segunda-feira, 5 de agosto de 2024

De Espinho a Los Angeles com o bronze (olímpico) como ponto alto de uma carreira que foi curta demais

Os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, foram dos mais produtivos no que diz respeito a medalhas para o desporto português. No total arrecadámos três medalhas, e todas elas no atletismo por intermédio de três dos maiores vultos da modalidade: Carlos Lopes (ouro na maratona), Rosa Mota (bronze, também na maratona) e António Leitão (bronze nos 5000m). Esta performance só seria superada nos Jogos de Tóquio, em 2020, quanto trouxemos para casa quatro medalhas, por intermédio de Jorge Fonseca (judo), Patrícia Mamona (atletismo), Fernando Pimenta (canoagem) e Pedro Pablo Pichardo (atletismo). Mas regressemos a Los Angeles, onde há 40 anos a esta parte um dos maiores fundistas da nossa história viveu o ponto alto da sua notável carreira ao conquistar uma medalha olímpica. António Leitão, assim se chamava este homem nascido em Espinho a 22 de julho de 1960. Leitão começou a evidenciar o seu talento para as corridas na sua terra natal, tendo dados os primeiros passos no Núcleo dos Amigos do Sporting Clube de Espinho e posteriormente passado para este que é o emblema mais representativo desta localidade. Em 1979 tornou-se no primeiro atleta português a conquistar uma medalha nos Europeus de atletismo no escalão de juniores, nesse ano realizados em Bydogoszcz (Polónia), de onde trouxe o bronze. Este êxito fê-lo deixar o clube da sua terra para assinar com o gigante Benfica, clube cujas cores defendeu durante a restante carreira. Ao serviço das águias foi 7 vezes campeão nacional de pista por equipas (80, 82, 83, 84, 86, 89, 90), penta campeão europeu de estrada por equipas (88, 89, 90, 91 e 92), 2 vezes campeão nacional de corta-mato por equipas (81 e 90), e campeão nacional de estrada por equipas (91). O seu maior feito foi, porém, a medalha de bronze nos 5000m dos Jogos Olímpicos, após ter ficado no terceiro posto de uma corrida épica. Leitão era um especialista nesta disciplina do atletismo, como recordou anos mais tarde outro ícone da modalidade, Carlos Lopes: «Ele conhecia muito bem esta distância, tinha velocidade, e toda a sua corrida era dinâmica, ajustada a ritmos fortes». Em Los Angeles, o também português Ezequiel Canário foi o primeiro a dar nas vistas na prova dos 5000m, impondo um ritmo fortíssimo, sendo que posteriormente surgiu António Leitão, que fez de tudo para evitar que alguém o surpreendesse nas últimas voltas, O luso tinha o ouro na mente. Andou sempre no trio da frente e só nos metros finais descolou dos dois primeiros classificados. Tudo porque o marroquino Said Aouita fez a corrida da sua vida, e confirmou aqui o porquê de ser considerado o melhor corredor mundial de pista dos finais dos anos 80. Aouita bateu Leitão e ficou com o ouro, sendo que o suíço Markus Ryffel superou o português quase em cima da meta, arrecadando desta forma a prata. António Leitão teve de resignar-se com o bronze (com um registo de 13.09,20 minutos), que mesmo assim foi memorável. 1984 foi mesmo um ano memorável para o atleta natural de Espinho, já que contribuiu para que a seleção portuguesa garantisse o 3.º lugar por equipas no Mundial de Corta-Mato, realizado em Nova Iorque. As lesões e acima de tudo uma doença rara fizeram com que a sua carreira terminasse cedo de mais. Com apenas 31 anos deixou as pistas, devido a uma doença rara denominada de hemocromatose, que faz o corpo absorver ferro em excesso e provoca depósitos desse material em diversos órgãos, danificando-os a ponto de causar morte prematura. Faleceu, pois, muito novo, com 51 anos, no dia 18 de março de 2012.                    

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