MANUEL
FARIA (Atletismo): Saborear pela primeira vez o doce gosto da vitória
é um momento memorável, seja qual for a modalidade. E mais épica e
inesquecível se torna caso tenha sido alcançada numa prova de
prestígio internacional, como é exemplo a tradicional Corrida de S.
Silvestre de São Paulo, a pioneira de todas as corridas de S.
Silvestre que hoje em dia se realizam em vários pontos do globo. Não
vamos entrar em detalhes históricos muito longos sobre a popular
corrida de rua que nasceu em 1925 na citada urbe brasileira, pela mão
do jornalista e advogado paulista Cásper Líbero, um milionário
entusiasta do fenómeno desportivo que numa viagem a Paris morreu de
encantos por uma corrida noturna realizada nas ruas da capital
francesa, tendo no regresso à sua pátria decidido ali implementar a
ideia. Vamos sim evocar o nome do primeiro herói lusitano a subir ao
lugar mais alto do pódio da afamada corrida noturna, recuando para
isso até 1956, ano em que Manuel Faria inscreveu pela primeira vez o
seu nome na prestigiada lista de vencedores do certame.
Nascido
em Abrantes, a 12 de dezembro de 1930, desenvolveu a sua aptidão –
e paixão – pelo atletismo ao serviço do clube do seu coração, o
Sporting, onde deu os primeiros passos enquanto atleta pela mão do
lendário Moniz Pereira. Entre 1950 e 1956, o ano da vitória na S.
Silvestre paulista, Manuel Faria arrecadou vários títulos de leão
ao peito, desde campeonatos nacionais de juniores nos 5000m e nos
1500m, campeonatos nacionais de corta-mato, a triunfos nas então
famosas estafetas Lisboa – Cascais, sendo que em alguns destes
títulos estabeleceu mesmo novos recordes nacionais. Sensivelmente
pelo meio (deste período), em 1954, viaja até São Paulo, para aí
correr pela primeira a Corrida de S. Silvestre, não indo porém além
do 40º lugar. Dois anos mais tarde voltou a São Paulo, desta vez
para ganhar! Por isso, a noite de 31 de dezembro de 1956 é histórica
para o atletismo português. Entre a partida, na Avenida Cásper
Líbero – precisamente o patrono desta corrida – e a chegada na
Rua da Conceição, o atleta português percorreu 7,4 km num registo
de 00,28,58m, estabelecendo também aqui um novo recorde. Mais do
que isso tornou-se no primeiro português a vencer a famosa S.
Silvestre de São Paulo, escrevendo assim (então) uma das páginas
mais pomposas do desporto nacional além fronteiras. Um ano mais
tarde, Manuel Faria volta a São Paulo, e de novo para ganhar a
corrida de S. Silvestre, desta feita o êxito teve contornos de
relevância ainda maiores, já que para trás o sportinguista deixou
alguns pesos pesados do atletismo de então, sendo o russo Vladimir
Kutz – então campeão olímpico e recordistas mundial nos 5000m e
10000m – o nome mais sonante que foi batido pelo corredor luso.
Recebido em Lisboa como um verdadeiro herói, o atleta continuou nos
anos seguintes a colecionar inúmeros títulos de campeão nacional –
de corta-mato (em que foi penta campeão nacional entre 1955 e 1959),
nos 5000m (em quatro ocasiões), 10000 (por três vezes) e nos 1500m.
Isto, para além de ter batido inúmeros recordes em várias
disciplinas do atletismo. Faleceu a 4 de agosto de 2004, com 73 anos.
Ainda sobre a Corrida de S. Silvestre de São Paulo, e em jeito de nota de rodapé, é de referir que só nos anos 80 Portugal voltaria a inscrever o seu nome na lista de vencedores, por intermédio de Carlos Lopes (1982 e 1984), Rosa Mota (entre 1981 e 1986, sendo que a menina da Foz é ainda hoje a atleta, na variante feminina da corrida, com mais vitória na prova) e Aurora Cunha (1988).
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