quarta-feira, 7 de abril de 2021

No Vale da Morte (na Califórnia) o ultramaratonista Carlos Sá escreveu uma página dourada do desporto português

Este é daqueles feitos que merece figurar no livro dos recordes, desde logo pela extrema dificuldade que a si agrega. Um feito que roça a superação das forças humanas, atingindo o espírito da persistência e do sacrifício só possível de ser alcançado pelos super atletas. Hoje visitamos o épico triunfo de um atleta português numa das mais duras e seletivas provas mundiais de uma modalidade para homens (e mulheres) de "barba rija", como se costuma dizer na gíria sempre que pela frente temos um obstáculo dificílimo de superar. 

Sem mais demoras viajemos até Dead Valey (o Vale da Morte), nos Estados Unidos da América, onde desde 1987 se realiza a duríssima ultramaratona Badwater. E eis que na edição de 2013 a vitória sorriu a um português. Carlos Sá de seu nome, um nome que graças a este feito passou a ter o estatuto de lenda. Nascido na véspera do Natal de 1973 na freguesia de Vilar do Monte, no Concelho de Barcelos, Carlos Alberto Gomes de Sá percebeu aos 12 anos de idade que a corrida era uma paixão e desde pronto calcou as sapatilhas para começar a construir uma carreira notável. Munido de um espírito de sacrifício e aventureiro Carlos tornou-se num atleta de eleição. A aposta nos ultra trails dá-se por volta de 2008, altura em que se inicia nas ultramaratonas com a presença na Ultra Trail da Geira, prova com 45 km em que se classificou  em 2.º lugar e onde confirmou as suas qualidades como um atleta de grande resistência. A partir daqui os ultra trails foram uma constante na sua carreira, somando vitórias e posições de destaque em diversas provas nacionais e internacionais. 

Até que chegamos a 2013, ano em que o atleta luso decide participar naquela que é tida como a mais dura das ultramaratonas internacionais, a Badwater Ultramarathon, na Califórnia. Então com 39 anos, o atleta de Barcelos alcançou ali o maior feito de um atleta português em corridas extremas de longa distância, terminando em 1.º lugar uma prova com 217 quilómetros (percorridos numa única etapa) e que liga os pontos mais baixo e mais alto do território continental dos Estados Unidos da América. Até às 90 milhas da prova o atleta luso dividiu a liderança da prova que contou com 97 competidores de 22 nacionalidades diferentes, sendo que nos quilómetros seguintes Carlos Sá conseguiu isolar-se e chegar à subida final com uma vantagem que lhe permitiu fazer uma gestão da corrida, terminando assim a prova no 1.º lugar. A vitória em Badwater, no calor tórrido do deserto da Califórnia, consagrou-o como um dos melhores do Mundo nesta corrida dura e onde os índices de desistências são sempre elevados, ou não estivéssemos perante uma prova realizada sob extremas condições climatéricas – a região do deserto do Vale da Morte detém inclusivamente o recorde como o ponto mais quente da Terra (56,7 graus Celsius, no dia 10 de julho de 1913). 16 de julho de 2013 é assim um dia que fica gravado a letras de ouro na história de Carlos Sá e do desporto nacional. 

Vídeo: Reportagem da vitória de Carlos Sá em Dead Valley