A História do desporto está repleta de vitórias morais, daqueles momentos em que estivemos muito perto de tocar o céu, de nos tornarmos imortais, mas que na realidade acabamos por morrer na praia. É verdade que para essa mesma História quase sempre, para não dizer sempre, o que interessa são os vencedores, são eles que daqui a 100 ou 500 anos vão ser lembrados como pertencentes ao Olimpo dos Deuses do Desporto, ao passo que dos vencidos ninguém se irá lembrar.
No
entanto, há vencidos que merecem uma palavra de apreço, que pelo caminho que
trilharam até às portas do paraíso merecem ser lembrados quase como se
vencedores se tratassem. Isto para dizer que por vezes há vitórias morais que
pelo que significaram são quase tão importantes como um qualquer título. Esta
"teoria" leva-nos até um dos maiores feitos do andebol português no
plano internacional, um feito que esteve muito perto de se tornar num conto de
fadas.
Corria
o ano de 1994 quando aquela que era então a melhor equipa do panorama
andebolístico nacional alcançou a final da maior competição planetária de
clubes, a então Taça dos Campeões Europeus (TCE). Um feito então - e ainda hoje
- inimaginável alcançado pelo ABC de Braga.
Era
uma equipa fantástica que tinha como trunfo um coletivo muito forte que
raramente cometia erros e onde se destacava Viktor Tchikoulaev”, central de
origem ucraniana que posteriormente se tornou internacional português e que
seria o melhor marcador desta edição de 93/94 da TCE. A par deste craque outros
nomes impunham respeito no combinado bracarense, casos do guarda-redes Paulo
Morgado, de Konstantin Dolgov, de Vladimir Bolotskih, de Carlos Galambas, ou de
Eduardo Filipe, este último que dois anos antes havia sido uma das pedras fundamentais
na conquista do Campeonato da Europa por parte da seleção nacional de cadetes. Era
uma super equipa esta a do ABC, mas que teve o azar de na final da maior prova
do andebol planetário ao nível de clubes ter encontrado a melhor equipa do
Mundo daquela altura, os espanhóis do TEKA Santander, que contavam com grandes
nomes do andebol internacional, como o guarda-redes Mats Olsson, o pivô Jurij
Nesterov, o lateral Mikail Yakimovich ou o central Talant Dujshebaev.
Para
atingir a final o ABC foi 1.º classificado no seu grupo (na fase de grupos), o
qual contava com as equipas do Nimes, do Sandjjord e do Badel Zagreb. Outro dos
responsáveis pela ascensão do ABC no plano internacional foi sem dúvida o
treinador Aleksander Donner, que é ainda hoje para muitos o grande responsável
pela evolução do andebol em Portugal.
O
ABC vendeu muito cara essa final com o TEKA de Santander, como aliás comprovam
os resultados nas duas mãos do momento decisivo. Podemos dizer que a turma lusa
esteve em grande nível e no final caiu de pé, como um verdadeiro campeão. Em
Braga, na primeira mão, num Pavilhão Flávio Sá Leite repleto, registou-se um
empate a 22 golos, e no jogo de volta, em Santander o TEKA venceu por 23-21. A
grande estrela dos espanhóis, Talant Dujshebaev, e tido como o melhor
andebolista do planeta de então, disse mesmo que chegou a ficar nervoso, e que
a sua equipa acabou por ser bafejada por alguma ponta de sorte, dizendo mesmo
que não seria espanto nenhum se o ABC tivesse sido campeão da Europa, pois «tem
equipa para isso».
Para a história fica pois o título de... segunda melhor equipa do Mundo, como disse então o presidente do ABC, José Vieira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário