terça-feira, 18 de outubro de 2022

Há 30 anos o andebol português deu-se a conhecer de forma surpreendente à Europa

A seleção portuguesa que em 1992 sagrou-se campeã da Europa de cadetes

Nos últimos anos o andebol português subiu vários degraus na escadaria da qualidade, tanto ao nível de clubes, como ao nível de seleções. A presença nas grandes provas internacionais não surpreende hoje ninguém que acompanha de perto a modalidade, mas há 30 anos atrás era impensável, por exemplo, ver a seleção nacional a disputar um torneio olímpico - como aconteceu em Tóquio 2020 - ou ver clubes lusitanos a participar sistematicamente, e com brilhantismo, na Liga dos Campeões Europeus.  

Há três décadas um título internacional de andebol, fosse me que escalão fosse era motivo de festa, de orgulho... e de alguma estupefação. Pois bem, tudo isto aconteceu em 1992, há precisamente 30 anos, quando a seleção nacional de cadetes masculinos venceu o Campeonato da Europa da categoria, disputado em Winterthur (Suíça).

Foi a primeira edição do certame continental no escalão de sub-18/cadetes, e chegar à fase final já era por si um feito heroico para o então modesto - a nível internacional - andebol lusitano. Na fase de qualificação, disputada na cidade francesa de Lyon, a seleção lusa afastou a França (vitória por 18-17) e a Suécia (novo triunfo, desta feita por 25-14), duas potências da modalidade, há que sublinhá-lo.

Perante este feito Portugal integrava o lote de finalistas do 1.º Campeonato da Europa de Cadetes da EHF (European Handball Federation). Estar ali, entre as grandes potências do andebol continental já era, para muitos, o prémio maior para esta jovem geração de atletas, brilhantemente comandada pelo lendário técnico romeno Mirecea Costache, que enquanto jogador foi campeão do Mundo em 1961 e 1964. Até porque o grupo que em sorte calhou aos lusos não era pêra doce: Rússia, Alemanha e Israel. Os andebolistas portugueses não se amedrontaram, pelo contrário, e no primeiro jogo da fase final bateram por 21-17 uma seleção israelita que contava com vários jogadores russos naturalizados. Mas a surpresa maior aconteceu na jornada seguinte, com a potência mundial Rússia a ser derrotada pelos portugueses por 19-13, e a partir daqui a Europa do andebol, pelo menos no escalão de cadetes, começou a olhar com outros olhos para Portugal. Afinal, a presença no Europeu não havia sido obra do acaso. Mesmo a derrota - injusta, segundo críticos da época - com a outra superpotência em prova, a Alemanha, por 21-22, não impediu os pupilos de Costache de seguirem para as meias finais do campeonato. Nesta fase a eliminar seguiu-se outra grande potência europeia, a Noruega, que foi despachada em mais uma épica partida por 28-27. E como quem não quer a coisa, Portugal estava na grande final do Europeu, onde teria pela frente uma Rússia com sede de vingança pelo desaire surpreendente na fase de grupos.

E o que aconteceu na grande final foi mais um capítulo épico. Após um empate no tempo regulamentar (24-24), os portugueses venceram no prolongamento por 30-26, sagrando-se contra todas as previsões campeões da Europa (!)... quando nem sequer eram candidatos a estar na fase final. É esta a beleza do desporto, é uma "ciência" imprevisível.

Para a história do andebol nacional ficam os seguintes nomes: Sérgio Morgado, Rui Nunes, Carlos Silva, Eduardo Filipe, Fernando Nunes, Miguel Póvoas, Rui Oliveira, Paulo Vieira, Armando Gonçalves, Miguel Fernandes, Jorge Menezes, Ricardo Viela, Marco Tonicher, Danilo Ferreira, Nuno Guerra, Lino Nunes, Hélder Leal e Mircea Costache - estes dois últimos treinadores. Todos eles os campeões europeus de cadetes masculinos em 1992.