Santa Camarão pode até sido o primeiro grande ícone planetário do boxe português, subindo aos mais mediáticos rinques mundiais para enfrentar lendas como Primo Carnera, ou Max Schmeling, mas tempos antes da sua estrela brilhar uma outra já reluzia com intensidade no nosso país. Uma figura que com a sua arte, ou melhor, com a destreza e pontaria dos seus punhos, empolgava multidões em volta dos primitivos rinques do boxe português. Os (hoje) poucos e preciosos relatos que dão conta da sua carreira, definiam-no como um boxeur de fibra, entusiasmante, a tal ponto que ficaria eternizado como o Mestre. E mais do que isso ele foi um pioneiro, ou o pioneiro, no que concerne ao título de primeiro grande nome do boxe lusitano. Silva Ruivo, o seu nome, tido como o primeiro grande pugilista nacional, um homem cujo talento desportivo ajudou a cimentar a modalidade no nosso país ainda o século XX era uma criança.
José
da Silva Ruivo veio ao Mundo a 27 de fevereiro de 1893, tendo como berço o
Cadaval. Com apenas 15 anos decidiu que queria ser o primeiro nome consagrado
da então quase desconhecida - e descriminada - modalidade em Portugal, tudo
porque se deixou entusiasmar pelo mediatismo do grande combate do ano de 1908
entre Tommy Burls e Jack Jonhson, a contar para o campeonato do Mundo, um duelo
que teve eco em todo o planeta, de tal modo que o jovem Silva Ruivo quis seguir
as pisadas daqueles peso pesados. Não teve uma tarefa fácil, acima de tudo porque
o boxe era olhado de lado pelos portugueses, que o tinham como um desporto
violento. Mas Silva Ruivo lutou contra esse preconceito, dentro e fora dos
rinques, ao lado de outros nomes que então ajudaram a contornar a má fama da
modalidade, como Humberto Vieira Caldas, e Nascimento Liz, dois outros
pioneiros do boxe nacional. Silva Ruivo Lisboa começou por lutar ao serviço do
Sport Gimnásio, e mais tarde no Sport Club Progresso. À falta de clubes para
desenvolver o boxe ele próprio fundou algumas coletividades locais, onde foi o
verdadeiro Mestre para muitos que sonhavam seguir as suas pisadas em cima dos
rinques. Neste campo formou alguns nomes que ficariam para a história do boxe
luso, como Abel da Cunha, Silvestre Alves da Silva, Tavares Coutinho, Mário
Garcia, Simões Mendes, Raúl Castro, César Rumina, Henrique David, António
Cardoso, Silva Adães, ou Armando Correia. Silva Ruivo exibiu o seu talento não
só no nosso país, como também em Espanha, ou França, tornando-se no primeiro
pugilista profissional português. Foi campeão nacional de quatro categorias:
meios-leves, leves, e médios.
Ao
longo da sua carreira enfrentou grandes nomes do boxe internacional, casos dos
franceses Mário Gall, Martus, Jean André e Cadieux; os espanhóis Miró,
Armengol, Rojas e Americano; o canadiano Leducq e os americanos Jeck Haloon e
Harper.
Em
Portugal ficaram célebres os seus combates - em locais como o Parque Mayer, o Coliseu dos Recreios, a Praça de Touros do Campo Pequeno, ou no Palácio de Cristal - com compatriotas como Tavares
Crespo, Faustino Pereira, Ferreira Júnior, Reis Cosia, Manuel Guita e Silvestre
A. Silva, este último um antigo discípulo de Ruivo. A derradeira luta do
primeiro dinamizador do boxe em Portugal deu-se em 1924, ante o francês Sérge.
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