Foi nos "braços" da deslumbrante Paris que Portugal sentiu pela primeira vez o perfume de uma medalha olímpica. 1924 foi ano desse momento mágico do desporto lusitano, o ano em que um grupo formado por cavaleiros do exercito e cavaleiros civis conquistou então para o nosso país a primeira medalha no seio daquele que era já considerado por muitos como o maior evento desportivo do planeta: os Jogos Olímpicos.
Mas como é apanágio da nação portuguesa este foi um feito que esteve longe de ser alcançado com tranquilidade, digamos assim. Na entrada para os anos 20 do século passado Portugal vivia mergulhado numa grave recessão económica - onde é que já ouvimos isto! -, a moeda desvalorizava a pique ao mesmo tempo que o número de pedintes disparava como uma flecha nas artérias das principais urbes da nação. Cenário arrepiante que não impedia o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Pontes, de sonhar em levar a missão lusitana ao grande palco de desporto mundial.
Não foi contudo uma tarefa fácil, até porque o país estava de bolsos vazios, e a maior parte dos governantes não via com bons olhos dispensar os poucos recursos que dispunha para custear a deslocação portuguesa a Paris. José Pontes não desistiu, bateu a todas as portas que viu pela frente na tentativa de juntar os 300 contos calculados pelo COP no orçamento para tornar o sonho Paris uma realidade. Pediu "aqui e ali", suplicou a políticos que não virassem a cara ao sonho olímpico português, e do Ministério da Instrução acabou por receber uma ajuda de 110 contos. Não chegava. Fizeram-se peditórios, e a boa vontade do Presidente da República de então, Teixeira Gomes, acabou muito a custo por resolver a questão, ao colocar do seu próprio bolso o dinheiro que faltava para Portugal ir a Paris. Ao contrário do que sucedeu em 1900 Paris acolheu os Jogos Olímpicos com outra atitude, encarando-os de um modo mais sério... e pomposo.
Construíram-se novas infraestruturas, com realce para o magnífico Estádio des Colombes, e a piscina de Tourelles. Pela primeira vez na história do evento era edificada uma aldeia olímpica, um espaço reservado para alojar os atletas participantes. Não foram portanto poupados esforços, e francos (!), para que a bela Paris limpasse a má imagem deixada durante os Jogos Olímpicos de 1900. E Portugal lá estava, de bolsos vazios, mas lá estava, entre os melhores atletas do Mundo. A ambição de elevar o nome da nação bem alto era partilhada pela missão lusitana, onde se viria a destacar um grupo de quatro cavaleiros, constituído pelo capitão Mouzinho de Albuquerque, o tenente Hélder Martins, Aníbal Borges de Almeida, e Luís Margaride, quatro nomes que no hipismo haveriam de fazer história. Atribulada,seria no entanto esta façanha, como aliás havia sido a presença lusitana na capital francesa.
Hebraico, o famoso cavalo do melhor cavaleiro português da altura, Mouzinho de Albuquerque, adoecera pouco antes do início dos Jogos, pelo que teve de ser alimentado a açúcar até às vésperas da prova, privando-se da habitual ração que lhe conferia a energia suficiente para vencer os obstáculos. Outro dos cavalos do contingente luso havia sido... emprestado (!) por um abastado e solidário homem português, Reinaldo Pinto Bastos, de seu nome, que em prol da pátria cedeu o seu precioso animal. Mas, mesmo com todas estas adversidades Portugal surpreendeu tudo e todos ao conquistar o 3º lugar na prova de obstáculos.
Entre 50 concorrentes à partida 34 conseguiram terminar a dura prova, e o conjunto luso fê-lo no 3º lugar, com um total de 53 pontos somados, mais três do que a Suíça, ao passo que a Suécia ficou no 1º posto com um total de 42,5 pontos. Com este magnífico resultado Portugal conquistava a MEDALHA DE BRONZE, A SUA PRIMEIRA MEDALHA OLÍMPICA DA HISTÓRIA. E a cor da medalha até podia bem ter sido outra, caso o lendário Hebraico não tivesse adoecido dias antes do início da prova, conforme lamentaria posteriormente o grande cavaleiro português Mouzinho de Albuquerque, um dos artesãos desta inesquecível epopeia lusitana.
(Nota: em cima a histórica fotografia dos conquistadores da não menos histórica medalha de bronze em Paris: da esquerda para a direita: Luís Margaride, Mouzinho de Albuquerque, Manuel Latinos (chefe de equipa), Aníbal Borges de Almeida, e Hélder Martins).
Mas como é apanágio da nação portuguesa este foi um feito que esteve longe de ser alcançado com tranquilidade, digamos assim. Na entrada para os anos 20 do século passado Portugal vivia mergulhado numa grave recessão económica - onde é que já ouvimos isto! -, a moeda desvalorizava a pique ao mesmo tempo que o número de pedintes disparava como uma flecha nas artérias das principais urbes da nação. Cenário arrepiante que não impedia o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Pontes, de sonhar em levar a missão lusitana ao grande palco de desporto mundial.
Não foi contudo uma tarefa fácil, até porque o país estava de bolsos vazios, e a maior parte dos governantes não via com bons olhos dispensar os poucos recursos que dispunha para custear a deslocação portuguesa a Paris. José Pontes não desistiu, bateu a todas as portas que viu pela frente na tentativa de juntar os 300 contos calculados pelo COP no orçamento para tornar o sonho Paris uma realidade. Pediu "aqui e ali", suplicou a políticos que não virassem a cara ao sonho olímpico português, e do Ministério da Instrução acabou por receber uma ajuda de 110 contos. Não chegava. Fizeram-se peditórios, e a boa vontade do Presidente da República de então, Teixeira Gomes, acabou muito a custo por resolver a questão, ao colocar do seu próprio bolso o dinheiro que faltava para Portugal ir a Paris. Ao contrário do que sucedeu em 1900 Paris acolheu os Jogos Olímpicos com outra atitude, encarando-os de um modo mais sério... e pomposo.
Construíram-se novas infraestruturas, com realce para o magnífico Estádio des Colombes, e a piscina de Tourelles. Pela primeira vez na história do evento era edificada uma aldeia olímpica, um espaço reservado para alojar os atletas participantes. Não foram portanto poupados esforços, e francos (!), para que a bela Paris limpasse a má imagem deixada durante os Jogos Olímpicos de 1900. E Portugal lá estava, de bolsos vazios, mas lá estava, entre os melhores atletas do Mundo. A ambição de elevar o nome da nação bem alto era partilhada pela missão lusitana, onde se viria a destacar um grupo de quatro cavaleiros, constituído pelo capitão Mouzinho de Albuquerque, o tenente Hélder Martins, Aníbal Borges de Almeida, e Luís Margaride, quatro nomes que no hipismo haveriam de fazer história. Atribulada,seria no entanto esta façanha, como aliás havia sido a presença lusitana na capital francesa.
Hebraico, o famoso cavalo do melhor cavaleiro português da altura, Mouzinho de Albuquerque, adoecera pouco antes do início dos Jogos, pelo que teve de ser alimentado a açúcar até às vésperas da prova, privando-se da habitual ração que lhe conferia a energia suficiente para vencer os obstáculos. Outro dos cavalos do contingente luso havia sido... emprestado (!) por um abastado e solidário homem português, Reinaldo Pinto Bastos, de seu nome, que em prol da pátria cedeu o seu precioso animal. Mas, mesmo com todas estas adversidades Portugal surpreendeu tudo e todos ao conquistar o 3º lugar na prova de obstáculos.
Entre 50 concorrentes à partida 34 conseguiram terminar a dura prova, e o conjunto luso fê-lo no 3º lugar, com um total de 53 pontos somados, mais três do que a Suíça, ao passo que a Suécia ficou no 1º posto com um total de 42,5 pontos. Com este magnífico resultado Portugal conquistava a MEDALHA DE BRONZE, A SUA PRIMEIRA MEDALHA OLÍMPICA DA HISTÓRIA. E a cor da medalha até podia bem ter sido outra, caso o lendário Hebraico não tivesse adoecido dias antes do início da prova, conforme lamentaria posteriormente o grande cavaleiro português Mouzinho de Albuquerque, um dos artesãos desta inesquecível epopeia lusitana.
(Nota: em cima a histórica fotografia dos conquistadores da não menos histórica medalha de bronze em Paris: da esquerda para a direita: Luís Margaride, Mouzinho de Albuquerque, Manuel Latinos (chefe de equipa), Aníbal Borges de Almeida, e Hélder Martins).
Nenhum comentário:
Postar um comentário