quinta-feira, 8 de julho de 2021

No berço das Olimpíadas Sérgio Paulinho sprintou para a prata

Foi em Atenas que em 1896 se escreveu o primeiro capítulo da história dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Mais de um século depois a capital grega foi novamente escolhida para sediar aquele que é indiscutivelmente um dos maiores acontecimentos do globo. Olimpíadas estas de boa memória para o desporto português já que um pouco contra os prognósticos o herói que iremos recordar nas próximas linhas conquistou mais uma medalha para o nosso medalheiro olímpico. Estávamos a 14 de agosto de 2004, apenas o segundo dia da XXVIII Olimpíada, e nas ruas de Atenas arrancava a prova de estrada em ciclismo. A equipa portuguesa, selecionada por José Poeira, era composta por quatro ciclistas, nomeadamente Cândido Barbosa, Nuno Ribeiro, Gonçalo Amorim e Sérgio Paulinho. Para tentar chegar a uma medalha o quarteto luso tinha pela frente um duro obstáculo 17 voltas ao circuito de 13,2 quilómetros desenhado no centro de Atenas, num total de 224 quilómetros. O dia era de muito calor, e o ciclista português em que estavam depositadas as maiores esperanças para atingir um bom resultado acaba por desistir. Pois é, Cândido Barbosa, conhecido como o "Foguete de Rebordosa", cedeu ao desgaste e acabou por sucumbir. Mas a grande surpresa acabaria por chegar por intermédio de um dos improváveis (candidatos a um bom resultado) atletas da seleção lusitana, Sérgio Paulinho, de apenas 24 anos, que no seu ainda curto currículo carregava a coroa de ser o então atual campeão nacional de contra-relógio e contar igualmente com um par de vitórias na Volta a Portugal. Ninguém esperava que o então inexperiente ciclista pudesse chegar tão longe como chegou naquela tórrida tarde de 4 de agosto. A três voltas do fim da corrida Paulinho - que defendia na época as cores LA Alumínios - começa a mostrar-se, ao chegar-se à frente para fazer companhia ao italiano Paolo Bettini, duas vezes campeão do mundo. Com os favoritos espanhóis já fora da discussão pelas medalhas, as duas últimas voltas foram decisivas. 15 anos mais tarde, numa entrevista ao Observador, Sérgio Paulinho lembra-se das últimas duas voltas, «que foram muito rápidas. Só eu consegui seguir o ataque do Bettini, e depois aguentei-me». Na roda do italiano, o português lembrou ainda que a chegar à meta «já vinha com cãibras, mas ainda assim tentei surpreender aquele que era o melhor do mundo em corridas de um dia. Era difícil batê-lo, mas a esperança era sempre a última a morrer». A poucos metros da meta Bettini sprintou para a medalha de ouro, para apenas um segundo depois Sérgio Paulinho cortar a meta e ser premiado com a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, a primeira para o ciclismo português em Olimpíadas. Paulinho terminou a prova com o tempo de 5h41m45s. No terceiro lugar ficou o belga Axel Merckx, filho do mítico ciclista Eddy Merckx. Para sempre ficará na memória de todos o momento em que Sérgio Paulinho se baixou para receber a medalha de prata e depois recebeu a coroa de folhas de oliveira, histórica manifestação grega para condecorar os vencedores das diversas provas nos primeiros Jogos.

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