em Portugal
3-Alguns dos primeiros remadores do Caminhense
4-A equipa que se deslocou ao Rio de Janeiro para disputar os Jogos Luso-Brasileiros de 1963
5-Subidas ao pódio, um ritual no dia a dia do Caminhense
6-Henrique Baixinho, o maior ícone do remo português
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