Olivério Serpa com o troféu de campeão mundial |
Popular
a nível internacional pelo seu Festival de Jazz; por albergar estátua do
falecido e icónico vocalista da banda Queen, Freddie Mercury; e claro, pelo
hóquei em patins - onde é disputado anualmente o mítico Torneio de Montreux -,
a cidade helvética recebeu nove seleções nesse ano de 1948 para disputar não só
o Mundial como também o Campeonato da Europa, tendo em conta que na época ambas
as competições se disputavam no mesmo torneio! Além da equipa da casa, a prova
contou com a França, Espanha, Bélgica, Itália, Inglaterra, Holanda, Portugal e
Egito, a única seleção não europeia. O certame, disputado entre os dias 24 e 30
de março de citado ano, foi desenrolado num sistema de "todos contra
todos", sagrando-se campeã a seleção que somasse mais pontos ao longo
deste mini-campeonato que tinha a particularidade de ter a competir o maior
número de seleções (9) em quatro edições.
Na
antevisão deste campeonato o jornalista da revista Stadium, Jorge Monteiro, opinava que a tarefa dos lusos para
renovar o título não se afigurava fácil, tendo em conta que estes iriam ter
pela frente oito turmas «qual delas a
melhor apetrechada para o assalto, que certamente lutarão estoicamente para
destronarem os campeões». Apesar deste aviso, o jornalista frisava que
mesmo perante a forte concorrência não se devia duvidar da nossa seleção, lembrando
que a crise moral dos portugueses na sequência de uma recente derrota ante o
vizinho e eterno rival, a Espanha, estaria sanada e que os hoquistas lusos eram
bem capazes de regressarem da Suíça vitoriosos.
A comitiva lusa antes do embarque para a Suíça |
Quis
os sorteio que os lusos defrontassem no penúltimo dia da competição dois dos
candidatos ao cetro mundial, a Espanha e a Itália, ao passo que para o
derradeiro dia do campeonato Portugal media forças com outra das grandes potência
da modalidade na altura, a Inglaterra, duas vezes campeão mundial.
Para
Montreux o selecionador nacional José Prazeres levava os seguintes jogadores:
Emídio Pinto, Manuel Soares, Olivério Serpa, Sidónio Serpa, Jesus Correia, Correia
dos Santos, Cipriano Santos, e António Raio. Em relação ao Mundial de 47 duas
novidades na convocatória, Raio e Manuel Soares, que substituíam António Soares
e Álvaro Simões.
A seleção nacional que em 1948 sagrou-se bi-campeã mundial |
A Stadium esteve no Aeroporto da Portela para se despedir da comitiva lusa, que integrava ainda o árbitro Martins Correia, tendo trocado algumas palavras com os nossos selecionados. «Confiantes, contagiando com o seu entusiasmo todos quantos os foram ver partir ao Aeroporto da Portela, os rapazes do grupo nacional de hóquei instalaram-se no potente avião da KLM, sorridentes e garantindo-nos que hão-de regressar vitoriosos (...) José Prazeres, o selecionador nacional, garantiu-nos que: os rapazes vão cheios de fé e animados pela confiança na vitória. Manteremos o nível de classificação compatível com os lugares conquistados anteriormente. E posso-lhe garantir que defenderão o título com o maior entusiasmo (...) Regressarão campeões? Porque não? No entanto é sempre arriscado fazerem-se prognósticos num torneio de tanta responsabilidade como este campeonato do Mundo. Mas há um pormenor que lhe posso garantir: a equipa regressará honrada pelas suas exibições e o nome do nosso país será em Montreux condignamente representado por este grupo de rapazes plenos, de entusiasmo, de fé, e especialmente bem portugueses». Na despedida à seleção lusa uma adepta muito especial, a avó de Olivério Serpa, um dos craques da nossa seleção, uma senhora que do alto dos seus 90 anos nunca falta a um evento de hóquei em patins, de acordo com a Stadium. Olivério Serpa que era o capitão da turma lusa, ele que à reportagem da revista deixava claro que a equipa nacional ia para a Suíça «com coragem e energia suficientes para defendermos o nosso título de campeões. Concordo que a empresa é de grande responsabilidade, mas não será surpresa se regressarmos com o honroso título com que agora seguimos para Montreux».
Um jogo desse Mundial de 48 |
O presidente da Federação Internacional entrega a taça a Olivério Serpa |
A receção aos campeões do Mundo foi apoteótica em Lisboa. A comitiva lusa seria homenageada, já em solo luso, dias mais tarde, num Pavilhão dos Desportos repleto de público. Ainda na pista do Aeroporto da Portela os jogadores foram agarrados por uma multidão em profunda euforia e levados em ombros como verdadeiros heróis. «Através das ruas de Lisboa, entre filas de povo, de gente de todos os setores sociais, os triunfadores não cessavam de receber aclamações. E a manifestação culminou em apoteose - que era ainda a do primeiro ato de uma grande peça... quando se atingiu o Ministério da Educação Nacional. Aí foi o delírio! Ao assomarem a janela do edifício - já depois de recebidos os agradecimentos da nação - os campeões do Mundo puderam verificar, com satisfação, quanto o seu feito era apreciado; a multidão em coro, sem que para tal tivesse sido solicitada, rompeu a cantar o hino nacional! Era Portugal inteiro a vibrar de contentamento pela voz humilde do povo de Lisboa!», retratava a Stadium que dava ainda conta que os primos Jesus Correia e Emídio Pinto foram também recebidos apoteoticamente em Paço de Arcos, a sua terra, e que o mesmo aconteceu em Sintra com Raio.
A receção aos campeões no Ministério da Educação |
Nenhum comentário:
Postar um comentário