sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Quando o ABC esteve à porta do paraíso... mas não conseguiu lá entrar!


A História do desporto está repleta de vitórias morais, daqueles momentos em que estivemos muito perto de tocar o céu, de nos tornarmos imortais, mas que na realidade acabamos por morrer na praia. É verdade que para essa mesma História quase sempre, para não dizer sempre, o que interessa são os vencedores, são eles que daqui a 100 ou 500 anos vão ser lembrados como pertencentes ao Olimpo dos Deuses do Desporto, ao passo que dos vencidos ninguém se irá lembrar.

No entanto, há vencidos que merecem uma palavra de apreço, que pelo caminho que trilharam até às portas do paraíso merecem ser lembrados quase como se vencedores se tratassem. Isto para dizer que por vezes há vitórias morais que pelo que significaram são quase tão importantes como um qualquer título. Esta "teoria" leva-nos até um dos maiores feitos do andebol português no plano internacional, um feito que esteve muito perto de se tornar num conto de fadas.

Corria o ano de 1994 quando aquela que era então a melhor equipa do panorama andebolístico nacional alcançou a final da maior competição planetária de clubes, a então Taça dos Campeões Europeus (TCE). Um feito então - e ainda hoje - inimaginável alcançado pelo ABC de Braga.

Era uma equipa fantástica que tinha como trunfo um coletivo muito forte que raramente cometia erros e onde se destacava Viktor Tchikoulaev”, central de origem ucraniana que posteriormente se tornou internacional português e que seria o melhor marcador desta edição de 93/94 da TCE. A par deste craque outros nomes impunham respeito no combinado bracarense, casos do guarda-redes Paulo Morgado, de Konstantin Dolgov, de Vladimir Bolotskih, de Carlos Galambas, ou de Eduardo Filipe, este último que dois anos antes havia sido uma das pedras fundamentais na conquista do Campeonato da Europa por parte da seleção nacional de cadetes. Era uma super equipa esta a do ABC, mas que teve o azar de na final da maior prova do andebol planetário ao nível de clubes ter encontrado a melhor equipa do Mundo daquela altura, os espanhóis do TEKA Santander, que contavam com grandes nomes do andebol internacional, como o guarda-redes Mats Olsson, o pivô Jurij Nesterov, o lateral Mikail Yakimovich ou o central Talant Dujshebaev.

Para atingir a final o ABC foi 1.º classificado no seu grupo (na fase de grupos), o qual contava com as equipas do Nimes, do Sandjjord e do Badel Zagreb. Outro dos responsáveis pela ascensão do ABC no plano internacional foi sem dúvida o treinador Aleksander Donner, que é ainda hoje para muitos o grande responsável pela evolução do andebol em Portugal.

O ABC vendeu muito cara essa final com o TEKA de Santander, como aliás comprovam os resultados nas duas mãos do momento decisivo. Podemos dizer que a turma lusa esteve em grande nível e no final caiu de pé, como um verdadeiro campeão. Em Braga, na primeira mão, num Pavilhão Flávio Sá Leite repleto, registou-se um empate a 22 golos, e no jogo de volta, em Santander o TEKA venceu por 23-21. A grande estrela dos espanhóis, Talant Dujshebaev, e tido como o melhor andebolista do planeta de então, disse mesmo que chegou a ficar nervoso, e que a sua equipa acabou por ser bafejada por alguma ponta de sorte, dizendo mesmo que não seria espanto nenhum se o ABC tivesse sido campeão da Europa, pois «tem equipa para isso».

Para a história fica pois o título de... segunda melhor equipa do Mundo, como disse então o presidente do ABC, José Vieira.

Algumas imagens da final (das duas mãos) da TCE de 1994 entre o ABC e o TEKA