quarta-feira, 11 de abril de 2018

Flashes Biográficos (2)... Manuel Faria

MANUEL FARIA (Atletismo): Saborear pela primeira vez o doce gosto da vitória é um momento memorável, seja qual for a modalidade. E mais épica e inesquecível se torna caso tenha sido alcançada numa prova de prestígio internacional, como é exemplo a tradicional Corrida de S. Silvestre de São Paulo, a pioneira de todas as corridas de S. Silvestre que hoje em dia se realizam em vários pontos do globo. Não vamos entrar em detalhes históricos muito longos sobre a popular corrida de rua que nasceu em 1925 na citada urbe brasileira, pela mão do jornalista e advogado paulista Cásper Líbero, um milionário entusiasta do fenómeno desportivo que numa viagem a Paris morreu de encantos por uma corrida noturna realizada nas ruas da capital francesa, tendo no regresso à sua pátria decidido ali implementar a ideia. Vamos sim evocar o nome do primeiro herói lusitano a subir ao lugar mais alto do pódio da afamada corrida noturna, recuando para isso até 1956, ano em que Manuel Faria inscreveu pela primeira vez o seu nome na prestigiada lista de vencedores do certame.
Nascido em Abrantes, a 12 de dezembro de 1930, desenvolveu a sua aptidão – e paixão – pelo atletismo ao serviço do clube do seu coração, o Sporting, onde deu os primeiros passos enquanto atleta pela mão do lendário Moniz Pereira. Entre 1950 e 1956, o ano da vitória na S. Silvestre paulista, Manuel Faria arrecadou vários títulos de leão ao peito, desde campeonatos nacionais de juniores nos 5000m e nos 1500m, campeonatos nacionais de corta-mato, a triunfos nas então famosas estafetas Lisboa – Cascais, sendo que em alguns destes títulos estabeleceu mesmo novos recordes nacionais. Sensivelmente pelo meio (deste período), em 1954, viaja até São Paulo, para aí correr pela primeira a Corrida de S. Silvestre, não indo porém além do 40º lugar. Dois anos mais tarde voltou a São Paulo, desta vez para ganhar! Por isso, a noite de 31 de dezembro de 1956 é histórica para o atletismo português. Entre a partida, na Avenida Cásper Líbero – precisamente o patrono desta corrida – e a chegada na Rua da Conceição, o atleta português percorreu 7,4 km num registo de 00,28,58m, estabelecendo também aqui um novo recorde. Mais do que isso tornou-se no primeiro português a vencer a famosa S. Silvestre de São Paulo, escrevendo assim (então) uma das páginas mais pomposas do desporto nacional além fronteiras. Um ano mais tarde, Manuel Faria volta a São Paulo, e de novo para ganhar a corrida de S. Silvestre, desta feita o êxito teve contornos de relevância ainda maiores, já que para trás o sportinguista deixou alguns pesos pesados do atletismo de então, sendo o russo Vladimir Kutz – então campeão olímpico e recordistas mundial nos 5000m e 10000m – o nome mais sonante que foi batido pelo corredor luso. Recebido em Lisboa como um verdadeiro herói, o atleta continuou nos anos seguintes a colecionar inúmeros títulos de campeão nacional – de corta-mato (em que foi penta campeão nacional entre 1955 e 1959), nos 5000m (em quatro ocasiões), 10000 (por três vezes) e nos 1500m. Isto, para além de ter batido inúmeros recordes em várias disciplinas do atletismo. Faleceu a 4 de agosto de 2004, com 73 anos. 
Ainda sobre a Corrida de S. Silvestre de São Paulo, e em jeito de nota de rodapé, é de referir que só nos anos 80 Portugal voltaria a inscrever o seu nome na lista de vencedores, por intermédio de Carlos Lopes (1982 e 1984), Rosa Mota (entre 1981 e 1986, sendo que a menina da Foz é ainda hoje a atleta, na variante feminina da corrida, com mais vitória na prova) e Aurora Cunha (1988).

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